quinta-feira, 9 de junho de 2016

TIAGO RODRIGUES, UM PUGILISTA QUE APOSTA NA JUVENTUDE DO BOXE AXADREZADO

O SENHOR CALDAS É O MELHOR TREINADOR DE RINGUE PORTUGUÊS E É UM PILAR NA MINHA VIDA
 

Tiago Rodrigues, é o pugilista mais “antigo” do circuito do Boxe Amador Português, sendo por consequência um dos atletas com mais anos de Boavista. Homem de dedicação extrema, treina com intensidade, para terminar a carreira com o Título (individual) de Campeão Nacional, que as lesões lhe têm roubado.
Terminado um treino, conversamos com este exemplo de pugilista.

Tiago, que idade tem?

Quarenta anos.

Qual a categoria em que luta?

Sou super-pesado.

Pelo que tive oportunidade de me aperceber, é um dos pugilistas com mais tempo de casa. Confirma?

Em tempo consecutivo, estou no Boavista há oito anos, mas já estive alguns anos ausentes por lesões, por isso, contado com o tempo intercalado, estou mesmo há muitos anos.

E no Boxe, quando começou?

Comecei na modalidade relativamente tarde, com cerca de vinte e sete anos.

Começou no Boavista?

Comecei. Porque quem me ensinou o boxe foi um atleta de longos anos do Boavista. Foi ele que me trouxe com ele para o clube.

Falamos de quem?

Do Ricardo Rocha.

Voltemos à sua entrada no boxe…

Como nessa altura eu não estava inscrito por nenhum clube, na tal fase de interregno, por motivos de uma lesão muito grave que tive, o Italiano e o Augusto Pinheiro, trouxeram outra vez para o Boavista. E a partir desse regresso, foi sempre seguido.

Como surgiu no boxe somente aos vinte e sete anos?

Sempre gostei do boxe, mas o boxe foi sempre um bocadinho conectado com uma parte menos boa da sociedade, digamos assim. Com o passar dos tempos, fui-me apercebendo que era um preconceito, que hoje se prova, é totalmente errado. 
O senhor, se vier aqui, depois das dezassete e trinta, vê que temos aqui professores universitários, professores de escola primária, engenheiros, médicos, empresários, etc… e todos nós, convivemos com eles e com o pessoal de competição, numa convivência sã e de camaradagem.

Os pugilistas costumam realçar a amizade que têm uns pelos outros. Qual a sua opinião sobre este tema?

No boxe, há um espírito de lealdade que não há em mais nenhum desporto. Há um sentimento de liberdade no fim de cada treino, que nem consigo descrever. Como vê até me estou a arrepiar ao afirmar isto. Não há descrição possível. 
O boxe, não é, só bom em termos de saúde física, a grande interferência do boxe sobre nós é em termos mentais, porque pelos movimentos que nos obriga a ter, ajuda o corpo a libertar-se, ao mesmo tempo que liberta a mente. 
Muita gente não repara mas o boxe é um jogo de muita inteligência, em que a cabeça tem que comandar na perfeição todo o resto do corpo. Quando se consegue fazer entrar em harmonia todos os factores físicos, os grandes atletas aparecem.

Neste momento, continua a competir?

Continuo. Sou o atleta mais velho do circuito e estou na minha última época. Conforme já citei numa entrevista passada, vim de lesões muito graves, mas graças a Deus, já me sinto recuperado, já jogo bem e ultrapassei as minhas limitações. Tive lesões graves e depois do meu retorno essas lesões repetiram-se, mas estou recuperado.

Títulos individuais?

Desde que regressei, tenho sido sempre Campeão Regional, Campeão Regional da Taça de Portugal, Vice-Campeão Nacional. Tenho ido, sempre às finais nacionais, e acho que as duas últimas, que perdi, as perdi muito injustamente, como se pôde ver na televisão. 
Este ano, vou tentar ajudar a conquistar os títulos colectivos, não esquecer que o Boavista é penta-campeão nacional de clubes.,,

Aposta no título nacional, para encerrar a carreira?

Exactamente. Treino para vencer o  título de Campeão, que seria a chave de ouro para fechar a carreira. Seria acabar a carreira em beleza, até porque já fiz as quatro categorias. Já combati em 81, em 91 e mais de 91Kg.

Com tantas épocas no Boavista, quer fazer uma comparação dos tempos que entrou e a actualidade?

Eu próprio estou admirado com a frequência de atletas no boxe do Boavista. Umas vezes venho de manhã, outras de tarde. Numa dessas tardes, contei aqui, quarenta e oito atletas entre competição e manutenção. O ginásio já se torna pequeno para tanta gente.

Mas as condições melhoraram muito com a criação deste ginásio. Não concorda?

Muito mas mesmo muito em espaço e qualidade, mas já se torna pequeno, para aquilo que o boxe tem, no momento. Acho que a Cúpula do Clube, deveria passar por aqui para se aperceber desta realidade.

A que se deve tanto crescimento?

Mesmo as pessoas que só fazem manutenção, gostam muito do Senhor Caldas, gostam muito dos preparadores físicos que temos, o David e o Fredy que são pessoas excepcionais, que sabem apropriar o treino a cada tipo de pessoa. Por exemplo, um empresário que passa a vida no escritório, naquela vida stressante, é um individuo que não pode sair daqui com pisaduras ou coisas do género. Por isso, há sempre um tipo de treino específico para este caso.

Com este vício que sente pelo boxe, o que pensa fazer depois de terminara a carreira?

Gostava de ficar a ajudar o senhor Caldas, a ensinar os mais novos , que eu gosto muito de fazer. Gosto de os mimar, de lhe dar confiança para o ringue. Olhe vou-lhe dizer algo que nem deveria dizer isso, agora, porque só deveria dizer mais daqui a uns anos. Temos aqui miúdos que irão ser grandes atletas que me tratam de forma que me emociona e que aposto irão ser grandes no boxe. O João, o Melo, o Vitinha, são miúdos muito fortes que vão dar cartas não só no Boavista.

Aposta neles?

O João, vai ser um portento a nível internacional, veja bem o que eu estou a dizer…a nível internacional. 
O João vem quase todos os dias de Viana do Castelo ao Porto só para treinar. Veja quem é este miúdo e a força de vontade dele. Tem excelentes notas na escola, não se lhe ouve dizer um palavrão…é um exemplo. E é com eles, que eu quero trabalhar. 
Estes três miúdos que mencionei, irão ser o orgulho do Boavista e a muito breve prazo.

Vi que entre você e o senhor Caldas há uma relação muito especial. Quem é o Caldas para si?

Para mim, o Senhor Caldas é como se fosse o meu pai. Eu não lho digo, nem preciso de lhe dizer, mas o Senhor Caldas para mim é um pilar que tenho na minha vida. É um bom homem, que está sempre disposto a ajudar toda a gente. Lamento que noventa por cento das pessoas que ele ajuda, não lhe reconheçam o valor que ele tem.

E como treinador?

Para mim é o melhor treinador de ringue que existe em Portugal. É um individuo que vai aos pormenores, que vai directamente aquilo que nos faz falhar e nos corrige.

Eu quase nunca o vejo a dar-vos treinos dentro do ringue. Qual é o método que aplica?


O senhor Caldas tem o dom de não descaracterizar o atleta. Cada atleta tem o seu estilo e o Senhor Caldas, deixa-o desenvolver o seu estilo e aperfeiçoa-lhe certos pormenores para que ele possa praticar o boxe, dando o seu estilo, o seu espectáculo, fazendo bons combates. É nisto que eu tenho apreendido com ele.

Entrevista de 
Manuel Pina