quarta-feira, 4 de maio de 2016

JOSÉ RAMALHÃO, DO FUTEBOL PARA O BILHAR

Entrevistamos, José Ramalhão, bilharista do Boavista Futebol Clube, que começou por pelo futebol e só uma lesão grave o trouxe para o Bilhar, para ser campeão..

José Ramalhão que idade tem?

Tenho cinquenta e oito anos.

Como se iniciou no bilhar e há quanto tempo?

Comecei na modalidade muito tarde, porque a minha prioridade foi sempre como jogador de futebol.

Em que clubes jogou como futebolista?

Joguei no Mafra, no meu tempo de tropa, e posso dizer-lhe que estive para continuar o serviço militar como profissional, mas acabei por desistir da ideia. Vim morar para Gaia, onde fiz a minha vida, onde casei e continuo a residir. 
Assim, passei a jogar futebol no Candal. Do futebol de onze passei a jogar no futebol de salão, ainda antigo, com as condições de não poder jogar a bola acima do joelho. 
Comecei a jogar em campeonatos interempresas, já com a idade de mais de quarenta. Era no fundo, um bom jogador de futebol.

Foi a idade que o fez parar?

Não. No decorrer de um jogo, que penso que foi contra a SAD do Boavista, sofri uma lesão e fracturei a tíbia e o perónio e tive uma ruptura de ligamentos num dos joelhos. Praticamente acabei para o futebol.

Em que época estamos a falar?

Foi durante o ano de dois mil e um.

Então o ingresso no Bilhar é derivado a essa lesão?

É de certo modo, caricato, mas é um facto. A recuperação, demorou muito e dois anos depois, ainda eu andava de “muletas”, cheguei a pensar que nunca mais recuperava. Para passar o tempo, fui ver um torneio de bilhar que se realizou no Centro Comercial da Arrábida e eu levei o meu filho, que curiosamente também joga no Boavista.

Quem é?

É o Vasco Ramalhão, e tem na atualidade vinte e um anos, mas nessa altura deveria ter cerca de cinco anos.

Voltemos ao ingresso na modalidade…

Durante esse torneio., pedi ao Senhor da Federação se queria jogar uma partida. Jogamos e no final, disse-me que eu tinha habilidade para o Bilhar. Perguntei-lhe onde me podia inscrever, num clube em Gaia. Indicou-me o Clube do Restaurante Conquistador. Passados uns tempos e depois de recuperar totalmente, decidi-me procurar o tal clube. 
Encontrei uma sala cheia de pessoas, mas com um bilhar livre e convidei um desses indivíduos para jogar uma partida. Curiosamente, a recepção não foi muito agradável e depois percebi porquê. Esse senhor, era o Campeão Nacional, o José Seixas. Terminada meia dúzia de partidas, ele convidou-me para me inscrever no clube.

Por isso, começou no clube do restaurante Conquistador?

Sim. No primeiro ano, andei a aprender as regras, todos os pormenores e “truques” do Pool e no segundo ano, sagrei-me Campeão Nacional.

Campeão, no segundo ano?

Exactamente. Sagrei-me campeão nacional por equipas. Individualmente, classifiquei-me em quinto lugar.

Foi um grande início de carreira. E como continuou?

A partir daí, foi sempre a evoluir. Ganhei três Taças de Portugal, ganhei duas/três Supertaças. A nível individual, fui o melhor jogador de “Masters” da equipa, cheguei a estar em terceiro lugar nacional de Masters, que havia na altura. Como disse foi sempre a subir.

Sempre no Conquistador?

Sim, estive lá muitos anos e sentia-me muito bem, mas com a chegada da crise, que também apanhou o clube e teve que cessar actividade. De quatro equipas, passamos a duas e depois a nenhuma. Mas o Conquistador era o Clube mais antigo na primeira divisão e formado por jogadores de tope.

E mudou de clube?

Não, de imediato, porque por motivos de saúde estive parado cerca de dois anos. Mas passado esse tempo, o José Seixas, convidou-me para jogar com ele na Cervejaria Diu. Hesitei, mas depois aceitei e regressei ao bilhar.

E assim, entra no Boavista?

Eu jogo pela Cervejaria Diu, numa liga e jogo na equipa que transitou para o Boavista. Deste modo, estou a jogar no Boavista Futebol Clube, com muita honra.

Como tem corrido?

Muito bem. No primeiro ano, subimos de divisão, sendo campeões nacionais e assim, tenho mais um título nacional. Chegamos às meias-finais da Taça de Portugal o que, se fizermos um paralelo com o futebol seria quase inédito. Uma equipa da terceira divisão nacional, chegar à meia-final da taça de Portugal. 
Foi um ano muito bom, para o primeiro ano com o emblema do Boavista.

E esta época, como está a correr?

Individualmente, eu tinha parado uns tempos, mas este ano, resolvi pôr-me à prova. Até aqui, já consegui dois terceiros lugares e claro, que comecei pela segunda divisão. No momento, estou no oitavo lugar, do ranking para a subida à primeira divisão nacional.

Colectivamente?

Nós estamos na luta pela subida à primeira divisão, ocupamos no momento, o segundo lugar, como foi a meta determinada para esta época. Estamos também apurados para mais uma eliminatória da Taça de Portugal. Por isso, dentro dos objectivos que nos propusemos alcançar.
A única situação que nos “incomoda” um pouco, é que, contávamos, já estar a jogar na sala do Boavista e desconheço por que razão ainda não foi possível. No restante está tudo bem.

Na sua opinião, como está o bilhar em Portugal?

Para mim está muito bem. Tem muitos jovens a jogar que não conheço e que jogam bem. Na minha opinião isso, deve-se (também) ao facto de cada vez mais as mesas terem os buracos mais largos.

Isso altera o jogo?


Sim, favorece os jovens que têm melhor visão e por sua vez. torna o jogo mais aberto e sempre muito ofensivo, perdendo-se a vertente táctica do jogo. Perdeu-se a componente defesa/ataque que eu gostava e gosto no jogo de bilhar. 
Neste momento, corremos o risco de ver o adversário sair e acabar de tacada, por que os buracos são cada vez mais fáceis. Mas tenho visto, bons jogadores a aparecerem. 
Repare que o ano passado havia duas séries da terceira divisão e este ano, há quatro. Isto prova que tem havido uma procura da modalidade.

Entrevista de
 Manuel Pina