sexta-feira, 19 de junho de 2015

ENTREVISTA DA SEMANA - RUI BALTAR, O CAPITÃO DO JUNIORES DE FUTSAL, SEM RODEIOS

Rui Baltar, é o capitão da equipa júnior de futsal. Esta época, dividiu a sua actividade entre as equipas juniores e os seniores. Jogador do Boavista desde as Escolinhas, assumiu em entrevista, os altos e baixos da sua equipa, sem rodeios e consciente do seu cargo e responsabilidade.



Rui, qual a tua idade e há quantos anos és atleta do Boavista?

Tenho dezanove anos e jogo no Boavista há mais de dez anos, vai fazer agora onze anos. Comecei nos Escolinhas do Clube e nunca saí.

Como se deu a tua entrada no Boavista?

Vim a convite do treinador das escolinhas, que conhecia o meu irmão que jogava cá. Nessa altura, a própria modalidade ainda não era muito conhecida e o Boavista começou a contactar miúdos. Vim cá treinar e fiquei até hoje.

Neste percurso de formação, conquistaste alguns títulos?

Por acaso, é uma das coisas que marca negativamente e do qual sinto falta. Em tantos anos, nunca conquistei algo significativo. O ano passado, conquistamos a Taça AF Porto, mas títulos nacionais, ainda não conquistei nenhum. Já fui a finais pelo escalão, acima do meu, mas na minha equipa, nunca.

Vamos ser directos. Não consideras que este ano tinham “obrigação” de terem sido campeões, tais foram as oportunidades? Sem te comprometeres, queres comentar?

Sem problema algum, obviamente que respondo. É claro que podíamos ter sido campeões, o que era um dos nossos objectivos. O primeiro objectivo, que sempre declaramos, era passar para o Campeonato Nacional na próxima época, mas dentro do balneário, sempre assumimos, que queríamos ser campeões distritais. Infelizmente, não o conseguimos e penso, que foi por demérito nosso. Nos jogos que disputamos com o Pinheirense (que conquistou o título) nunca fomos inferiores, antes pelo contrário, fomos sempre superiores.

Como explicas isso?

Ou não aguentamos a pressão da situação, ou não tivemos estofo para ser campeões.

Aconteceu a três jornadas do final um caso incrível. O Pinheirense (já) tinha perdido e ao Boavista, bastava vencer uma equipa que viria a descer e vocês perderam…

Agora, até me rio disso, mas foi muito desagradável e fiquei muito descontente. Não estive presente nesse jogo, joguei pelos seniores, o que (ainda) mais me custou. Porque não pude ajudar, nesse jogo, mas o resultado é incrível e muito difícil de entender. Parece que nesses jogos considerados fáceis… bloqueamos. Tivemos, agora, na fase nacional, contra o Beira-Mar um jogo idêntico. Nem sei como explicar esses bloqueamentos.

Pelo que tenho observado nos vossos jogos, sois uma equipa de oito ou oitenta. Complicais o fácil e resolveis o difícil. Como explicas?

Sem querer culpar ninguém, mas assumindo o meu cargo de capitão, acho que nos falta assumir que… somos homens! Chegamos a esses jogos e falta-nos a maturidade para encarar um jogo importante e dizer este jogo é mesmo para ganhar e começa mal o árbitro apite. Não nos falta qualidade, que temos muita e formamos uma excelente equipa, mas acusamos nesses momentos uma enorme falta de maturidade.

Mas em Moimenta e em Braga, vocês foram enormes…

É curioso, porque nos momentos de grande pressão e quando tudo parece perdido, nós assumimos o nosso valor e resolvemos os problemas, mostrando o nosso valor. É um problema que se tem que resolver e não é só nosso escalão. Têm acontecido casos idênticos durante vários anos, que nos fazem perder títulos. Todos juntos (Boavista) teremos que saber como resolver este problema.

No teu caso e na presente época, alternaste entre as duas equipas (juniores e seniores). Esse facto, não acaba por ser prejudicial na evolução de um jogador, ao contrário que possa parecer, pela falta de tempo de competição?

Ora aí está uma questão muito importante e mais problemática que parece. Claro que todos ficamos contentes por representar os seniores, mas no início, quando me dei conta da realidade, fiquei algo desgostoso, porque, quando não dava para estar nos dois jogos no fim-de-semana, eu não jogava nos juniores e pouco ou nada jogava nos seniores. Isso foi muito complicado e fiquei claramente prejudicado por falta de competição. Para o final da época, as coisas alteraram-se e comecei a jogar nos seniores com mais frequência e consegui equilíbrio emocional. Lembro-me que houve um jogo, com o Freixieiro, muito importante para os juniores, em que eu fiquei nos seniores e não joguei, entendi esse facto, porque o jogo era complicado, mas fiquei com a sensação que deveria ter ido com os juniores. São decisões dos treinadores e como jogador tenho que as acatar. Tem os seus prós e contras. Houve semanas que não joguei, houve outras em que joguei nos dois dias, umas vezes evoluímos e outras ficamos sem competir. O clube está acima de todos nós e dos nossos interesses.


Treinavas com quem?

Treinava com os seniores, mas quando havia um jogo mais importante pelos juniores, vinha ao treino e treinava com eles.

Resumindo e fechando este capítulo. Valeu a pena esta situação?

Sem dúvida alguma. Aprendi muito na equipa sénior. Neste ano aprendi mais nos seniores que talvez em dois ou três nos escalões de formação. É uma realidade diferente.

A esta pergunta só respondes se desejares. A equipa sénior ficou aquém do que se esperava?

Não tenho problema algum em responder. Foi uma época em que tudo correu mal. Tudo que havia de mau, aconteceu. Foi a nível de resultados, foi a nível de equipa e depois tornou-se numa bola de neve, que nunca parou. Mas graças a Deus, conseguimos a manutenção.

Passemos ao ponto actual. Para lá de terem falhado o título distrital, o Boavista está apurado para a final four da Taça Nacional a disputar no próximo fim-de-semana. O que esperas desta competição?

Primeiro, repito, que entre nós o objectivo era passarmos para o Campeonato Nacional de sub 20, na próxima época. Isso, foi alcançado e podíamos agora ter cruzado os braços e descontrair. Mas tal não vai acontecer, porque todos decidimos encarar a final como uma prova com quatro candidatos. O Boavista, vai a Ponte de Sôr para ganhar! Sabemos que é difícil, mas não vamos para lá para desfrutar. Mesmo que seja uma situação que poucos tiveram ou viveram, ao jogar uma final four, o certo é que sabendo que estão presentes as quatro melhores equipas, n´so sabemos bem o valor que temos.

Não sei se tens conhecimento, que as equipas em Lisboa jogam toda a época ao cronómetro, enquanto a tua equipa (tu não) só jogou seis jogos, esse facto vai dar uma grande vantagem às equipas de Lisboa. Estais preparados para tal realidade?

Olhe, como dissemos atrás. São jogos muito difíceis, em que poucos acreditam na vitória… logo, são os jogos que a nossa equipa gosta e onde sempre estamos no plano mais forte. Na final four, estaremos para ganhar. Tinha mais medo se fosse com equipas que teoricamente eram mais fáceis.

Sendo um homem da casa há dez anos, conheces bem a realidade do Boavista. O que achas que terá que mudar no futsal, com a participação no Nacional de sub 20?

Antes de tudo, considero que é cem por cento positivo para o clube. Só lá irão estar as melhores equipas do país. Estamos entre as dezasseis melhores equipas do país e com todo o mérito. Agora não vai ser fácil a nível organizativo, mas algo vai ter mesmo que mudar e, sinceramente, isso ultrapassa-me. Mas reforço, que é muito positivo e que todos devemos pensar assim, quer jogadores e dirigentes. É muito positivo para o Boavista Futebol Clube.


Pessoalmente qual vai ser tua situação. Equipa sub 20 ou seniores?

Penso que irei ficar a ajudar nos seniores o que puder, treinando com eles e depois (penso eu) jogarei nos juniores quando for possível e acharem necessário. Mais ou menos como este ano.

A nível de selecções. Já foste convocado algumas vezes?

A nível de selecção distrital de uns tempos a esta parte, sempre fui convocado. A nível de selecção nacional de sub 19, fui convocado por quatro vezes, para os jogos com a Polónia em Fevereiro e depois nos jogos com a Espanha nos Açores.

Continuas á espera de lá continuar…

Eu não estou à espera de nada, nem tenho que estar. As coisas acontecem quando têm que acontecer e da forma como tiverem que ser. Eu tenho que trabalhar no meu clube, tenho que evoluir e se as oportunidades aparecerem, tenho que as aproveitar. Foi assim que aconteceu e é assim que continuará.

O que é para ti o Futsal?

Uma modalidade diferente. Eu considero que qualquer pessoa pode jogar futebol, pode jogar outra modalidade, pode praticar desporto individual, mas acho que jogar futsal, não é para qualquer um, pela especificidade técnica exigida. Como foram passando os anos, verifiquei esta realidade, só um pequeno grupo de pessoas pode jogar futsal.

No futuro irás apostar no profissionalismo do futsal, como outros jogadores da formação do Boavista fizeram?

Depende muito da situação da altura em que isso possa aparecer. Quem joga por gosto, tem sempre o desejo de representar um grande clube da modalidade, mas tudo a seu tempo. Se essa situação aparecer, será a analisada, mas não será tão cedo e depois se verá. Tudo a seu tempo.

Vamos terminar. O que queres dizer aos teus colegas da equipa que faz impossíveis, que confunde tudo que é fácil… Como é ser capitão desta gente?

É difícil. Mesmo tendo dezoito/dezanove anos, não passamos de uns miúdos. Cada um com as suas características e seus feitios, que torna difícil tomar conta de uma equipa na sua globalidade, mas as coisas vão-se fazendo. Tenho muito orgulho de ser capitão do Boavista e desta equipa. Já sou capitão do Boavista há quatro anos e tenho muito orgulho

Eu vejo lá muita gente irreverente. Mas eles respeitam-te se tiveres que lhes dar um berro?

Aceitam, e já tive que fazer algumas vezes, se calhar até com exagero da minha parte, mas eles têm que perceber que estamos nos jogos para lutar e vencer. Eu estou lá para ser a voz do treinador, para fazer a minha obrigação como capitão. Agora se eles me respeitam como homem eu não sei! Mas como capitão… que remédio.

Tudo pronto para Ponte de Sôr?

Tudo e vamos lá para ganhar, aliás quando o Boavista joga é sempre para ganhar e na final four, nem de outro modo será.

Entrevista de 
Manuel Pina