José Basto,
é o responsável pelo grupo de Gymnaestrada do Boavista. Um apaixonado pela
modalidade, nascido em Madrid, Lisboeta pela sua formação humana e educacional
e tripeiro, por adopção. Um homem do mundo, amante da natureza e muito convicto
dos seus ideais.
Foi com ele
que iniciamos uma entrevista, á qual, sensivelmente a meio se juntou, a técnica
do grupo Isabel Barros Barreira.
José Basto,
começou, como seu timbre… falando pausadamente e medindo as palavras, mas com o
passar do tempo foi-se libertando, pelo entusiasmo do seu grande amor… à Gymnaestrada.
Quando começou
a sua actividade no Boavista?
E eu, coloco
essa mesma questão. Que é isso de Gymnaestrada?
O nome é
derivado de “Gymno”, de ginástica e “strada” derivado de estrado, palco de
exibição e não como erradamente, muitos interpretam como estrada. Portanto, é
uma exibição de ginástica.
Quando
começou a ser atleta de Gymnaestrada?
Eu já tinha
ido à edição da Dinamarca, em Herning, quando fazia ginástica no Sporting.
Quando me desloquei para viver no Porto, passei a fazer ginástica no Boavista.
A partir daí passamos a participar em todas as edições da Gymnaestrada.
Resuma, em
que consiste cada edição?
A Gymnaestrada,
é um festival mundial, que se realiza de quatro em quatro anos, e que por
acaso, tem sido sempre na Europa, mas para os quais, vem gente de todo o mundo.
Na totalidade de presenças em cada edição, chegam a estar entre vinte a vinte e
cinco mil pessoas, ou seja , o dobro do número de atletas que participam nos
Jogos Olímpicos.
Tenho
conhecimento que a próxima edição será no mês de Julho. Qual a cidade?
A edição
deste ano, será em Helsínquia, de 12 a 18 de Julho e uma vez mais, estaremos
presentes a representar o Boavista.
Existe
alguma especialidade/variante que seja obrigatória nas exibições de cada grupo?
A
especialidade da Gymnaestrada é aquilo a que antigamente se chamava, ginástica
geral e que agora se chama ginástica para todos. Ou seja, podemos escolher
várias vertentes gímnicas, desde, Dança, Acrobática, Folclore, Aeróbica (todas
as especificidades temos no nosso grupo). Juntamos várias interpretações
musicais. Interpretamo-las convenientemente e
e apresentamo-la em conjunto. No fundo, isto é um grupo de exibição e a
ginástica que é apresentada, tem que ser sempre uma ginástica de grupo. Não há
exibições individuais, não há medalhas, não há classificações, não há nada mais
que mostrar ao mundo, aquilo que sabemos fazer. Participam nestas edições
pessoas de tenra idade, como por exemplo, de quatro anos, até pessoas com
oitenta ou noventa anos.
Essa
diferença etária existe no grupo do Boavista?
Sim. No
nosso grupo, temos uma menina com nove anos e uma senhora com setenta e sete anos.
Qual o número
de atletas que compõem o grupo do Boavista?
O nosso é
composto por trinta e três pessoas, mas só vamos deslocar a Helsínquia trinta atletas.
As pessoas que ficam em Portugal, não se podem deslocar por razões
particulares.
Quem trata
da organização e logística, quer das deslocações, do alojamento e da
organização da prova?
Todos os
ginastas têm que estar filiados nas suas federações de ginástica. Nós estamos
filiados na Federação de Ginástica de Portugal. A organização da Gymnaestrada, é
de responsabilidade da Federão do país organizador, sob a égide da Federação
Internacional de Ginástica.
Em que
edições o Boavista já participou?
Já fomos em
1991 a Amesterdão, em 95 a Berlim, em 99 a Gotemburgo, em 2003 foi em Lisboa e
foi curiosamente a edição com maior número de participantes. Em 2007, foi em
Dornebirn na Áustria. Em 2011, foi em Lausanne na Suíça e este ano será em
Helsínquia.
Para esclarecer
os nossos leitores, pergunto quem assume as despesas?
Todas as
despesas são de nossa responsabilidade, cada atleta do grupo paga a sua parte.
Para este efeito, vamos cotizando durante o tempo de intervalo entre edições,
um valor para permitir que cada pessoa tenha na altura, o valor necessária para
se deslocar ao evento. Para lhe dar um exemplo, nós este ano, para além das
nossas duas exibições, teremos que estar presentes na noite Luso/brasileira.
Em
todas as edições cada país organiza uma gala. Este ano, Portugal e Brasil,
farão uma gala conjunta. Por causa disso, tivemos que realizar vários treinos.
Já nos deslocamos ao Bombarral e Lisboa e participamos no Festival Nacional de
Ginástica que se realizou em Loulé. Tudo isto, é pago por nós.
Neste caso,
a ligação ao Clube, é quase autónoma…
O Boavista
ajuda, com as filiações, cedências de instalações, seguros e toda a parte
burocrática.
Nesta fase
da nossa conversa chegou a técnica do grupo, professora Isabel Barreira, que
deu desde logo uma “ajuda” entrando na conversa que passou a três…
Quantos
treinos realizam por semana?
É habitual a
participação do grupo nos Saraus do Boavista?
Participamos
sempre, mas deste feita, não iremos participar porque as datas do Sarau do
Clube e edição de Helsínquia se sobrepõem.
Há muitos
clubes, de gymnaestrada em Portugal?
Esta
modalidade está aberta a todas as classes de ginástica, é óbvio, que não sendo
uma classe de competição, como por exemplo, a Ginástica Artística, tem um
problema que é a questão dos aparelhos.
A especificidade da área gímnica, acaba
por ser limitada. Mas a Acrobática já não, a Rítmica também não. Mas depois,
tudo fica condicionado aos orçamentos familiares, para se participar nas
edições e saraus anuais.
No fundo, sabemos que trabalhamos durante quatro anos
para preparar e enfrentar as despesas para estas saídas. Sabemos que existem
exibições regulares, mas acontecem durante o ano, vários convites, aos quais só
vamos se estiverem dentro do orçamento que idealizamos.
Deixem-me
colocar uma questão conjunta. Quando existe competição, o atleta treina com o
objectivo de obter resultados. No vosso caso, sendo só exibição, em que se
baseiam para manter o hábito do treino?
O Basto, melhor que eu pode responder a isso, que anda há muito mais anos que eu neste processo, no entanto, eu acho que a grande definição deste género de classes, é o gosto de praticar ginástica e o convívio que têm uns com os outros.
A
primeira vez que participei foi em 1987. A minha experiencia diz-me que a
primeira vez, que se participa numa Gymnaestra, integrado numa comitiva
nacional, que em média, é composta por mil e duzentos e já chegou a ser de mil
e oitocentos atletas, que se deslocam a uma cidade da Europa e encontram vinte
mil pessoas de todo o mundo e não tendo a pressão de obter qualquer medalha, do
tempo, do objectivo, do alcançar, como nos jogos Olímpicos, uma pessoa sente-se
no paraíso. É um paraíso Gímnico e convívio com pessoas de todo mundo e de
todas as idades.
Compreendendo
que pessoas com uma idade mais avançada, sintam isso, mas o que leva uma jovem
a entrar nesse mundo, sabendo que não conquistar nenhuma medalha? Quem a leva a
tomar essa opção?
Nenhuma
menina que anda nesta classe, anda obrigada. Experimentaram, gostaram e
ficaram. Algumas delas, andam simultaneamente em classe de competição e
conseguem conciliar as duas especificardes e tempos de treino. Acho, que elas
gostaram da experiência de associar a ginástica ao convívio e prazer.
É
curioso ver que estamos a falar de sete meninas com idades dos sete aos catorze
anos, que convivem com uma facha etária com muito mais alta. Acho que metade da
classe tem mais de quarenta e cinco anos.
O prazer,
que sentem nas exibições públicas, também o sentem nos treinos diante todo o
ano?
Sendo
somente um treino semanal, temos que sentir essa alegria e prazer. Mas também
temos que potenciar o treino. Até porque o currículo de aprendizagem nestas
idades, não é igual para todos. Há uns que aprendem mais rápido, outros com
mais dificuldades e tem a ver com a coordenação e eles gostam de fazer bonito e
bem, coisas difíceis e o difícil requer tempo e treino.
Que tipo de
músicas e movimentos treinam?
Temos
vários tipos de música. Temos o “Fado” que é fado. Temos o “Vinho do Porto” de
Carlos Paião que é folclore e temos uma música que é de Ginástica Aeróbica.
Isso obriga a treinar três tipos de dança gímnica, que é aeróbica e acrobática.
O que interessa é fazer uma coisa bonita e que todos gostem. Que se sintam bem
a fazer e consigam fazer.
José Basto.
Quase trinta anos a praticar... Há limite?
Não,
não há limite. Enquanto tiver saúde e conseguir pôr um pé à frente do outro,
não haverá limite e irei a todas as edições. Temos a senhora que tem setenta e
sete anos, que já nos garantiu que irá à próxima edição em 2019…
Terá
oitenta e uma anos. É claro que não se treina só para a Gymnaestrada de quatro
em quatro anos, há saraus, há convites que proporcionam passeios que todos
gostam e servem de apoio para os treinos.
Professora,
as músicas mantem-se durante esses anos?
Eu não
mantenho sempre as mesmas músicas. Há uma que mantive, porque todos fazem
questão e que nos identifica, como representantes de Portugal, que é o “Vinho
do Porto” que é representativo do nosso país. Mas tirando esta, renova-se,
altera-se para manter o prazer e empenho vivo.
Para além de
tudo…ainda existe a actividade física.
Num país em
que o futebol, quase apaga todos os outros desportos, não vos custa ver que a
vossa modalidade seja tão pouco divulgada?
É
evidente, mas temos que fazer um notar uma coisa. Nós somos no Porugalgym, em Loulé
estiveram cerca de quatro mil atletas, isso não despiciente. Mas de onde são a
maior parte dos atletas? Respondo-lhe. Da Lourinhã ou das Caldas da Rainha para
sul. Este espirito de ginástica de grupo e exibição, parece que ainda não
chegou cá a cima. Temos muita gente a fazer esta ginástica na zona de Lisboa e
Algarve e na zona da Lourinhã e Coimbra. De Coimbra para o norte só há o São
Pedro e o Boavista. Há aqui em Praia de Ancora um clube (o Ancorense) que já foi
a uma gymnaestrada, mas porque se realizou em Lisboa.
Existem
muito clubes de ginástica em todo o país, mas muitos somente se dedicam à
competição e para esta ginástica de grupo e exibição, existem pouco ou nenhuns
apoios.
Convenhamos
que é uma modalidade cara. Qual o limite de inscrições para o grupo do
Boavista?