"QUANDO CHEGUEI TINHA CINCO ATLETAS, ESTE ANO, TIVE QUE DISPENSAR VÁRIAS. SINAL DA APOSTA NA FORMAÇÃO"
Rita Melo, é por todos reconhecida como uma excelente aquisição – há duas
épocas – como técnica de formação do voleibol axadrezado.
Simpática, sempre sorridente, mas simultaneamente critica e objectiva,
a Rita deu-se a conhecer em entrevista feita ao nosso blogue, que chega a
parecer longa, mas passa por ser uma lição de formação e uma viagem pelo interior
do Voleibol axadrezado.
Quem é a técnica da equipa júnior de Voleibol?
Sou a Rita Melo, fiz vinte e
seis anos no passado dia dez de Janeiro.
Profissionalmente?
Tirei o mestrado de Educação física, há dois anos. Trabalho com
desporto, sou “Personal Trainer” e treinadora de voleibol.
Vamos conhecer a treinadora, que ingressou no Boavista, vinda do
Leixões. Qual o teu passado desportivo?
Fiz a minha formação como jogadora, no Ala de Gondomar, onde, também, iniciei a
minha trajectória de treinadora. Com o ingresso na Faculdade, continuei no Ala,
mas posteriormente fui com o professor José Afonso para o Castêlo da Maia, onde
fiquei dois anos e tive que interromper porque fui, pela “Erasmus” para
o Brasil.
Quanto tempo estiveste no Brasil?
Estive seis meses e tive oportunidade de treinar a equipa Universitária e joguei como atleta da equipa da Faculdade.
Continuemos o teu percurso. Quando regressaste a Portugal, para que clube foste?
Regressei para o Castêlo, onde estive mais uma época. Depois dessa
época, ingressei no Leixões, onde fui adjunta do professor Hélder, nos escalões
de Iniciadas. Acompanhei essas jovens nos escalões de Cadetes e
estive, simultaneamente, dois anos no minivoleibol do Leixões.
Como se dá a passagem para o Boavista?
Foi uma recomendação do “meu mestre” José Afonso, ao professor Carlos
Simão, que me contactou e… cá estou eu.
Sei e posso provar, que o teu trabalho é reconhecido por todos e que
ultrapassaste o que era esperado, porque a “matéria prima” que tinhas, era
ainda muito inexperiente. Reconheces esse facto?
Confesso que apanhei um choque quando entrei. No primeiro treino,
tinha cinco atletas e isso prolongou-se durante as primeiras semanas.
E segundo sei…percebiam tanto de volei, como eu…
Não digo tanto, mas eram atletas sem grandes hábitos de treino e isso,
traduzia-se na sua falta de rendimento.
Tive que começar quase do zero, numa
equipa que era Juvenil, que já deveria estar a aspirar a outros patamares. Tive
que dar dois passos atrás para depois dar três em frente.
Actualmente, já como juniores, sentes que continuam a evoluir?
A realidade é completamente diferente. Neste momento, temos vinte e
uma atletas. Tive que reencaminhar atletas para outro clube e indicar a algumas
atletas que optassem por outras modalidades, por não lhes reconhecer valor para
continuarem no Boavista e no voleibol. No ano passado, não tinha atletas e
neste ano tenho que as dispensar, porque não há condições de treino, para ter
tantas.
Na época passada, naquele pequeno conjunto, haviam atletas que se
queixavam de terem poucas oportunidades. Desse grupo dispensaste alguma ou
todas acabaram por te “entender”?
A verdade é que tinha algumas atletas sem o mínimo de experiência de
voleibol e ainda com a agravante que era um equipa Juvenil, logo, a faltarem
dois escalões para se chegar a sénior.
Considero que não é de um momento para
outro, que se vai ensinar, num ano, o que a atleta deveria ter aprendido em
oito ou até, dez anos, desde minis.
Algumas perceberam a minha posição, outras
nem por isso, mas penso que mais tarde todas me entenderão. Não posso
prejudicar uma equipa inteira em prol de uma jogadora que quer estar entre as
doze.
Os reforços que chegaram da equipa de Iniciadas, vieram ajudar-te ou não
tinham experiência para juvenis?
As atletas que recebi das iniciadas eram jogadoras com pouco ritmo de
jogo e pouca utilização. Eu e o professor Simão discutimos o assunto e
decidimos que seria melhor , para todos, elas serem inseridas no escalão mais velho, tendo
mais utilização.
Isso resultou, porque tenho na equipa de juniores, atletas com
idade de juvenil, que participam activamente nos treinos e estão entre as doze
e até entre as seis de cada jogo.
Peço-te, que compares a realidade que tinhas no Leixões e a que
recebeste ao chegar ao Boavista. Que diferenças?
A realidade é completamente diferente. Quando cheguei, sabia que o
trabalho ia ser difícil, mas não esperava tanta dificuldade, como encontrei a
época passada... mas compensou.
Tanto compensou que eu tive que bater o pé para
continuar com elas este ano. Foi-me oferecido ficar com uma equipa mais
consistente, mais equilibrada, mas eu optei por elas, porque considero que é
trabalho meu e – já agora – delas, assim continuamos juntas.
O primeiro objectivo é ajudar o escalão sénior no máximo possível,
como missão de qualquer treinador do escalão júnior deve ter. por isso, vou ter
a obrigação de colocar algumas miúdas do segundo ano a colaborar com a equipa
sénior.
O outro obejctivo era ser apuradas para o play-off, mas por várias
razões não foi possível. Assim passa por fazer o melhor resultado possível no
Torneio AVP.
Que relação tens com elas?
Elas sabem que noventa por cento para mim não dá! Tem que ser cem por
cento, sempre. Elas saem do treino fartas de me ouvir…mas tem que ser.
A interligação entre os escalões de juniores e seniores é perfeito?
Podia ser melhor. O Boavista deveria apostar mais nas subidas e
descidas de escalão. Pode até nem ser para os jogos, mas acho que deveríamos apostar
nos treinos, em treinar escalões abaixo, escalões acima, com vista ao maior
rendimento das suas equipas.
Também acho que falta um bocadinho de diálogo entre os
treinadores. O professor Machado tem assumido um papel importante neste ramo,
porque para além dos nossos afazeres profissionais, considero muito importante
o diálogo entre nós, a nível técnico, porque no restante o ambiente é muito
bom.
O Professor está a juntar tudo.
Quero agradecer à Susana Murilho que tem
sido excepcional. Ela que caiu aqui, um pouco de para-quedas, mas transformou-se numa pessoa que tem sido
muito importante.
Foi o Carlos Simão que te trouxe para o Boavista. A sua saída, fragilizou-te?
O professor Simão foi muito importante para mim, nos primeiros tempos
do Clube. Acho que a minha familiarização com o Boavista e integração no clube,
não teria sido tão bem-sucedida sem o professor Simão. Continuo sem saber o que
aconteceu, para a sua saída, mas tenho a certeza que ele vai continuar a sua
excelente carreira de treinador de voleibol.
Independente dos resultados, ou de sermos mais ou menos fortes, elas
sabem que comigo têm que trabalhar a cento e cinquenta por cento e que não
espero menos de todas.
Sabendo que nem todas continuarão no voleibol como
seniores, tenho a certeza que todas serão melhores “senhoras” no futuro se
trabalharem bem agora.
Sou treinadora de formação de atletas e de gente do
amanhã.
Entrevista de
Manuel Pina