Francisca Moura,
é uma das nossas jovens ginastas da classe de Ginástica Artística. Atleta de
competição, conhecedora do seu potencial, mas reconhecendo que para chegar (ainda)
mais alto, teria que ter começado dois/três anos antes.
Tímida e
reservada, mas “senhora” das suas ideias.
Começo por
te convidar a fazeres a tua apresentação pessoal. Quem é a Francisca Moura?
Tenho dezassete
anos, frequento o décimo segundo ano, na Escola Clara de Resende.
Quando te
iniciaste na prática de Ginástica?
Há cerca de
dez anos, na modalidade que na altura, se chamava Ginástica Desportiva.
Porquê ginástica
e não outra modalidade?
A verdade, é
que me iniciei experimentando dança, mas como eu andava constantemente aos
saltos e piruetas em casa, eu e os meus pais, decidimos apostar na ginástica.
Vim
para a “escola” do Boavista, de onde nunca saí e penso nunca sairei, enquanto
for atleta.
És uma jovem
a quem é reconhecido um valor alto. A que divisão pertences, e se, quando te
iniciaste alguma vez pensavas atingir este nível?
Eu pertenço
à primeira divisão nacional e para ser rigorosa e sincera, nunca pensei atingir
o nível que tenho.
Vamos recuar
no tempo. Conta-nos a história da Francisca.
Eu comecei
numa turma que era menos avançada e não era de competição. Lá está, eu vinha
para saltar e dar piruetas (sorriu)… depois fui repescada pela ex-treinadora do
Boavista, Susana Benigno, para uma turma de segunda divisão, já de competição. A
partir daí, evolui, passando níveis, até chegar onde estou no momento.
Como se
passam esses níveis? São os professores que os propõem?
Os professores,
analisam o nosso trabalho e vão propondo os exames de níveis. Por nossa vez,
temos que nos propor a ultrapassar certos limites, para passar à fase seguinte
e assim sucessivamente até podermos mudar de divisão.
Então, não
basta ser bonita, ter um professor que goste de nós e já está?
Não. Nada
disso! Temos que ir evoluindo e ultrapassar limites impostos.
Uma menina
na primeira divisão nacional, que olha para trás, para a menina das piruetas. O
que sente?
Sinto orgulho!
Mas reconheço que se não fosse o Boavista e, só no Boavista, nunca teria
atingido este nível.
Porque
dizes, só no Boavista?
Se tivesse
entrado noutro clube, com mais interesses e sem tempo para nos dedicarem tanta
atenção, eu nunca deixaria de ser a menina das piruetas.
Aqui sempre houve
e há, uma atenção muito grande sobre todas nós e de vez enquanto acontecem
estas situações. Não duvido, que noutro clube, eu não teria tido esta evolução.
Daí dizer que só aqui no Boavista.
Gosta mesmo
muito da ginástica do Boavista, mesmo com algumas limitações que (ainda temos,
mas estamos a superar)?
Gosto muito,
mas muito mesmo. A nível de camaradagem, sei que não existe igual noutros
clubes. A nível de instalações e condições de trabalhos, o Boavista, está em
constante melhoria e temos condições boas para todas, mas noto que cada vez
serão mais melhoradas. Gosto mesmo muito de pertencer a este grupo.
A nível de
evolução. Apostas mais em novos desafios ou melhorar os que dominas?
Eu tenho que
evoluir nas dificuldades dos exercícios que faço, mas tentando e apostando
sempre na busca da perfeição.
Sem querer ferir suscetibilidades de ninguém, podemos afirmar que as condições de trabalho
estão a melhorar, como referiste, mas também aconteceu, uma alteração nos treinos,
em tempo de treino e exigência. Concordas e como analisas essas alterações?
Na realidade
nós aumentamos a nossa carga horária de treino, e treinamos, quase, três horas
e meia por dia, isto de segunda a sábado. Antes treinávamos, duas horas e meia
por dia, quatro vezes por semana.
Foi-nos
proposto este plano de treinos e nós decidimos arriscar.
Como consegue
“sobreviver” uma jovem de dezassete anos, com tantos treinos e estudos?
Tem que se
organizar muito bem o tempo de estudos e mesmo as saídas com os amigos tem que
ser tudo bem organizado e estruturado de forma a conseguir alcançar, os
objectivos a que nos propusemos, quer no aspecto Académico, quer no da
ginástica.
Quando se gosta de algo, tudo é sempre conciliável e possível.
Falemos de
títulos. O que venceste?
Fui, Campeã
Nacional de segunda divisão, há cerca de quatro anos. Na segunda divisão
conquistei alguns títulos. Agora na primeira divisão, no ano passado, tive o
terceiro lugar na trave e fui Vice-Campeã de cavalo.
Sonhas com a
seleção Nacional?
Existe uma
seleção nacional que vai competir ao estrangeiro e que tem um nível muito
elevado, ao qual é difícil eu chegar. Para o conseguir teria que me ter iniciado
pelos meus seis anos. Teria que treinar duas vezes por dia. É um nível exigido,
quase a raiar o profissionalismo.
Isso é impossível
no Boavista?
Não serei a
pessoa indicada para essa resposta. Mas pelo que vejo e olhando para as nossas
mais pequeninas, sinto que se está a iniciar no Boavista um projecto que as
pode levar, no futuro, até lá.
Como é a cidadã
Francisca, nos estudos?
Aplicada,
porque nos tempos que estamos tem mesmo que ser, para quem pensa no futuro
pessoal. Queria ir para Ciências da Comunicação.
Até onde
vais na ginástica que é uma modalidade que após os vinte anos, passam a ser
veteranos?
A partir dos
vinte anos, é mais difícil continuar a evoluir, isso é verdade, mas temos o
exemplo do nosso Manuel Campos, que continuou muito para além disso e com
excelentes resultados e soube que uma atleta com quarenta e um anos se
classificou para os Jogos Olímpicos… por isso, havendo limites naturais… não há
limites pessoais.
E tu, vais
até onde?
Até onde o meu corpo me permitir, até onde me for possível conciliar tudo… até ao meu limite.
Entrevista de
Manuel Pina