quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

ARTUR NUNES, DIRECTOR DO VOLEIBOL, NA ENTREVISTA DA SEMANA

Artur Nunes, deu a sua primeira entrevista como Director do Voleibol. Numa extensa entrevista, debruçamo-nos sobre toda a realidade deste Departamento, que é um dos mais ricos, Historicamente, do Boavista Futebol Clube. Sempre calmo como é seu timbre, respondeu e aprofundou todos os temas que colocamos. 

Vamos iniciar, pela questão do convite. Um homem ligado inicialmente à Ginástica, aparece no Voleibol. Como aconteceu? 
O convite foi-me inesperado, porque surgiu num momento em que me preparava para fazer uma paragem na colaboração que mantinha com voleibol axadrezado há já seis anos. Por ter sido convidado pelo Eng.º Marques, tive mesmo que pensar seriamente sobre o assunto, e resolvi aceitar este exigente, mas entusiasmante desafio.
Exigente, porque o Boavista tem pergaminhos no voleibol nacional com um palmarés invejável, porque iria suceder a anteriores directores de personalidade carismática, e também porque o departamento de voleibol do Boavista FC é um dos mais acarinhados da massa associativa. 
Entusiasmante, porque é uma grande oportunidade de colocar em prática muitas das ideias que tenho sobre o caminho que o voleibol axadrezado deverá tomar para alcançar outros patamares de excelência.

Sobre as seniores na 1ª divisão, despesas e objectivos: A equipa sénior ascendeu à primeira divisão, após quatro anos de luta pela subida. Como foi para vós uma surpresa? 
O facto de termos subido, foi positivo. Era um objectivo que perseguíamos há quatro/cinco épocas e de forma algo inglória, tínhamos ficado por três vezes no segundo posto, como se diz… acabamos por sempre por morrer na praia. Esta subida directa, é o resultado do lugar de vice-campeão conquistado da época anterior, devemos por esse facto, assumir de pleno mérito esta passagem para o escalão máximo.

Esta mudança de divisão, passando para a principal, alterou muito, os encargos e o orçamento previsto, para a época? 
Paralelemente à reorganização, optimização e consolidação dos escalões de formação, era nosso objetivo recolocar a equipa sénior no lugar de onde nunca deveria ter saído, na primeira divisão. Felizmente esse objetivo foi conseguido para grande regozijo de todos, contudo este feito acarreta mais responsabilidades do que nunca. 
O facto de estarmos agora na primeira divisão provoca um acumular de despesas extra ao departamento de voleibol. Se por um lado, continuamos com atletas que jogam por amor à camisola, o que muito nos satisfaz e ajuda, a verdade é que o numero de jogos desta divisão é superior acarretando mais despesas federativas, de arbitragens, viagens, estadias e aluguer de pavilhões. 
E ainda que estejamos agora a competir na elite do voleibol nacional, tendo o clube uma maior visibilidade, infelizmente, continuamos sem qualquer patrocinador. 

Dentro dessas condições, qual o objectivo?
Perante este cenário, o grande objectivo para a presente época é o de garantirmos a manutenção na primeira divisão. Actualmente encontramo-nos em sétimo lugar da classificação geral, mas temos a percepção de que temos um plantel com muito valor e capaz de fazer um campeonato até muito positivo. 
A equipa não podia estar mais bem entregue, o Prof. Machado veio definitivamente trazer muito “profissionalismo” à estrutura técnica e as suas atletas são quem recolhem mais benefícios com os seus inovadores métodos. 
Aproveito para reforçar a ideia que temos de acreditar nesta equipa sénior como um todo, esta equipa é composta por uma mescla de jogadoras muito jovens e irreverentes mas ainda inexperientes, e outra de jogadoras mais velhas com muitos jogos nestes ambientes que agora encontramos todos os fins de semana, de modo que ambas se completam, constituindo um plantel capaz de garantir os nossos objetivos desta época. 

Os associados têm dado o apoio que seria esperado para uma equipa a este nível? 
Compreendo que os associados queiram o maior número de vitórias, mas em face de alguma inexperiência da equipa, nesta divisão, e também por força do valor das equipas adversárias, sabemos de antemão que vai ser um campeonato muito difícil e que alguns jogos não irão correr-nos tão bem como o desejado. Noto, aí um pouco de desilusão. 

Não me diga que há quem pense que o Boavista podia lutar pelo título, sem terem em conta o valor das equipas e os orçamentos aplicados por cada uma? 
Por falar em valor das equipas, não podemos esquecer que existe uma luta verdadeiramente desigual no confronto com a maioria das equipas adversárias. Eu arrisco dizer que a nossa equipa é a única das doze que militam na primeira divisão que paga na totalidade o aluguer dos pavilhões que utiliza para treinos/jogos, que paga os transportes nas suas deslocações e que não tem apoios diretos e/ou indiretos da sua autarquia. 
Também nós gostaríamos de ter um orçamento anual de 120mil euros, mas o nosso queda-se por um humilde orçamento a rondar os 25 mil euros. 

Quais os sectores que provocaram uma inflação com esta subida? 
Antes de mais, registo que as nossas atletas jogam, sem excepção alguma, sem qualquer subsídio. Depois os valores de subsídios aos treinadores é rigorosamente o mesmo da época anterior. O que aumentou substancialmente as despesas, foram os custos das arbitragens e inscrições federativas, somando isso a mais deslocações de maior distância e por vezes, com as jornadas duplas a obrigatoriedade de termos que ficar alojados de um dia para outro, geralmente, em Lisboa. 

Falemos do plantel. Houve uma remodelação baseada na nova realidade, ou tudo se processou como estava anteriormente programado? 
Houve, na realidade, uma remodelação profunda no plantel da época anterior, mas tal, já estava de certo modo previsto. Houve atletas que saíram por iniciativa própria, para abraçar um novo projecto pessoal, com as quais nós contávamos para a sua continuidade, mas que optaram por um novo rumo. Tínhamos a indicação do treinador sobre duas/três atletas com quem não contaria e tudo junto, nos obrigou a fazer um reajustamento do plantel. 
Esse reajustamento foi quase total, pois de um grupo de catorze/quinze transitaram apenas três/quatro atletas. Recorremos a outros clubes para fazer algumas aquisições e fizemos regressar duas atletas que já tinham representado o clube, casos da Marta Massada e a Daniela Sol. 

Satisfeito com actual classificação?
Tenho a consciência que um com pouco mais de sorte e alguma maturidade, que virá com o tempo de competição, junto a uma melhoria de condições, poderíamos estar pelo quarto/quinto lugar, mas considero que estamos fazer uma prova calma e segura para as nossas ambições. 
Que condições?
Temos algumas atletas que por motivos profissionais faltam a treinos. Se todas pudessem estar presentes em todos os treinos, isso, iria alterar muito a nossa resposta competitiva. Temos sempre problemas com o amadorismo do nosso plantel. 

Sobre os escalões de formação. Eu que acompanho muito de perto a formação, verifico que aconteceu uma grande sangria nesse sector. Pergunto, concorda comigo e quais as razões para explicar esse facto? Não posso dizer que tenham saído muitas. Saíram sete/oito miúdas de infantis, há última hora, o que nos obrigou a cancelar a inscrição de uma equipa neste escalão. No mini-volei também saíram algumas atletas, mas considero normal porque nestes escalões mais baixos, há sempre uma grande rotatividade de atletas, entre as que saem e as que entram pela primeira vez. Este facto é comum em vários clubes. 

Há alguma razão de pormenor para esse movimento? No nosso caso, o facto de termos sediado esses escalões mais jovens, aqui, no pavilhão do Pêro, fez com perdêssemos várias atletas. Esta ano recolocamos, de novo omini-volei no Fontes para evitar mais saídas e recuperar o número de atletas. Tem resultado? 
Ainda estando aquém do que desejaríamos, temos registado entradas quase todas as semanas. Neste momento, teremos cerca de trinta atletas, quando apostávamos no início para atingir as cinco dezenas no mínimo. O número ideal seria as setenta, mas teremos que continuar a trabalhar para atingir tal numero.

Tem um novo projecto para a formação? 
Todas as alterações e implantações de um projecto, leva o seu tempo.Nestes dois anos como Director do departamento de voleibol, foi planeada uma estratégia que se resumiu essencialmente em:
- Reorganização da estrutura do departamento, atribuição de funções, tarefas e responsabilidades do corpo dirigente e técnico.
- Requalificação e potenciação de todos os recursos existentes ao serviço do nosso voleibol.
- Planeamento e definição de objetivos desportivos a médio e longo prazo. 

O nível de resultados desportivos, estes já se coaduna com o esperado, no início da reestruturação?
Costumo dizer, que descer a montanha é sempre fácil, nem que seja aos trambolhões. Subir é que é mais difícil e nós estamos a subi-la. Para chegarmos aos lugares cimeiros vai levar o seu tempo. Mas não podemos ter pressa para atingir tal patamar. 

Quando se alteram métodos e projectos, não significa (sempre) que o anterior estava errado. O que o levou a alterar? 
Um dos problemas identificados e mais preocupantes era; o porquê de estarmos tantas épocas sem conseguirmos levar equipas dos escalões de formação à fase dos Nacionais. É óbvio, que, a aposta e gestão dos escalões de formação não era a mais adequada e muito menos estava bem optimizada para dai advirem bons resultados. Arrisco mesmo, a dizer que a pirâmide organizativa e de interesses se encontrava em formato invertido. 
Quer exemplificar?
Num clube como o nosso, a base de sustentação do departamento de voleibol terão mesmo que ser os escalões de formação. Contudo, temos de proporcionar formação com muito mais qualidade, e, isso só o conseguiremos, com a inclusão de treinadores mais experientes, com horários mais adequados e pavilhões mais bem apetrechados de materiais de treinamento. 
Se realmente optarmos por esse caminho, certamente que iremos conseguir formar atletas em maior quantidade e qualidade, e é isso mesmo que pretendemos. Temos que ser capazes de formar bem, ter equipas competitivas e de conseguir uma continuidade entre todos os escalões, desde minis a seniores. É objectivo que não se percam pelo caminho atletas de valor, seja por desistência ou por assédio de outros clubes. 
Queremos que as atletas tenham prazer em representar o clube, em vestir e honrar a camisola axadrezada e que tenham como grande objectivo virem a fazer parte da equipa sénior. Nos últimos anos a equipa sénior tem tido a necessidade de se alimentar de muitas atletas oriundas de outros clubes, isso tem de mudar. 
No futuro os planteis das nossas equipas seniores deverão ser constituídos por 75% a 80% de atletas formadas nos nossos escalões de formação. 

Tudo será então uma questão de tempo? Essencialmente sim. Neste momento, a nível de resultados desportivos a equipa que nos está a surpreender é a equipa de Iniciadas, formada com gente nova. Vieram miúdas do Colégio do Rosário, duas da Académica de S. Mamede e juntamos quatro que na época passada tinham jogado já neste escalão, mas ainda com idade para Infantis. 
Entregamos o comando a um treinador muito válido que chegou ao clube esta época e os resultados estão a aparecer. Este é um exemplo mas os outros escalões estão em clara evolução.

Houve algumas ideias já implantadas? 
O facto de ser ex-jogador, antigo seccionista e pai de uma atleta deu-me uma visão muito abrangente, tendo o privilégio de visualizar, analisar e interpretar o voleibol duma forma muito global. Sinto muito na pele as expectativas, os anseios e as alegrias das atletas, dos pais, dos treinadores e dos dirigentes, mas também as preocupações e as angustias, frustrações que se vivem quando acontecem derrotas. 

A curto prazo, o que considera mais importante? Levar pelo menos uma equipa de formação a luta pelas provas nacionais. Nos últimos anos, a nossa formação tem estado ausente das provas nacionais e, é necessário voltar a tornar esse facto como normal. Outro desejo, que é mesmo uma necessidade, aumentar o número de colaboradores na nossa organização de departamento, para cada escalão ficar com um director em exclusivo e assim, podermos trabalhar melhor e dar mais assistência aos grupos de trabalho. Para este caso, estamos a fazer uma campanha através dos órgãos de informação que temos, para conseguir no mínimo mais três seccionistas. 

Última questão. Se voltasse atrás dois anos. Aceitava este cargo ou simplesmente desaparecia?
(riu-se) Sabia que ía ser difícil e desgastante, mas igualmente motivante. Claro que servir o Boavista é sempre um motivo de orgulho e por isso, aceitaria de novo. 
Algum trunfo na manga? 
Sim e visando o futuro a curto prazo, tenho um projecto, que pode ser um sonho, mas no qual aposto. Que é? 
Primeiro, desculpem, mas irei debate-lo com o Vice-presidente e posteriormente avançar, nessa fase daremos conhecimento.

Entrevista de
Manuel Pina