A Academia de futsal é cada mais
uma aposta ganha. Para terminarmos (por agora) a nossa análise sobre a mesma,
entrevistamos Filipa João, treinadora da equipa dos Traquinas.
Filipa João, apresentou-se como
uma mulher convicta e feliz por trabalhar neste projecto.
Vamos iniciar por apresentar a actual treinadora da equipa de
Traquinas?
Chamo-me Filipa João e tenho vinte e oito anos e sou Bióloga de
profissão.
Como se iniciou no Futsal?
A minha ligação na modalidade, começa ao acompanhar o meu pai, aos
seus jogos quando era jogador de futsal. Depois estive cerca de seis sete anos
na arbitragem da modalidade, a partir de dois mil e cinco. Nesse período
descobri que não era a arbitragem o que mais me motivava no futsal.
Procurei
nessa fase, um escape para cumprir a paixão que tinha de praticar a
modalidade. Por ter nessa altura, outros hobbies que não conseguia conciliar, com o futsal, acabei por
abandonar a modalidade
Como chega a treinadora?
No último ano, conjuntamente com um grupo de pessoas iniciamos a secção de futsal no
Clube Propaganda de Natação (CPN) de Ermesinde.
Este ano, acabei por ser
convidada – em boa hora – pelo Coordenador da Academia para integrar este novo
projecto da Academia de futsal do Boavista Futebol Clube.
É actualmente a treinadora dos Traquinas. Como decorreu a época?
Correu bem. Os Traquinas foram vice campeões e como sabe os Petizes
foram campeões.
Quantos atletas tem na equipa de Traquinas?
Actualmente e em competição temos quinze, mas durante toda a época
foram aparecendo outros atletas que não puderam ser inscritos mas que estão a
trabalhar conjuntamente connosco.
Quantos atletas estão inscritos na Academia?
Cerca de trinta. Quinze nos Traquinas e oito nos Petizes todos
inscritos e os restantes que chegaram posteriormente.
Há pouco disse que não se revia na arbitragem. E revê-se como treinadora
de jovens?
Tenho uma experiência de trabalhar com miúdos, nada tendo a ver com a
modalidade e sempre gostei. Assim juntei duas coisas que é de gostar de lidar
com miúdos com outra que gosto que é o futsal. Estou preenchida.
Falemos do futuro desportivo pessoal. Ambiciona treinar escalões mais
altos?
Em primeiro lugar, continuar a minha formação aprendendo com a s
pessoas com quem trabalho, que sabem muito mais que eu e com os que sabem tanto
ou menos que eu. Todos temos a aprender uns com os outros. Depois terei que
fazer a minha formação pessoal a nível de certificado para poder aspirar a esse
tipo de voos.
Mas tenciona ascender a escalões superiores ?
É essa a minha pretensão.
A Academia do Boavista surpreendeu-a? Como verificou a aceitação dos pais
numa formação competitiva dos filhos tão precocemente?
Vamos por partes.Todos sabemos que nas escolas e nos intervalos das aulas, todos os
miúdos jogam à bola. Se formos aos recreios das escolas não há um único em que
os miúdos não joguem à bola. Os pais não têm essa preocupação se os miúdos
jogam ou não. Trazê-los para uma Academia onde continuam a sentir o prazer de
jogar e aprendendo um pouco mais, na minha opinião só ajuda na formação de um
atleta e até de um jovem que será no futuro um homem. Acho muito positivo a
inscrição numa Academia.
Aconteceram algumas medidas de evolução no projecto da Academia do
Boavista?
Mudou-se o lema que estava anteriormente implantado. O nosso lema é
formar para ganhar. As pessoas ainda vêm isto como um excesso de
competitividade, mas a formação não é só formação colectiva mas também a
formação individual da pessoa com quem estamos a trabalhar.
Depreendo que concorda com a imposição competitiva para estas idades
que a Associação do Porto assumiu?
Concordo de um ponto e não concordo de outro. Concordo que haja
campeonatos oficiais para petizes e traquinas, não concordo que essas provas
sejam vistos e chamados de encontros lúdicos. Se é uma competição é para ser
levada a sério.
A quem aponta o dedo?
A competição pode e deve ter melhorias e é para isso que os clubes
devem contribuir. Tudo deve ser levado mais a sério.
Dê exemplos…
Os árbitros devem saber as dimensões do campo, devem saber os tempos
de jogos. As balizas utilizadas devem ser as regulamentadas. Se não se pode
usar coletes, não se devem usar, etc…
Os clubes sabem disso mas facilmente se
aceitam estas faltas de regularidade. É por isso que os campeonatos são vistos
como uma brincadeira por várias pessoas.
O Boavista e outros clubes fazem um
trabalho que eu quero acreditar que é sério. Temos que levar a prova tão a
sério, como levamos os nossos treinos. Não aponto culpas ou A ou B ou C, mas
acho que todos juntos podemos e deveremos mudar este aspecto. Quanto aos que
nos acusam de provocar precocemente a competitividade entre os miúdos eu
respondo que não precisamos de o fazer, porque os miúdos já são competitivos
uns com os outros, por natureza.
O que tem que dizer uma treinadora aos miúdos que entram pela primeira
vez numa Academia?
Estamos a falar de miúdos enre os quatro e os seis anos de idade,
gostava que eles chegassem já ensinados, mas tal não acontece e esse não é o
nosso papel. Na Academia, temos meninos e meninas e o que esperamos é que eles
cheguem com as dificuldades e virtudes que têm nessas idades. Temos que
trabalhar aproveitando o que têm de bom, fazendo deles atletas melhores, que
reconheçam o emblema que envergam e que saibam que nós trabalhamos sempre para
ganhar.
Pessoalmente esse trabalho de base, ajuda-a a sua formação como
treinadora?
Obviamente que sim. A Academia, convidou esta época cinco pessoas
jovens (sub 30) e que não tenham formação certificada a nível da modalidade,
para começarmos do princípio assumido uma evolução dentro do contexto de
formação de jovens. Correu o risco ao fazê-lo, mas considero que estamos no
caminho certo.
Permita-me que dê os parabéns a essa aposta, porque sempre defendi
esse aspecto. Que é para si estar no Boavista?
Conheço o Boavista desde pequenina, conheço o clube há muitos anos e
frequento o estádio do Bessa muitas vezes e tenho um carinho muito grande pelo
clube. Aliar ao clube que gosto, a modalidade que gosto, com as pessoas que
gosto, proporciona que o trabalho seja feito como desejo.
Quem a foi buscar ao CPN, sabia o que estava a fazer?
Exacto, sabia o que estava a fazer.
Quantos atletas vão passar dos Traquinas para os Benjamins, na próxima
época?
Dos quinze que temos a competir irão passar dez, que foram há dois
anos Petizes. O cérebro deste grupo vai subir aos Benjamins, já se conhecem
bem, já sabem o que é jogar no Boavista estão a fazer a evolução que defendemos
na Academia. À excepção de um atleta, os restantes sete da equipa dos Petizes sobem para os Traquinas na próxima, e
por isso, já temos uma boa base de trabalho.
A Academia está trabalhar a cem por cento?
A duzentos, porque cem é pouco.
A Filipa João que chegou no princípio da época, evoluiu com esta sua
experiência?
É importante quando chegamos a uma casa, saber o seu passado para
saber o resultado do que estamos a fazer. A Academia tem cinco anos e é a
quarta época que participa nas competições oficiais. A aposta era vencer as
provas nos dois escalões mas só conseguimos num e noutro um segundo lugar, pelo
que considero uma época excelente.
Quer analisar mais em pormenor?
Fazendo eco, do que nos chegou pela voz dos pais, pegamos num grupo
que estagnou na época anterior e conseguimos retomar a sua evolução, o que é
registado pelos mesmos pais. Os números falam por si. Nunca uma equipa de
Traquinas conseguiu obter mais que 45% de vitórias em jogos oficiais e nós este
ano chagamos aos 75%.
Analisam tudo com estatísticas percentuais?
Exacto, acho isso muito importante. Nunca nenhuma equipa de Traquinas
de uma Academia teve valores tão baixo em pontos perdidos, que foram 20% de
derrotas e 5% de empates. Até aqui o valor mais baixo era de 28%. Duplicamos a
média de golos, que é superior a cinco por jogo e de golos sofridos inferior a
dois. Com estas tabelas verificamos que o Boavista em Petizes, perdeu cinco
jogos e quatro deles foram com o Rebordosa, que foi a equipa que se sagrou
campeã.
Como é que o Rebordosa tem equipas tão fortes?
Porque têm uma equipa de dois ou três anos a ser formada
continuamente. Não há que lhes tirar o mérito pela vitória e pelo trabalho que
desenvolvem. Esta equipa deles jogou há duas épocas com a nossa equipa de
petizes. Há da parte deles um trabalho continuado que ainda não nos foi
possível fazer, por isso, não podemos sentir demérito aos nossos miúdos.
O treinador que foi árbitro, tem outra forma de ver e preparar os
miúdos com mais rigor?
A minha experiência na arbitragem fez-me saber colocar-me no meu
lugar. Quando era árbitro nunca analisei em público o trabalho de um colega.
Quando passei a adepta vi o jogo com a paixão de adepta de um clube. Como treinadora
a minha responsabilidade é maior porque não posso ver o jogo com essa paixão.
A
minha obrigação é pedir que os meus atletas sejam o mais perfeitos possível. É
claro que se alguém assistir a um jogo de Traquinas, verá falhas na reposição
de bola, falhas nos lançamentos laterais e uma série de falhas que têm que ser
corrigidas pelos treinadores, mas igualmente ajudadas pelos árbitro durante o
jogo. Disciplinarmente o ter sido árbitro nada me alterou porque já é de mim
ser rigorosa nesse aspecto, embora esses problemas não se coloquem nestes
escalões.
Já assinaste para a próxima época?
Já, porque quero continuar e sinto-me muito bem no Boavista e porque o
coordenador não brinca em serviço.