TIVE VÁRIOS CONVITES, MAS OPTEI PELO BOAVISTA
Ana Silva, é
uma futebolista da equipa sénior, que joga actualmente na equipa de Promoção,
recuperando de uma lesão. Encontramo-la no posto médico, para ser observada
pelo Doutor Diogo Santos, e aproveitamos para a conhecer melhor.
É um caso
inédito no futebol. Chegou há seleção nacional…quando ainda não jogava oficialmente!
Que idade
tens e que equipa pertences?
Tenho dezoito
anos, pertenço à equipa sénior, mas neste momento, jogo pela equipa da promoção.
Sofri uma lesão e estou a recuperar na equipa da promoção.
Mas já
jogaste na equipa principal?
Comecei esta
época a trabalhar nesse plantel, mas a lesão surgiu na pré-época, por essa razão,,
ainda não joguei oficialmente nessa equipa.
Vamos lá
falar dessa lesão. Como aconteceu?
Tive uma rutura
de ligamentos no joelho, tendo que ser operada. Depois o joelho ressentiu-se e
começou a dar-me problemas, mas parece-me que está a ficar bom, outra vez.
Mas já
recomeçaste a jogar?
Sim, já
estou a jogar na equipa de promoção.
Vamos recuar
no tempo. Como nasceu o gosto pelo futebol e onde começaste a jogar oficialmente?
Eu sou de Mondim
de Basto, por isso, só comecei a jogar oficialmente há duas épocas e aqui no
Boavista. Como em Mondim, não há equipas federadas só jogava futebol de rua. Fui
chamada à seleção nacional de sub-17 e …
Espera um
pouco. Como é aconteceu isso? Se não
tinhas clube como és chamada à seleção nacional?
O caso é,
que participei, num torneio interassociações por Vila Real, e os responsáveis
pela seleção viram-me jogar e chamaram-me.
Ana e o Doutor Diogo Santos |
Essa
situação, é quase (senão mesmo inédito)
tens a consciência desse facto?
Tenho. Muitas
pessoas se admiram disso. É a tal sorte, que umas vezes temos e outras não. Até
a mim me surpreendeu esta convocatória, mas aproveitei-a.
Quantos jogos,
fizeste pela seleção?
Fiz quatro,
no escalão de sub-17.
Porquê o
futebol e não outra modalidade?
Talvez por
influência da família. Os meus pais estavam emigrados e eu fui criada por uma
tia, que tinha filhos rapazes e raparigas, mas eu optava sempre por ir com eles
jogar futebol e não com as minhas primas.
Onde vives
actualmente?
Vivo em casa
da minha irmã, aqui no Porto e só assim, posso continuar a jogar futebol.
Estudas?
Sim, estudo
em Gestão desportiva, no externato Santa Clara no décimo segundo ano.
Tu vives
numa cidade que aceita perfeitamente que as mulheres joguem futebol, mas
como reagiam as pessoas quando em Mondim de Basto, apareceu uma menina a jogar
futebol?
No princípio,
todos me apontavam o dedo, dizendo “És uma Maria rapaz”, “essa coisa de futebol
é para rapazes” “devias ter vergonha”, etc… Eu nunca liguei. Nesse tempo, a
minha mãe, dizia o mesmo, mas actualmente, já mudou a opinião dela e até me
apoia muito nisto.
A menina,
venceu a sociedade?
Não sei se
venci, sei que fiz, o que gosto de fazer.
Qual a tua
posição em campo?
Sou extrema,
esquerda ou direita.
Quais as
tuas características como jogadora?
Sou rápida,
tenho um bom drible e bom remate.
Como surge o
Boavista na tua vida?
Depois de
ter jogado na seleção, aparecerem vários clubes interessados em mim e entre
vários, optei pelo Boavista.
O futebol é
uma brincadeira ou mais que isso?
Por acaso,
pretendo no futuro fazer carreira no futebol. Para mim o futebol nunca foi e
nem será só uma brincadeira.
Profissionalmente,
o que desejas ter no futuro?
Volto ao
mesmo. Quero tirar um curso de árbitro e um curso de treinadora de futebol.
Não tenho
dúvidas que és mulher de futebol. Queres deixar alguma mensagem?
Queria agradecer
a todas as pessoas que me apoiaram e que acreditaram em mim. Apesar destas
lesões e contratempos, continuo a acreditar que irei chegar longe.
Não me digas
que estás complexada por teres sofrido uma lesão? Uma lesão qualquer atleta
pode sofrer. Passa-se isso, contigo?
Não tenho
complexo, mas sinto-me triste por estar a dar trabalho a outras pessoas e quero
estar a cem por cento para jogar.
Entrevista de
Manuel Pina