"Quando cheguei não era Boavisteiro, mas fiquei e sou Boavisteiro, agora tenho uma pantera tatuada numa perna!"
Paulo Pardalejo, regressou ao Boavista para comandar a equipa sénior
de voleibol, após ter concluído o seu contrato com a equipa açoriana do Ribeirense.
Nesta entrevista de fundo, fomos ao "fundo" de muitas questões, todas
respondidas, directamente e sem hesitações, bem à imagem do técnico Paulo Pardalejo.
A APRESENTAÇÃO
Não seria necessária qualquer apresentação, para o público do
Voleibol, mas mesmo assim, iniciamos esta conversa, relembrando que esta é a
segunda vez, que vais comandar o Boavista. Quando foi a primeira vez e em que
condições?
A minha primeira passagem foi há cerca de cinco anos atrás, se não
estou em erro, na época entre dois mil e dez e dois mil e doze. Nessa altura, o
Boavista, estava na segunda divisão e apostado na subida ao primeiro escalão.
Épocas, vividas por ti, com muita paixão (fui testemunha) agora o Paulo está
mais calmo?
Fiquei apaixonado por este clube e vivia intensamente, como espero viver
agora. Quando cheguei ao Clube, não era Boavisteiro, mas fiquei Boavisteiro. Quando saí, senti sempre uma necessidade de
voltar.
O PERCURSO DEPOIS DO BOAVISTA
Por onde andaste, entre a saída e o regresso ao Bessa?
Fiz meia época no Leixões, na equipa feminina, onde as coisas não
correram bem e depois, fiz uma época, na equipa Sénior masculina do Leixões, que
correu muito bem. Depois fui para os Açores treinando o Ribeirense durante duas
épocas, que foram muito boas em termos globais. Foi tudo muito bom.
Viver numa ilha (Pico) para um homem tão activo, é fácil ou nem por
isso?
O primeiro ano, foi espectacular, o segundo já foi mais difícil, as
saudades aumentam... Tive saudades da família e do sobrinho que está numa idade
incrível.
Depois é todo o tempo que uma pessoa gasta constantemente em viagens. É acabar
os jogos e ir a correr para o avião para
regressar à ilha. Depois na ilha a nossa vida é treino, treino, treino e jogo e
mais treinos, pouco há mais para fazer. Tudo isto, provoca um desgaste
emocional muito grande.
O REGRESSO AO BOAVISTA.
Foi esse cansaço que te faz sair do Pico e o Boavista aproveitou, para
uma contratação inesperada?
O que tem que acontecer…acontece. Há algum tempo que andávamos a
conversar e acho que a vontade era mútua, pelo menos a minha era muita. Surgiu a
oportunidade e foi um namoro concluído.
A realidade que vais deparar no Boavista – a nível de treinos – vai ser
muito diferente do que tinhas nos Açores. Como vais coordenar essas diferenças,
com maiores dificuldades logísticas?
É uma aspecto a ter em conta. Estamos a falar do Ribeirense que com o
Clube "K", são equipas totalmente profissionais. No Pico, a nossa vida era treino
e treino, com um volume muito grande de treinos bis-diários e só uma folga
semanal. As atletas são profissionais e têm que o fazer. Uma vantagem que tínhamos
era que após os treinos tínhamos muito tempo para descansar e assim recuperar
os esforços.
Aqui, as condições são outras. Vamos tentar rentabilizar ao máximo o
tempo de treinos que tivermos e a disponibilidade de todas atletas que não são
profissionais. Umas trabalham e outras estudam e desde logo, a disponibilidade é
outra. O tempo de repouso, que é muito importante, cá, não haverá tanta possibilidade
para usufruirmos dele.
São realidades diferentes, mas conhecidas por todos e
que será nesta realidade que iremos trabalhar. Em vez de treinarmos seis horas
por dia, vamos treinar três.
A NOVA ÉPOCA
Quando começam os trabalhos?
Vamos fazer a apresentação da equipa no dia dois de Setembro, no Auditório do estádio do Bessa. Faço um apelo a que todos os adeptos, toda a
gente e os Panteras marquem presença. Começaremos no dia quatro de Setembro os
trabalhos para a nova época.
O plantel está fechado, ou ainda há alguma vaga?
Houve um objectivo, totalmente cumprido, que impus desde que assinei o
contrato, que foi estabelecer um compromisso com a direção para que o plantel ficasse
fechado até dia quinze de Julho. Com um trabalho incrível da direção,
conseguimos esse obejctivo, que penso, foi a primeira vez que se alcançou.
Agora
só se nos aparecesse uma Cubana, uma Russa ou uma Brasileira de tope mundial é
que poderíamos abrir. Estou a brincar. Está fechado!
Que meta a atingir em termos de tabela classificativa? O segundo
grupo?
Desde que eu saí, o Boavista conseguiu a desejada e merecida subida de
divisão. Consolidou-se muito bem na primeira divisão, tendo no primeiro ano,
feito uma excelente época. Este ano, as coisas não correram tão bem, podendo-se
ter feito melhor, mas todos nós, podemos, sempre, fazer melhor.
O objectivo, que todos temos, para a época é o grupo do meio. Existem quatro
equipas muito fortes para este ano, estamos a falar do Leixões, o AVC, o Porto Volei,
o Clube “K” fortíssimo. Depois temos o Belenenses, o Ribeirense que não sabemos
o que nos vai apresentar. Acho que vai ser um campeonato muito mais
equilibrado, mas aposto no Boavista a terminar no grupo do meio da tabela.
A REALIDADE E VERDADE COMPETITIVA
As equipas Açorianas, sendo formadas pela maioria de jogadoras
estrangeiras, acabaram por provocar uma maior competitividade global, no voleibol
feminino?
Têm dado um maior competitividade e têm feito bem ao voleibol. Existe muito
a ideia - que até eu defendia - que nos Açores só se contratam jogadoras
estrangeiras.
Isso é uma mentira.
Eu, no Ribeirense apostei em contratar uma
equipa só de portuguesas e não consegui.
A verdade é que as portuguesas, não
têm vontade de ir para os Açores. Ou por causa das aulas, ou por causa dos
namorados, no final as portuguesas, não querem jogar nos Açores e assim os clubes
têm que recorrer ao mercado estrangeiro.
E o nível sobe?
O facto de serem estrangeiras não quer dizer que sejam melhores que as
portuguesas, gasta-se é mais dinheiro, mas não é seguro que a qualidade seja
melhor. Umas vezes é, outras não é.
O nível de jogo sobe, porque há mais
jogadoras e o nível de divulgação do nosso voleibol também sobe, porque nos
países de onde elas vêm passam a acompanhar principalmente via net o nosso
campeonato.
O APOIO DOS ADEPTOS.
Todos reconhecem que entre o Pardalejo e os “Panteras Negras” há uma química.
Na tua primeira passagem pelo Boavista eles davam grande apoio ao voleibol. O que
agora não acontece. Esse apoio, vai ser reivindicado?
Eu sou Pantera e tenho a pantera tatuada na perna! Uma das razões que
me fizeram regressar ao Boavista é a moldura humana e a “Panterada” que está
constantemente envolvida na vida do clube. Quando assinei, coloquei logo a questão que
iria apostar e conseguir voltar a trazer os Panteras para o pavilhão, para
apoiar a equipa. Temos que nos envolver com o público temos que os chamar,
porque é isso que nos faz crescer. São eles que nos levam a vencer jogos que
eram apontados como jogos de derrota.
Dizem que o Irene Lisboa, ficou um pouco retirado. Querias outro
pavilhão para jogar?
Essa questão, não se coloca. Eu vejo os Panteras, a ir a Lisboa, ao Algarve, à Madeira, aos Açores, em grande número ver o futebol. Eu sei que é
futebol, mas nós somos Voleibol e o Irene é aqui.
No futebol veem vinte e dois
gajos feios, e no Voleibol veem pelo menos doze raparigas bonitas e airosas a
jogar.
Contas com esse regresso?
Brincadeiras à parte. Considero que o apoio deles é muito importante e
fundamental. Vamos conseguir que eles voltem a estar presentes. Mais que terem o
pessoal na bancada, as jogadoras gostam de sentir o calor o carinho de se jogar
num clube grande.
Para convencer algumas atletas a ingressarem no Boavista, mostrei os vídeos
das fases da segunda divisão de pavilhões cheios e entusiasmantes. Sei que elas
reagiram a isso, porque jogar com este ambiente, só se consegue num clube
grande como o Boavista. Era assim na segunda divisão porque não há-de ser assim
na primeira divisão?
Eu dizia-lhes e - ainda agora sinto-me arrepiado ao repetir – minhas amigas,
vocês têm três grandes clubes no voleibol nacional. Um deles é o Boavista com
um historial incrível. Mostrei-lhes a imagens de pavilhão com tarjas,
bandeiras, mais de uma centena de Panteras, criando um espetáculo incrível. A final
do campeonato nacional deste ano. Mostrou um pavilhão do Leixões completamente
cheio de cor vermelha e branca. O meu grande sonhe é ver esse pavilhão
completamente cheio de cores preta e vermelha.
Branco quer o Leixões Boavista têm
e junto o preto e o vermelho. Encher com essas cores um pavilhão só estes
clubes conseguem. Vamos trabalhar para isso.
PESSOAL
Depois de tanta actividade, o Paulo Pardelejo treina boxe no Boavista.
Porquê o Boxe?
Já na primeira passagem pelo Boavista me dediquei ao Boxe. Sempre gostei
da Arte, mas o jeito não ajuda muito. Aqui no boxe do Boavista há um
ambiente fantástico que depois de o conhecer, não consegui sair.
Ao contrario
que muita gente pensa isto é um ambiente muito saudável e muito, mas mesmo
muito bom, com um grande homem a gerir um grande número de atletas de diversas
personalidades, mas que o Grande Carlos Caldas consegue gerir.
Para continuar?
Claro que sim. Só quem está cá é que conhece a família que o Boavista
tem no boxe, com amizades puras.
Para terminar, lembro-me que te ajudei muito a preparar a parte psicológica
das jogadoras, antes dos jogos. O Paulo Pardelejo continua a apostar nesse
aspecto?
Com a evolução de todo o desporto, o que distingue o sermos bons ou
sermos muito bons ou excelentes?
A táctica, a técnica e questão física todos a têm ao
adquirem.
O que fica? A questão psicológica!
Com uma cabecinha tranquila, o
corpo vai estar tranquilo e vai render muito mais.
José Maria Pedroto, teve esta frase “o desporto é um estado de espírito. Se tens um problema em casa, diz-me porque não vale a pela colocar-te
a jogar, enquanto não o superares”. Como a comentas?
Concordo. O voleibol é um estado de espírito. Eu gosto de me envolver
com as atletas nos casos pessoais, de forma a conhece-las ao mais pequeno
detalhe, para intervir em várias situações que acontecem.
Às vezes uma situação
com o namorado, com o marido, pode condicionar a postura e desempenho da
atleta. Se ela sentir que o treino não será uma sobrecarga psicológica, mas pelo contrário um alívio. Com a mente bem e em paz, tudo se torna mais fácil.
Pronto para este desafio?
Mais que pronto… desejoso!