Joaquim Carlos Lopes, é um exemplo de dedicação ao desporto. Atleta de
Atletismo, de Triatlo e Duatlo, foi o "pilar" para a inscrição de uma equipa do
Boavista de triatlo e tem mais objecivos para o futuro.
Uma entrevista, longa mas
positiva, de um atleta de fundo - nascido em Guimarães, mas pantera de coração
- nesta segunda passagem a defender as cores do xadrez.
A história de um Campeão!
A APRESENTAÇÃO
Vamos fazer uma apresentação desportiva, pormenorizada, de Joaquim
Carlos Lopes?
A minha actividade desportista começou em mil novecentos e setenta e
oito e, sinceramente, não sei qual a razão, porque participei numa corrida de
atletismo nos arredores da cidade de Guimarães.
Que é a sua terra natal?
Sou do concelho de Guimarães, mas nasci nas Caldas das Taipas, junto
ao Rio Ave, onde se dividem os concelhos de Guimarães e Braga.
Continuemos com a sua apresentação. Voltamos a primeira corrida. Teve consequências?
Como ia dizendo, essa foi a minha primeira corrida, que me deve ter
corrido bem, porque a partir daí, comecei a receber vários convites de clubes
apostados na formação de atletismo.
E qual clube escolheu?
Iniciei-me nos Ases de Santa Eufémia, que é uma localidade do concelho
de Guimarães já encostado ao concelho de Vila do Conde. Já como juvenil, transferi-me
para o CR Madre de Deus, de Guimarães.
Passados dois anos, o Desportivo Francisco de
Holanda fundou a secção de atletismo. Nessa altura, haviam clubes com muito bom
nível na modalidade em Guimarães – incluindo o Vitória –
mas eu optei pelo Francisco de Holanda.
Terminada a minha formação nos escalões de
juniores, passei a representar a equipa de Fafe, o Recreio Cepanense.
Sei que esse foi um contrato diferente dos anteriores. Quer
pormenorizar?
Foi o meu primeiro contrato como sénior e primeiro contrato em que fui
subsidiado para praticar atletismo.
Qual a sua especialidade?
Era corredor de fundo, de meio fundo e obstáculos. Comecei a fazer
corridas de obstáculos, muito cedo, embora não tivesse estatura para o fazer,
mas tinha um bom desempenho.
A PRIMEIRA PASSAGEM PELO BOAVISTA
E depois, aparece pela (primeira vez) o Boavista. Como se processou a
entrada no Boavista?
Aconteceu em mil novecentos e oitenta e nove. O Boavista, era dirigido,
pelo Senhor António Dias, que foi “pescar” ao Cepanense três atletas, o José
Sousa, o Francisco Lopes (que é meu irmão) e a mim, que era atleta sénior de
segundo ano.
Quantos anos esteve no Boavista?
Estive no Boavista cerca de sete anos, sempre como atleta subsidiado,
e posso dizer-lhe que foi aí que cimentei o sentimento que tenho pelo Boavista
Futebol Clube. Sou adepto boavisteiro a cem por cento.
Um Vimaranense apaixonado pelo Boavista, não é fácil. O que aconteceu
para o nascimento desse amor?
Foi curioso e nem muito agradável. Eu era espectador assíduo a todos
os jogos de futebol do Vitória de Guimarães, desde os sete anos. Quando tinha
catorze anos, estava a assistir a um jogo entre o Vitória e o Boavista em
Guimarães.
Esse jogo, redundou num jogo de grande pancadaria que na altura não
entendi quais as razões, mas que posteriormente me viriam a explicar as razões, se
pode haver razões para tal situação. Acabaram por incendiar o carro ao árbitro
e depois disseram que tudo era consequências de um jogo de uma final da Taça de
Portugal, disputado entre os dois clubes.
Não gostei do que vi. Com as
agressões feitas pelos adeptos do Vitória e terminei a minha ligação a esse
clube, começando a minha simpatia pelo Boavista.
Com o ingresso, no Boavista a
minha simpatia aumentou até atingir a paixão actual. O maior fruto dessa paixão
é que a minha filha nasceu Boavisteira desde o berço.
Voltando a sua apresentação. Era atleta subsidiado do seu clube de
coração, porque aconteceu então a sua saída do Boavista?
Os anos eram, já de alguma crise e os subsídios, eram diminuídos todos
os anos, recordo-lhe que era atleta profissional e dedicado exclusivamente ao
atletismo. Essa diminuição atingiu números que passaram a ser impossíveis para
garantir as despesas diárias, para vir das Taipas ao Porto para os treinos.
Como tinha uma filha,
com dois anos, que me aumentava as responsabilidade. Tomei a decisão de sair do
meu clube, apenas por razões materiais.
Na minha passagem pelo Boavista, fui
sempre excelentemente bem tratado e nunca me faltaram a quaisquer alíneas do
contrato que assinamos.
Foi uma fase difícil?
Absolutamente. Reconheço que cheguei a duvidar das minhas capacidades
e hoje, entendo porque não atingi uns patamares que tinha como naturalmente
possíveis e ao meu alcance. Mas mesmo não atingindo um nível que outros atingiram,
sinto um grande orgulho por tudo que fiz e - muito importante – por ainda andar
aqui hoje.
RESULTADOS MAIS SIGNIFICATIVOS
Quais os resultados mais importantes que se recorda?
Nos anos que estive no Boavista, estive sempre nos “topes seis” dos
campeonatos regionais do Porto. Fiz parte da equipa do Boavista que ficou em
terceiro lugar, nos campeonatos Nacionais de corta-mato em Coimbra. Fui Campeão
e Vice-campeão da zona norte nos 10 mil metros de obstáculos, com apuramentos
para os nacionais.
Qual o clube passou a representar?
Saí do Boavista em mil novecentos e noventa e seis e aceitei um
projecto que me foi apresentado pelo Maria da Fonte, clube da Póvoa de Lanhoso,
para fundar a secção de atletismo do clube. Estive lá dois anos, baseado em
promessas que não foram cumpridas na sua totalidade. Optei por procurar um
emprego e terminei a minha carreira, com profissional.
ATLETA DE COMPETIÇÕES DE MONTANHA
E mudou de modalidade…qual?
Decidi-me por realizar corridas de montanha, para poder conciliar com
a minha profissão, que me obrigava a trabalhar aos fins-de-semana.
Fiz o circuito nacional de montanha, durante cerca de oito anos, em
representação dos Gaienses Toyota.
O TRIATLO
Como se transfere para o Triatlo?
Foi no ano dois mil e por desafio de um amigo, apaixonado e um dos
pioneiros do triatlo em Portugal, o Aníbal Oliveira, que me desafiou a fazer um
duatlo, porque tinha conhecimento que eu possuía uma bicicleta de montanha.
Essa prova. foi um campeonato nacional por idades, que teve lugar na
Póvoa de Lanhoso, onde, por curiosidade, correu a Vanessa Fernandes, ainda no
início da carreira e que foi vencida pelo campeão do Mundo de Duatlo, Lino
Barruncho, hoje Selecionado Nacional.
Fiz uma excelente prova e terminei em
oitavo lugar, mesmo tendo sido vitima de um "complôt" de atletas que me isolaram
propositadamente no segmento de ciclismo, porque sabiam que eu nesse segmento
era muito forte. Corri como individual, porque se o tivesse feito inscrito como
federado, teria sido campeão nacional do meu escalão. Mas assim nasceu uma nova
paixão.
Com idade contava?
Cerca de trinta e três anos.
E depois?
O meu amigo, inscreveu-me no clube a que pertencia o Amiciclo de
Grândola, depois de eu ter corrido em várias provas individualmente, com
resultados que espantavam as pessoas do circulo do duatlo.
Mas sei que há aí mais uma curiosidade, com a sua filha (publicaremos
oportunamente entrevista com esta Campeã). Quer explicar?
A minha filha tinha doze anos e era uma excelente desportista. Como o
clube era de longe (Grândola) desafiei-a a acompanhar-me… fizemos o nosso
primeiro duatlo federado lado a lado. Ela correu e venceu! E esse foi o nosso
início no duatlo para mim e do triatlo para ela.
Para si como surgiu o triatlo?
Ao ver as sucessivas provas da minha filha - eu que não sabia nadar -
comecei a pensar que se conseguisse acompanhar os últimos a sair da água,
depois em terra teria hipóteses de competir num triatlo. Fizeram-me esse desafio e
eu experimentei. A partir desse dia até hoje, o triatlo passou a ser a minha
paixão.
DE NOVO O BOAVISTA…TRIATLO
Sei que foi um impulsionador da criação da equipa de Triatlo do
Boavista. Qual o ponto da situação?
Tive alguns convites de clubes do norte para ingressar nesses clubes e
me aproximar de casa, mas os projectos não ião ao encontro daquilo que penso
sobre o triatlo e anão aceite, nenhum desses clubes.
Coloquei a mim próprio a questão “se faço desporto
apenas por amor á camisola, porque não o fazer no clube que amo, com a camisola
que pretendo vestir”? aproveitei o regresso do atletismo no Boavista e
disponibilizei-me ao Baltasar Sousa para ingressar no clube. Com esta decisão
passei a pertencer ao atletismo do Boavista. Represento o clube sem qualquer custos,
para o Boavista.
Quanto ao triatlo, é evidente que os clubes têm dificuldades em formar
equipas com número de atletas suficientes para se fazer uma boa equipa de
triatlo, eu, por exemplo, fui o treinador da minha filha até ela ter vinte
anos, só a entreguei a treinador especializado após essa idade, o que verifico agora,
ter sido tarde, para o aproveitamento total das suas reiais capacidades.
Com esta libertação de tempo, pensei e decidi fazer uma equipa de
triatlo no Boavista Futebol Clube.
O Baltasar ajudou no registo do clube na
Federação de Triatlo, que não tem nada a ver com a federação de atletismo. E assim
nasceu a equipa de triatlo do Boavista.
Mas a equipa já está em competição oficial?
Já. Todos os atletas interessados ao ingressar no clube, me perguntam as condições para ingressar no
Boavista e eu informo-os, mas realizo uma seleção rigorosa, porque não é qualquer
corredor que tem condições para representar o Boavista. A selecção que faço é
rigorosa, pode crer nisso.
A última prova em que participamos, foi a apresentação oficial da
nossa equipa. Estivemos presentes com três atletas e conseguimos o quinto lugar
colectivo.
O ATLETA DE TRIATLO
Qual é o segmento em que sente mais forte na competição?
Tenho mais dificuldade na natação, porque não tive escola.
Inicialmente nadava como a maior parte dos portugueses, o que obviamente não
chega para competir.
Com a minha idade, eu não estou a treinar para ser o
campeão de Portugal, nem da minha rua. Treino o suficiente para estar entre os
melhores do meu escalão etário e é isso. que me motiva para trabalhar.
No segmento de corrida é a que me sinto melhor, já que a faço desde os
nove anos de idade, aliás este ano fui campeão regional do Porto, em corta mato
curto, representando o Boavista.
Para se estar no tope no triatlo, tem que se
andar no tope em todos os segmentos da modalidade.
Um atleta de triatlo tem que ser um super-homem?
Essa é uma ideia errada que as pessoas têm. O conceito é verdadeiro o
campeão de triatlo tem que ser um super-atleta natural no conjunto dos
segmentos. O treino é igual para todos.
Eu perco muito na natação mas consigo
recuperar nos outros segmentos, mas nunca terei hipótese de vencer os melhores,
porque falhei na natação de início. Os meus resultados são conseguidos nos
triatlo todo terreno, onde eu consigo andar muito na montanha.
É fácil verificar o orgulho que sente na sua filha Rita. Como aparece a
Rita no desporto?
A Rita, nasceu no Bessa! Já assistia aos jogos e meus treinos, ainda
na barriga da mãe. Os seus primeiros passos de corridas na antiga pista do
campo de treinos do Bessa. Nasceu cá.
Eu fiz-me Boavisteiro ao estar cá, mas a
Rita já nasceu Boavisteira.
Como nasceu como atleta?
Mal começou a andar praticou sempre desporto, porque eu só penso
nesses termos. A Rita fez natação, ballet, etc… o meu amigo que era presidente
da federação de triatlo, convidou-a a estar presente numa prova e eu pensei se
a Rita começasse a treinar de pequena, podia vir a ser uma excelente atleta. E foi
assim que começou, até se sagrar Campeã nacional de Cadees e representar a
seleção nacional.
Como se consegue ser atleta de triatlo e ter uma profissão, sem um
horário certo?
Com muito gosto pelo que fazemos e tendo consciência que roubo muito
tempo à cama e descansando pouco.
Resumindo. Aquele jogo de pancadaria, deu (anos depois) o nascimento de
uma família Boavisteira?
Exacto. Primeiro eu, que aprendi a ser Boavisteiro e depois a Rita que
já nasceu pantera e como consequência…a mãe também virou axadrezada.
Sei que tem um sonho, para o triatlo axadrezado. Qual é?
Quero e isso vou conseguir, aumentar o número de atletas de triatlo no
Boavista. Mas o meu sonho é trazer a Rita para o Boavista (em triatlo), mas
preciso de trazer mais alguns atletas para formar uma equipa de jovens e
começar uma equipa de triatlo para o futuro, mas para isso, precisamos de
apoios para fazer frente ás despesas e inscrições indispensáveis.
Com patrocínios
este sonho, vai tornar-se realidade.
Entrevista de
Manuel Pina