O SENHOR CALDAS É O MELHOR TREINADOR DE RINGUE PORTUGUÊS E É UM PILAR NA MINHA VIDA
Tiago
Rodrigues, é o pugilista mais “antigo” do circuito do Boxe Amador Português,
sendo por consequência um dos atletas com mais anos de Boavista. Homem de dedicação
extrema, treina com intensidade, para terminar a carreira com o Título (individual)
de Campeão Nacional, que as lesões lhe têm roubado.
Terminado um
treino, conversamos com este exemplo de pugilista.
Tiago, que
idade tem?
Quarenta anos.
Qual a
categoria em que luta?
Sou super-pesado.
Pelo que
tive oportunidade de me aperceber, é um dos pugilistas com mais tempo de casa. Confirma?
Em tempo
consecutivo, estou no Boavista há oito anos, mas já estive alguns anos ausentes
por lesões, por isso, contado com o tempo intercalado, estou mesmo há muitos
anos.
E no Boxe,
quando começou?
Comecei na
modalidade relativamente tarde, com cerca de vinte e sete anos.
Começou no
Boavista?
Comecei. Porque
quem me ensinou o boxe foi um atleta de longos anos do Boavista. Foi ele que me
trouxe com ele para o clube.
Falamos de
quem?
Do Ricardo
Rocha.
Voltemos à
sua entrada no boxe…
Como nessa altura eu não estava inscrito por nenhum clube, na tal fase de interregno, por
motivos de uma lesão muito grave que tive, o Italiano e o Augusto Pinheiro,
trouxeram outra vez para o Boavista. E a partir desse regresso, foi sempre
seguido.
Como surgiu
no boxe somente aos vinte e sete anos?
Sempre gostei
do boxe, mas o boxe foi sempre um bocadinho conectado com uma parte menos boa
da sociedade, digamos assim. Com o passar dos tempos, fui-me apercebendo
que era um preconceito, que hoje se prova, é totalmente errado.
O senhor, se
vier aqui, depois das dezassete e trinta, vê que temos aqui professores universitários, professores de escola primária, engenheiros, médicos,
empresários, etc… e todos nós, convivemos com eles e com o pessoal de
competição, numa convivência sã e de camaradagem.
Os pugilistas
costumam realçar a amizade que têm uns pelos outros. Qual a sua opinião sobre
este tema?
No boxe, há
um espírito de lealdade que não há em mais nenhum desporto. Há um sentimento de
liberdade no fim de cada treino, que nem consigo descrever. Como vê até me estou
a arrepiar ao afirmar isto. Não há descrição possível.
O boxe, não é, só bom em
termos de saúde física, a grande interferência do boxe sobre nós é em termos
mentais, porque pelos movimentos que nos obriga a ter, ajuda o corpo a
libertar-se, ao mesmo tempo que liberta a mente.
Muita gente não repara mas o
boxe é um jogo de muita inteligência, em que a cabeça tem que comandar na
perfeição todo o resto do corpo. Quando se consegue fazer entrar em harmonia
todos os factores físicos, os grandes atletas aparecem.
Neste momento,
continua a competir?
Continuo. Sou
o atleta mais velho do circuito e estou na minha última época. Conforme já
citei numa entrevista passada, vim de lesões muito graves, mas graças a Deus,
já me sinto recuperado, já jogo bem e ultrapassei as minhas limitações. Tive lesões
graves e depois do meu retorno essas lesões repetiram-se, mas estou recuperado.
Títulos individuais?
Desde que
regressei, tenho sido sempre Campeão Regional, Campeão Regional da Taça de
Portugal, Vice-Campeão Nacional. Tenho ido, sempre às finais nacionais, e acho
que as duas últimas, que perdi, as perdi muito injustamente, como se pôde ver na
televisão.
Este ano, vou tentar ajudar a conquistar os títulos colectivos, não
esquecer que o Boavista é penta-campeão nacional de clubes.,,
Aposta no
título nacional, para encerrar a carreira?
Exactamente.
Treino para vencer o título de Campeão,
que seria a chave de ouro para fechar a carreira. Seria acabar a carreira em
beleza, até porque já fiz as quatro categorias. Já combati em 81, em 91 e mais
de 91Kg.
Com tantas
épocas no Boavista, quer fazer uma comparação dos tempos que entrou e a
actualidade?
Eu próprio
estou admirado com a frequência de atletas no boxe do Boavista. Umas vezes
venho de manhã, outras de tarde. Numa dessas tardes, contei aqui, quarenta e oito
atletas entre competição e manutenção. O ginásio já se torna pequeno para tanta
gente.
Mas as
condições melhoraram muito com a criação deste ginásio. Não concorda?
Muito mas
mesmo muito em espaço e qualidade, mas já se torna pequeno, para aquilo que o
boxe tem, no momento. Acho que a Cúpula do Clube, deveria passar por aqui para
se aperceber desta realidade.
A que se
deve tanto crescimento?
Mesmo as
pessoas que só fazem manutenção, gostam muito do Senhor Caldas, gostam muito
dos preparadores físicos que temos, o David e o Fredy que são pessoas
excepcionais, que sabem apropriar o treino a cada tipo de pessoa. Por exemplo,
um empresário que passa a vida no escritório, naquela vida stressante, é um individuo
que não pode sair daqui com pisaduras ou coisas do género. Por isso, há sempre
um tipo de treino específico para este caso.
Com este
vício que sente pelo boxe, o que pensa fazer depois de terminara a carreira?
Gostava de
ficar a ajudar o senhor Caldas, a ensinar os mais novos , que eu gosto muito de
fazer. Gosto de os mimar, de lhe dar confiança para o ringue. Olhe vou-lhe
dizer algo que nem deveria dizer isso, agora, porque só deveria dizer mais
daqui a uns anos. Temos aqui miúdos que irão ser grandes atletas que me tratam
de forma que me emociona e que aposto irão ser grandes no boxe. O João, o Melo,
o Vitinha, são miúdos muito fortes que vão dar cartas não só no Boavista.
Aposta neles?
O João, vai
ser um portento a nível internacional, veja bem o que eu estou a dizer…a nível
internacional.
O João vem quase todos os dias de Viana do Castelo ao Porto só
para treinar. Veja quem é este miúdo e a força de vontade dele. Tem excelentes
notas na escola, não se lhe ouve dizer um palavrão…é um exemplo. E é com eles, que eu quero trabalhar.
Estes três miúdos que mencionei, irão ser o orgulho do
Boavista e a muito breve prazo.
Vi que entre
você e o senhor Caldas há uma relação muito especial. Quem é o Caldas para si?
Para mim, o
Senhor Caldas é como se fosse o meu pai. Eu não lho digo, nem preciso de lhe
dizer, mas o Senhor Caldas para mim é um pilar que tenho na minha vida. É um
bom homem, que está sempre disposto a ajudar toda a gente. Lamento que noventa
por cento das pessoas que ele ajuda, não lhe reconheçam o valor que ele tem.
E como
treinador?
Para mim é o
melhor treinador de ringue que existe em Portugal. É um individuo que vai aos
pormenores, que vai directamente aquilo que nos faz falhar e nos corrige.
Eu quase
nunca o vejo a dar-vos treinos dentro do ringue. Qual é o método que aplica?
O senhor
Caldas tem o dom de não descaracterizar o atleta. Cada atleta tem o seu estilo e
o Senhor Caldas, deixa-o desenvolver o seu estilo e aperfeiçoa-lhe certos
pormenores para que ele possa praticar o boxe, dando o seu estilo, o seu
espectáculo, fazendo bons combates. É nisto que eu tenho apreendido com ele.
Entrevista de
Manuel Pina