Joana Freitas,
é psicóloga e tendo começado a trabalhar
com a Academia de futsal do Boavista tem um projecto ,que visa dar um apoio
global a todas as modalidades amadoras do Boavista. Com esta entrevista,
tentaremos compreender melhor esse objectivo e conhecer a doutora.
Quem é a
Joana Freitas?
Sou psicóloga,
formada em psicologia pós graduada em recursos humanos, trabalho em consulta em
Santa Maria da Feira e, neste momento, estou a fazer voluntariado no grupo de
autistas no Porto.
Isso particularmente e no Boavista?
Tenho dado
apoio a alguns atletas da academia e consultas no departamento de futsal.
Como nasceu
a ideia dessa colaboração com o Boavista?
Essa colaboração
iniciou-se quando eu entrei como seccionista para a academia acompanhando o meu
marido (Paulo Freitas) entretanto, tinha uma clinica que fechou e não tinha,
no imediato, local para continuar o trabalho com alguns jovens e, trouxe-os
comigo e alguns ficaram aqui comigo.
Vamos tentar
esclarecer alguns pormenores. Em que consiste o seu trabalho?
Depende da problemática
dos meus pacientes. Se são hiperactivos, se têm algum tipo de perturbação de
personalidade se têm alterações de comportamento, se são problemas escolares ou
familiares, etc… Depende. Eu tenho especialidade em hiperactividade e
dificuldades de aprendizagem.
Quem faz uma
primeira triagem sobre os jovens, são os dirigentes, os familiares ou é a
Doutora que os vai observando?
Neste momento,
tenho dois jovens a quem acompanho na academia. Um já o conhecia e trouxe-o
para cá, porque era meu paciente fora do Bessa. O outro, foi a mão que falou
com o meu marido, este miúdo é hiperactivo.
Um fenómeno
muito comum entre os jovens?
Sim, é
verdade e aqui a academia tem vários.
O seu
trabalho está a ser feito em exclusividade para o futsal?
Neste momento,
tenho trabalhado com o futsal, mas o objectivo é trabalhar com todas as
modalidades, continuo a aguardar contactos de outros departamentos.
Como explica
que ainda não tenha sido contactada por alguém de outras modalidades?
Penso que
haverá um problema de dar divulgação do nosso projecto entre as amadoras. Já me
colocaram por diversas vezes a questão se trabalho só para o futsal. Já disse e
repito, que não. Sempre me disponibilizei para as amadoras, porque acho que é
um trabalho extensivo ao interesse de todos os jovens.
Como é que
qualquer interessado “chega” aos serviços da doutora?
Através da
secção de ginástica, onde já foi entregue a cópia de um protocolo de
compromissos entre mim e o Boavista, na pessoa da directora Sara Monteiro. Encontrarão
lá todos os meus contactos, ou através de qualquer membro do futsal. De uma
forma ou outra, será fácil chegar ao meu contacto.
Vamos falar
de algo que toda a gente questiona. Que encargo terá cada paciente e quem paga
o seu trabalho?
São os pais
que estão a pagar as consultas, só que a um preço muito mais baixo que o
habitual no exterior.
Podemos
conhecer esses valores?
No Porto, geralmente as consultas variam entre
os trinta e cinco e os cinquenta euros, enquanto aqui no Boavista, custam
vinte.
Onde se
realizam as consultas? Espaço, dias e horários?
Actualmente no
departamento de futsal, embora desejo alterar para outro espaço dentro dos
espaços das amadoras, porque – mesmo agradecendo a atenção e disponibilidade de
todos – considero não ter as condições ideias para esse trabalho, mas enquanto
não encontrar outro espaço continuaremos no departamento de futsal. Tenho vindo
ao sábado à tarde e até, ao domingo de manhã e nesse horário, fui informada que
as instalações da ginástica estão encerradas, que era, inicialmente, o espaço
que estava idealizado para receber os pacientes. Quero registar que tenho as
chaves do futsal e agradeço toda a disponibilidade, mas acho que deveremos
alterar condições e espaço até para não se transmitir, a ideia errada, que só
recebo miúdos do futsal.
A divulgação,
passa em seu entender por um novo espaço?
Sim, porque
já me apercebi, que as modalidades são autónomas (quase independentes) umas das
outras e, para trabalhar com todas, terei que ter um espaço independente…
digamos assim! (sorriu).
O povo liga
(erradamente) psicologia a psiquiatria e temos ao invés de ser considerados
pacientes serem tratados como loucos. Não teme que por essa inibição as pessoas
não procurem o seu trabalho?
Primeiro,
não tem nada a ver uma especialidade com a outra, embora entenda a sua questão.
Já acontece menos, mas ainda acontece a situação de as pessoas terem vergonha
de ir ao psicólogo, por essas razões. Mas já acontece menos! Mas ainda noto que
os pais temem levar os filhos ao psicólogo, com medo que os filhos fiquem com
rótulo.
Que mensagem
quer divulgar?
O psicólogo não
é um bicho. Apenas ajuda os miúdos (e adultos, mas eu estou mais vocacionada
para os jovens, crianças e adolescentes) a ultrapassarem dificuldades pontuais
e mesmo de área desportiva.
É uma
doutora desportiva?
Quando completei
a minha licenciatura, tive que fazer a tese de curso e escolhi a área de desporto
que é a área que mais gosto. A psicologia do desporto tem muito quer a nível
motivação de aceitação e compreensão de resultados etc… tudo envolve aspectos psicológicos.
Num mundo
cada vez mais difícil e competitivo. Concorda?
Totalmente,
muitas vezes os adultos passam ao lado (ou julgam que passam) de certos problemas
mas para os miúdos as coisas são bem mais difíceis. Mesmo a nível de
competição, os miúdos não estão preparados nem para perder, nem para ganhar. Esta
é a sensação que noto quando assisto a jogos entre eles.
Já que me
fala nesse aspecto, há algo que eu sempre notei. Quando num jogo de adultos uma
equipa é claramente superior à outra e atinge um resultado dilatado, quase que
pára… enquanto os miúdos, na mesma situação, tentam mais golos para mostrar a
sua clara superioridade, roçando a humilhação adversária. A que se deve tal
facto?
Isso é real.
Os miúdos não têm essas noções, as ideias bases da competição. Uma das coisas
que tenho trabalhado aqui na academia com o ajuda do meu marido e que
continuamos a analisar em casa é a questão das regras. Os miúdos não têm
regras. Eles pensam que podem falar para os treinadores/directores de qualquer
maneira. Não podem! Os miúdos têm que ter regras de base. Nós estamos a tentar
alterar esses comportamentos aqui na academia.
Antigamente,
notavam-se diferenças de vestir e de comportamentos entre várias zonas. Agora viver
na cidade ou na aldeia é igual. Nota-se que os miúdos e adolescentes, não usam
guarda-chuva, que sentam nos locais das bagageiras em vez de se sentarem nos
bancos. Mas todos, mesmo todos fazem o mesmo. Como se explica um comportamento
tão copiado?
Funciona por
imitação! No comportamento humano, o comportamento gera, comportamento. É a
máxima da psicologia… comportamento gera comportamento. Vai por modelos. Repare
se os pais fazem determinada coisa os miúdos vão, por instinto, imitar os pais.
Se têm um professor ou um treinador que considerem modelo, vão ter a tendência para
o imitar. E quem não cumprir as “normais instituídas” pela maioria (boas ou
más) é posto de lado.
Na minha
vida profissional contacto muito com o ambiente escolar, que neste momento – passe
o exagero – se aproxima do que nos transmitido em filmes do ambiente prisional.
Grupos, imposições de comportamentos, exclusões etc… concorda com esta visão ou
sou pessimista?
Nada tem a
ver com os professores. São os miúdos que formam os grupos e outros - lamentavelmente
– são marginalizados, ou porque não se integram nos grupos, ou porque não têm
roupa da marca X, ou porque não usas as sapatilhas Y. eu tenho em santa Maria
da Feira um miúdo que é vitima de Bulling infantil, cada vez menos os miúdos
são e estão educados para viver na sociedade e para a sociedade.
As escolas
têm psicólogos?
Sim mas a
verdade é que muitos psicólogos foram retirados das escolas para se diminuírem despesas!
E os que
estão ficam dentro de um gabinete, quando o mundo se passa no recreio…
Trabalhar - e
eu já trabalhei – num agrupamento é muito difícil, embora eu entenda a sua
opinião.
Vamos voltar
ao Boavista. Quando começou este projecto?
Desde Setembro
do ano passado.
Qual a parte
que entende por positiva, para já?
A parte
positiva. Eu gosto muito de desporto, gosto muito de trabalhar com estes
miúdos, faço a parte burocrática da academia em casa, tento ajudar em tudo o
que for possível porque me meti voluntariamente neste projecto, não tenho
facilidade de estar nos treinos aso sábados de manhã, porque dou formação, mas
sempre que posso venho. Acho que os miúdos têm crescido muito e acho que a
academia cresceu muito, em quantidade e qualidade.
Voltamos ao
mesmo. Falamos de futsal, por ausência e culpa dos outros?
É verdade
mas eu aí preciso de ajuda, porque repito, estou aqui para trabalhar com todos
e não só com o futsal e desde já estou ao dispor de todas as modalidades
amadoras.
As coisas
negativas?
As comunicações
entre todos os departamentos e escalões, acho que há falta de comunicações
interna e de divulgação do nosso projecto. Para além do local para as consultas
que considera muito importante, para dar-mos mais condições aos pacientes e
acompanhantes e para transmitirmos a ideia real que não trabalho só para o
futsal. Isto é muito importante. Outra coisa que falha e que já propus realizar
é uma formação de treinadores e dirigentes, no âmbito de comunicação e gestão
de conflitos e de motivação desportiva.
Doutora, dentro
de alguns meses faremos um novo balanço desse projecto
Entrevista de
Manuel Pina Ferreira