No apoio
médico às modalidades Amadoras, existe um homem, por quem todos passam a
caminho da sua recuperação física. Falamos de Fernando Sobreiro, o
fisioterapeuta das amadoras.
Há quantos
anos está no Boavista, como fisioterapeuta?
Entrei no
Boavista, em mil novecentas e oitenta e três, quando o falecido Doutor Acácio
Lelo, foi solicitar os meus serviços ao hospital de Santo António.
Mas pelo que sabemos,e esteve (quase) a ingressar num outro clube. Confirma?
Confirmo. Anteriormente, tinha sido, contactado pelo Doutor Domingos Gomes, para o
acompanhar no Futebol Clube do Porto. Fiquei claramente, orgulhoso pelo
convite, mas recusei.
Por que razão?
Porque,
essencialmente, não podia perder as condições, que usufruía no hospital. Por
outro lado, o Doutor Acácio Lelo, proporcionou-me condições equivalentes e acabei por fazer aquilo que sempre desejei, que era entrar na fisioterapia
da área desportiva. E assim, ingressei no Boavista a trabalhar com o futebol profissional
do Clube.
Mas anteriormente,
já estava ligado ao desporto?
Após o meu
regresso da Guiné, em setenta e quatro, estive a colaborar com o clube da terra
onde nasci e aproveitei esse convite para me iniciar na área desportiva.
Qual foi o
seu primeiro clube?
Comecei com
a equipa de basquetebol do Leça Futebol Clube.
Teve outros
clubes?
Não tive
mais nenhum clube. Do Leça vim para o Boavista. Entretanto, tinha concluído o
curso de fisioterapia desportiva, através do Instituto de Medicina desportiva.
Vamos falar
um pouco dos primeiros tempos de xadrez. Com quem começou a trabalhar?
Comecei no
futebol profissional com o Doutor Acácio Lelo, onde estive até mil novecentos e
noventa. Depois, tive um pequeno um conflito com a equipa médica, mais
propriamente com o Doutor Vieira Braga.
Quer aprofundar
o tema?
Sem problema
algum. Tudo se resumiu a que foram prestadas declarações erradas sobre uma
atleta nossa, a Albertina Dias e com o seu treinador, que era simultaneamente o
marido, o Senhor Belarmino. Como foram prestadas informações erradas sobre o
meu comportamento, eu solicitei apo Senhor Major, Valentim Loureiro e ao Senhor
Tavares Rijo, na qualidade de Vice-Presidente das Amadoras, uma reunião
conjuntamente com o Doutor Vieira Braga, para esclarecer todo o processo e tudo
o que foi dito. Tudo, porque foram proferidas uma série de mentiras e deturpação de factos, que eu queria esclarecer e ser esclarecido, o porquê das afirmações que
foram feitas, num programa de televisão com o Ribeiro Cristóvão. Nessa reunião, só estiveram presentes o Senhor Major e o Senhor Tavares Rijo, dado que as outras pessoas faltaram, tendo comparecido
uma pessoa que não era a indicada, e, por esse motivo, recusei-me a apresentar os factos e
informei o Senhor Major, que me demitia e que nunca mais tarabalharia no
Boavista.
Mas tal não
aconteceu. Por que razão, mudou de opinião?
Porque o
Senhor Tavares Rijo, me chamou após o final da reunião e baseado na proximidade
temporal, da inauguração do pavilhão, apresentou-me uma proposta para eu passar
a trabalhar exclusivamente para as amadoras. Aceitei, baseado nos muitos anos a
trabalhar no Boavista. Tinha amizade pelas pessoas, amizade ao Clube e pelo
gosto, que tinha, pelas condições que o Boavista me estava a proporcionar.
Estávamos em
que ano?
Ano de
noventa e um. Passei nessa data a tomar conta de toda a actividade de
fisioterapia de todas as modalidades amadoras do clube.
Deixe-me
colocar uma questão, que considero pertinente. Quando olhamos para uma equipa
médica, consideramos que estamos a “ver” um mundo pacífico e parece que não é
tanto assim. Concorda com esta visão?
Nem sempre é
um mundo pacífico. Quando acontece algo de anormal, nós somos os primeiros a
ser responsabilizados, numa primeira vaga de críticas, porque somos nós que
estamos junto aos atletas e assim, sofremos o primeiro impacto das lesões que podem
acontecer.
Nessas alturas minimizamos muitas situações que possam acontecer
para o atleta e para a sua recuperação, se logo, desde início, soubermos fazer o
tratamento adequado. O médico e eu, sofremos a pressão da própria mentalidade que o atleta tem, que é “magoei-me hoje, mas quero estar curado ontem”. Muitas vezes, isto leva a
processos de alguma tensão entre as partes interessadas.
Mas nem sempre
o atleta colabora…
Sim. Existem
atletas, a quem nós dizemos o que tem que fazer e depois vimos a saber que ele fez tudo ao contrário. Muitas vezes, mandamos parar uma semana e eles param um
dia ou dois e sentindo-se melhor, regressam á actividade e acabam por estragar
todo o processo de recuperação, estragando todo os trabalho que estava a ser
feito. Felizmente são poucos a fazer isto. Tenho tratado de vários casos,
alguns bem graves, tenho que o dizer, sempre com êxito.
Tem muita
actividade, actualmente?
Quando tínhamos
o pavilhão, havia fins-de-semana que entrava ao serviço, no sábado às duas da
tarde e saía às dez/onze da noite.
Acho que isso também uma prova demonstrativa
do amor que, também, tenho por este clube. Estive sempre disponível, para o que
precisassem, acompanhei as modalidades para a Madeira, para os Açores, para
onde me solicitassem.
Mas a
actualidade é muito diferente desses tempos?
O perder o
pavilhão, foi uma coisa péssima que aconteceu na vida do clube. Tudo mudou e
para pior. Eu sinto isso!
Hoje, os atletas andam todos espalhados, uns treinam
aqui, outros treinam ali, não há a proximidade que havia, quando todos vinham
para o treino e nos concentrávamos no mesmo espaço. Era mais fácil, lidar com
eles, controla-los e ter uma intervenção mais rápida e eficaz sobre as lesões,
se bem que as máquinas que tenho para a recuperação, são praticamente as mesmas
que tinha nessa altura, muito do que aqui se faz, parte do saber e das mãos que
tenho.
Felizmente, tenho conseguido, nos acasos de simples e média gravidade,
resolvê-los ao fim de uma/duas semanas, alguns até em quatro dias se têm
resolvido.
Há alguma
modalidade que lhe dê mais trabalho?
De uma
maneira geral, são todas iguais. Umas vezes é o futsal, outras, o andebol e até
a ginástica. Mas não há nenhuma que dê mais tarbalho, em particular.
Por exemplo, a ginástica,
como as atletas são mais jovens e sofrendo algumas pequenas lesões, os pais procuram-nos para conversar
connosco, essa contacto, tranquiliza-os e tudo se torna mais fácil.
Há quanto
tempo faz equipa com o Doutor, Pinto de Sousa?
Creio que a
partir de noventa e dois que trabalhamos os dois em conjunto.
Falemos das
instalações. Sinto que estão um pouco descontentes. Quais as razões?
Quando destruíram
o pavilhão, foi-nos prometido que a passagem para aqui, seria uma coisa transitória.
As nossas condições, são precárias, não considero que tenha condições para o
nosso trabalho, é um local frio com dificuldades no próprio aquecimento que
muitas vezes falha, que nos leva a estar um pouco desiludidos com a situação,
porque, era considerado uma situação temporária e já passaram cerca de treze anos,
antes da inauguração do estádio.
Prevê-se uma
alteração de instalações?
As promessas
estão feitas, mas promessas… são promessas. O estudo feito determinava que a
nossa localização seria no espaço da ginástica, que tem excelentes condições,
mas a falta de um elevador, para os doentes que dele necessitem, inviabiliza
essa nossa deslocação para esse espaço.
Em tempos do Rui Gonçalo, como
Vice-presidente, ainda se estudou, mais a sério, essa situação, fez-se um
projecto de tudo, mas as coisas sofreram alterações e tudo voltou à estaca
zero.
Mas isso não
lhe retira a dedicação ao clube?
Estou de
corpo inteiro sempre. Enquanto, Deus me der vida e saúde estarei aqui, lutando
para melhorar. Se calhar, só pensarei em sair para casa, quando tivermos as
verdadeiras instalações para o departamento médico. Depois da inauguração
dessas instalações, continuarei mais um ano e depois sairei, mas até lá
continuarei aqui.
Inaugura-las
e entrega-las?
Seria o
maior gosto. Inaugurar as instalações médicas das amadoras e ao fim de um ano
sair. Não dizer adeus ao Boavista, mas ir descansar um bocadinho, ao fim de
todos estes anos.
Estes anos
trouxeram-lhe amigos?
Tenho o
coração cheio de amizades. Pelo clube e por todas as pessoas que me rodearam
estes anos neste clube.
Algum momento
mais marcante?
Um... que é
inesquecível, quando fui galardoado pela Pantera, que a tenho em casa com muito
orgulho e gosto. Tenho-a, exposta em casa e quando os amigos me vistam me
perguntam qual é o seu significado. Digo, com vaidade e orgulho, que significa
que fui considerado um dos principais elementos do Boavista, para ter direito a
ela.
Entrevista de
Manuel Pina