quinta-feira, 12 de maio de 2016

ANA SILVA - INTERNACIONAL DE FUTEBOL, MESMO ANTES DE TER CLUBE

TIVE VÁRIOS CONVITES, MAS OPTEI PELO BOAVISTA

Ana Silva, é uma futebolista da equipa sénior, que joga actualmente na equipa de Promoção, recuperando de uma lesão. Encontramo-la no posto médico, para ser observada pelo Doutor Diogo Santos, e aproveitamos para a conhecer melhor.

É um caso inédito no futebol. Chegou há seleção nacional…quando ainda não jogava oficialmente!

Que idade tens e que equipa pertences?

Tenho dezoito anos, pertenço à equipa sénior, mas neste momento, jogo pela equipa da promoção. Sofri uma lesão e estou a recuperar na equipa da promoção.

Mas já jogaste na equipa principal?

Comecei esta época a trabalhar nesse plantel, mas a lesão surgiu na pré-época, por essa razão,, ainda não joguei oficialmente nessa equipa.

Vamos lá falar dessa lesão. Como aconteceu?

Tive uma rutura de ligamentos no joelho, tendo que ser operada. Depois o joelho ressentiu-se e começou a dar-me problemas, mas parece-me que está a ficar bom, outra vez.

Mas já recomeçaste a jogar?

Sim, já estou a jogar na equipa de promoção.

Vamos recuar no tempo. Como nasceu o gosto pelo futebol e onde começaste a jogar oficialmente?

Eu sou de Mondim de Basto, por isso, só comecei a jogar oficialmente há duas épocas e aqui no Boavista. Como em Mondim, não há equipas federadas só jogava futebol de rua. Fui chamada à seleção nacional de sub-17 e …

Espera um pouco. Como é  aconteceu isso? Se não tinhas clube como és chamada à seleção nacional?

O caso é, que participei, num torneio interassociações por Vila Real, e os responsáveis pela seleção viram-me jogar e chamaram-me.
Ana e o Doutor Diogo Santos
Essa situação, é  quase (senão mesmo inédito) tens a consciência desse facto?

Tenho. Muitas pessoas se admiram disso. É a tal sorte, que umas vezes temos e outras não. Até a mim me surpreendeu esta convocatória, mas aproveitei-a.

Quantos jogos, fizeste pela seleção?

Fiz quatro, no escalão de sub-17.

Porquê o futebol e não outra modalidade?

Talvez por influência da família. Os meus pais estavam emigrados e eu fui criada por uma tia, que tinha filhos rapazes e raparigas, mas eu optava sempre por ir com eles jogar futebol e não com as minhas primas.

Onde vives actualmente?

Vivo em casa da minha irmã, aqui no Porto e só assim, posso continuar a jogar futebol.

Estudas?

Sim, estudo em Gestão desportiva, no externato Santa Clara no décimo segundo ano.

Tu vives numa cidade que aceita perfeitamente que as mulheres joguem futebol, mas como reagiam as pessoas quando em Mondim de Basto, apareceu uma menina a jogar futebol?

No princípio, todos me apontavam o dedo, dizendo “És uma Maria rapaz”, “essa coisa de futebol é para rapazes” “devias ter vergonha”, etc… Eu nunca liguei. Nesse tempo, a minha mãe, dizia o mesmo, mas actualmente, já mudou a opinião dela e até me apoia muito nisto.

A menina, venceu a sociedade?

Não sei se venci, sei que fiz, o que gosto de fazer.

Qual a tua posição em campo?

Sou extrema, esquerda ou direita.

Quais as tuas características como jogadora?

Sou rápida, tenho um bom drible e bom remate.

Como surge o Boavista na tua vida?

Depois de ter jogado na seleção, aparecerem vários clubes interessados em mim e entre vários, optei pelo Boavista.

O futebol é uma brincadeira ou mais que isso?

Por acaso, pretendo no futuro fazer carreira no futebol. Para mim o futebol nunca foi e nem será só uma brincadeira.

Profissionalmente, o que desejas ter no futuro?

Volto ao mesmo. Quero tirar um curso de árbitro e um curso de treinadora de futebol.

Não tenho dúvidas que és mulher de futebol. Queres deixar alguma mensagem?

Queria agradecer a todas as pessoas que me apoiaram e que acreditaram em mim. Apesar destas lesões e contratempos, continuo a acreditar que irei chegar longe.

Não me digas que estás complexada por teres sofrido uma lesão? Uma lesão qualquer atleta pode sofrer. Passa-se isso, contigo?


Não tenho complexo, mas sinto-me triste por estar a dar trabalho a outras pessoas e quero estar a cem por cento para jogar.

Entrevista de 
Manuel Pina