"NÃO SOU ESTRELA NENHUMA, SOMOS TODAS IGUAIS. O QUE EU CONSEGUI AS MINHAS COLEGAS ,PODEM VIR A CONSEGUIR TAMBÉM"
Madalena Lages, é uma das promissoras atletas de ginástica rítmica do
Boavista, que entre vários títulos conquistados na presente época, conquistou o
Título de Campeã Nacional da primeira divisão.
Algo tímida, no início, mas sempre segura nas afirmações, com o
decorrer da entrevista foi-se libertando. Duas vezes, considerada a melhor
atleta do Boavista, mantém a simplicidade dos seus tenros anos e a humildade de
uma Campeã. Vamos conhecer a Madalena
Lages.
Tenho treze anos.
Há quanto tempo praticas ginástica?
Desde os seis anos, por isso, há sete anos, que pratico.
Como surges no mundo da ginástica?
Primeiro, por curiosidade, natural da idade. Vim com uma amiga e gostei,
acabando por ficar. Curiosamente, a minha amiga acabou por desistir da
ginástica, mas em mim, nasceu o amor pela modalidade.
Como reagiram os pais, pela tua opção?
A reação foi positiva… claro, mas surgiram alguns problemas, porque
a minha mãe não tinha hipótese de me trazer aos treinos. A solução, foi
encontrada através de uma tia minha, mãe da Constança, que me passou a trazer
aos treinos.
Então a tua tia, também tem um bocadinho das tuas medalhas?
Ter, não tem, mas merecia ter, como os meus pais merecem.
Entre vários títulos conquistados, vamos falar do mais importante. Este
ano, sagraste-te Campeã Nacional da 1ª divisão. Como te sentiste nesse dia?
Fiquei muito contente, porque foi um título muito importante e muito difícil
de conseguir.
Estavas à espera de o conquistar?
Na ginástica é sempre difícil, apontar para alguma medalha, basta um pormenor,
para tudo se perder. Por isso, não estava á espera, mas actuei, como sempre, tentando fazer o melhor possível. Tudo correu bem e fiquei muito feliz, com a
conquista.
Talvez não saibas, mas o último título equivalente ao teu, conquistado
pelo Boavista, foi conseguido há mais de dez anos. Tens a noção da importância do
teu título para o Clube?
Não sabia. Mas sinto orgulho nessa conquista e sinto que as minhas colegas se
trabalharem também o vão conseguir alcançar.
Dentro de todos os aparelhos da rítmica, qual o que mais gostas e o
que gostas menos?
Gostar, gosto de todos, só assim se pode ganhar. Sinto-me mais à
vontade com o Arco e com mais dificuldades na Fita.
Quando inicias uma prova, estás completamente descontraída, ou ainda
há alguns nervos?
Ainda sinto um bocadinho de nervos, porque naquele espaço de tempo,
tudo tem que ser perfeito. Mas tento controlar-me para conseguir o melhor
possível, porque com nervos é muito mais difícil, realizar os esquemas sem
falhas.
A ginástica não perdoa… é preciso muito treino. Qual o teu tempo de
treinos?
Treino três horas por dia e … todos os dias, menos ao domingo.
Vem o tempo de férias. A ginástica também entra de férias, ou “vai” na
mala?
Mesmo nas férias tenho que fazer treinos todos os dias, para não
perder o ritmo e não ser tão difícil o retomar os trabalhos na próxima época. Serão
treinos mais leves e livres, mas são necessários.
Quem são as tuas treinadoras?
A Teresa Morgado, a Amanda Batista e a Cora Vieira.
Como é que uma menina com treze anos, consegue isso tudo e ainda
estuda. Como se concilia uma vida assim?
Tento organizar-me o melhor possível e aproveito bem pequenos tempos. Na
escola, estou com o máximo de atenção possível, para não precisar de estudar muito tempo, em
casa.
Em que escola?
Na escola Francesa e estou no sétimo ano.
Atrás de uma Campeã, tem que haver grande apoio. Que dizes sobre os
teus pais, nesse aspecto?
Que me apoiam muito e sem eles a maior parte do que conquistei não
seria possível.
Sei que venceste o título de Atleta do ano de 2016, na ginástica do Boavista,
como te sentiste com esse reconhecimento?
Muito orgulhosa, mas eu já tinha vencido esse título na época
anterior.
Então és Bi-vencedora?
Sou, por isso, me orgulho mais.
Vamos resumir a tua participação no Campeonato Nacional. Que lugares,
do pódio conseguiste?
Primeiro lugar em Arco, segundo lugar em Bola, terceiro em Maças e
Corda. Também fui Campeã Distrital esta época, como individual e Campeã
Distrital de conjuntos.
Uma pergunta complicada. Duas vezes a melhor atleta, com te sentes
entre as tuas colegas e como elas te veem?
Pela minha parte, não me sinto melhor que elas. Aqui não há estrelas. Estamos
todas no mesmo patamar e acho que elas me apoiam muito.
Não te sentes um exemplo para elas?
Posso servir de exemplo só para que vejam que todas podemos conseguir,
porque tudo é possível de alcançar. Só nesse aspecto, posso ser exemplo. Reconheço, que na minha escola, vejo meninas que querem praticar ginástica um pouco pela
minha influência, mas no Boavista, somos todas iguais.
Como te sentes no Boavista, que é o teu único clube?
Gosto muito de estar cá. O ambiente é muito bom, todas nos damos muito
bem. Passamos muito tempo juntas e isso, criou em nós uma amizade forte, que
nos ajuda nos treinos, mas que nos une muito quando as coisas correm menos bem.
Somos amigas, atletas, competidoras mas também brincamos todas juntas. Somos uma
família de gente jovem.
Como sabes, há outros países mais evoluídos na ginástica que Portugal.
O que nos falta para se atingir um patamar de igualdade?
As ginastas de outros países treinam mais tempo que nós e terão mais
condições pessoais, nos estudos, para esses treinos. Por isso, é normal que
tenham melhores resultados que nós. Elas têm menos tempo de aulas que nós e em
outros horários. Os tempos que nós temos de aulas elas estão a treinar, isto é
um exemplo, mas é muito importante, para além das condições que têm para os
seus treinos.
Pessoalmente, sentes uma evolução constante nas tuas participações?
Claramente. Sinto que todos os anos tenho estado melhor que nos anos
anteriores e, este ano, foi muito marcante. Consegui melhorar tudo e sempre. Estou
muito mais forte e confiante que quando comecei a época e já me sentia muito
bem.
Essa evolução é natural e pessoal ou houve outras razões?
Acho que o treino também evoluiu muito. As treinadoras estão mais
aplicadas e exigentes, porque nos sentem, também, mais aplicadas e rápidas na
evolução. Antes, nós estávamos, um pouco paradas e as treinadoras, não podiam
continuar na evolução. Agora sinto que somos mais uma equipa e que todas
estamos a andar para a frente. Sem o nosso trabalho, elas não podem evoluir,
sem elas não podemos evoluir. Temos que ser uma equipa e estamos todas muito
motivadas.
És o exemplo dessa evolução?
Eu tenho sempre melhorado os meus resultados, nem uma vez esta época, eu
obtive um resultado inferior ao anterior. Foi sempre em crescendo e sempre
melhor, acho que isso prova a evolução.
Eu tenho um segredo teu. Para além de tudo, sei que ainda fazes Ballet, com
excelentes resultados. Estavas a ver se te escondias? Vamos lá a falar disso.
Bailarina?
O Centro de Dança do Porto escolheu-me para alguns papeis de em
espetáculos de ballet, pelas minhas actuações na ginástica.
Que foram?
Em Novembro e Dezembro de 2015 fui protagonista do bailado Conto de Natal exibido na base da Árvore de Natal luminosa da Câmara Municipal do Porto,
a convite da CM do Porto.
Participei na Gala de Bailado, em dezembro 2015 na Fundação ALORD, em
Paredes.
Participei, nos concursos; WORLD CUP DANCE - Portugal, na Figueira da
Foz em Fevereiro de 2016) e no Dançarte – Algarve International Dance
Competitions em Março de 2016.
Participei no Bailado D. Quixote no Teatro do Campo Alegre no Porto em
Abril de 2016 e como Solista no bailado a Sereiazinha, no auditório do
Europarque em Vila da Feira em Junho de 2016.
Mas eu sei, de mais um a nível mundial. Qual foi?
Participei em Londres, Imperial Sociaty Dance Teatchers. Havia quatro
prémios a nível mundial e eu…venci um!
O que pensas das tuas treinadoras? Podes dizer mal…
Como já disse, também o conjunto de treinadoras evoluiu muito. A Amanda
é mais que uma treinadora, é uma pessoa que vive para a ginástica, que ama o que
faz e isso contagiou as colegas, neste momento, as nossas treinadoras, formam
um trio perfeito que é responsável pela grande evolução que todas estamos a
ter.
Ginástica e Ballet. Dois amores. Qual vai vencer?
Eu, porque sou eu que gosto deles, sou eu que mando. Quem vai ganhar
serei eu!
Entrevista de
Manuel Pina