Quem conhece
a história do voleibol axadrezado conhece o professor José Machado que venceu
tudo o que havia para vencer no passado glorioso do Boavista FC na modalidade.
Com o início
de um novo ciclo na modalidade, dentro do Bessa, José Machado regressa ao
comando da nau axadrezada.
O Campeão que venceu mais de 95% dos títulos do Boavista |
Marcamos uma
entrevista para uma esplanada na foz, mas a nortada (ontem) enviou para o
interior de um estabelecimento digno de ser visitado. Não foi só uma entrevista, porque a ela se seguiu uma preparação de toda uma época, já que fomos
acompanhados do Vice-presidente, Eng. António Marques.
Vamos então
conhecer José Machado.
Comecemos por
ai, quem é o cidadão José Machado?
Sou professor
de educação física na escola Carolina Michaeles. Tenho formação nas áreas de
futebol e de voleibol, mas principalmente no voleibol. Estou na modalidade
desde setenta e oito e tenho os cursos de primeiro, segundo e terceiro grau.
Antes de técnico,
foi jogador de voleibol?
Fui atleta,
mas um atleta de nível fraco, treinei e joguei no CDUP e Fluvial, portanto nunca
me considerei um atleta de tope.
Modéstia?
Não, rigor
de técnico.
O professor
tem uma passado riquíssimo, já verifiquei que quer evitar falar dele –mas vai regressar
à casa em que tudo venceu e vou “obriga-lo” a recordar esses tempos. Ora conte
lá, um pouco dessas conquistas.
Grosso modo,
sublinho… conquistamos! Nada se conquista individualmente. Conquistamos uma
série de Campeonatos Nacionais da primeira divisão, Taças de Portugal,
Supertaças. A nível internacional estivemos em várias competições onde chegamos
aos quartos-de-final da Taça
Confederação Europeia de Voleibol – comparado actualmente a uma Liga dos
Campeões – e na Taça da Confederação, também chegamos, por duas vezes, aos
quartos de final. Penso que temos um assado rico, não lhe vou enumerar quantos
títulos porque não os sei de cor… cinco ou seis Taças de Portugal, supertaças,
umas poucas e fomos também os campeões do segundo lugar. (risos).
Porque diz
isso?
Porque temos
dez ou onze segundos lugares, numa situação em que haviam equipas que tinham um
poderio superior ao nossos, tendo seis/sete estrangeiras. Nós discutíamos sempre
até à última mas haviam depois pequenas coisas que… bem que nos colocava no segundo
lugar. Diz-se que o segundo é o primeiro dos últimos mas também fomos dez ou
onze vezes segundo.
Conversando com o Vice_presidente |
O professor
continua à defesa, mas eu sou atacante. Sei que foi Seleccionador Nacional,
Verdade?
Sim fui seleccionador
Nacional de Juniores, onde acabamos em terceiro numa poule de seis.
Excelente resultado
do voleibol a nível internacional…
Sim, creio
que sim. Fui também Seleccionador de seniores, durante umas quatro épocas, mas
não me peça datas que eu não quero errar.
Vamos lá
para universos da pantera.
O Regresso
Diga-nos o que é que consegue tirar do sossego de um
sofá, uma homem que já venceu – por diversas vezes – tudo. O Engenheiro António
Marques, o amor ao clube, ou o bichinho do Volei?
É tudo
junto. Primeiro, a pessoa que me faz o convite que foi o eng. Marques a quem eu
seria incapaz de dizer não! O clube que em si que me diz muito e depois, claro, o
bichinho da competição. Ainda penso que tenho capacidade para fazer coisas
engraçadas e por isso, estou aqui para tentar ajudar.
Traz consigo
algum adjunto para formara a equipa técnica?
Trago um
homem que é mais que um adjunto, trago o Nuno Costa, que já trabalhou comigo no
Boavista e volta comigo e vou contar com a colaboração de uma treinadora que é
a Sara Gomes.
O trabalho
do professor vai ser restrito à equipa sénior, ou também se estenderá um pouco
à formação?
Primeiro de
tudo, nós precisamos de nos organizar, para ir de encontro aquilo que são os
objectivos do Boavista, que são nas diversas modalidades, estar no primeiro
nível competitivo. Vamos fazer um apanhado do que há, eu conheço pouco ou nada
da actual situação, passaram já sete ou oito anos que eu saí do Clube e por
isso estou um pouco desfasado do momento actual e da realidade. Depois de ter
conhecimentos, vamos em conjunto com os outros treinadores definir uma
estrutura que consiga abarcar a parte formativa da formação e a parte
competitiva.
Mas tem
alguma ideia preconcebida sobre o assunto?
É nossa
ideia, pegar já em alguns valores emergentes e poder ter um período de tempo
para durante a semana poderem trabalhar em conjunto, mas ainda é muito cedo
para falar sobre isso.
Pensando a resposta diplomática |
O Boavista
Como está o
plantel, formado ou em construção?
Estamos ainda
a construi-lo, digamos que nesses aspecto o conhecimento que eu tenho é muito
pouco. Do anterior plantel, houve atletas nucleares que saíram, como seja a
central a Catarina Liz e a distribuidora, a Mafalda. Vamos ver se conseguimos colmatar
essas baixas e mais alguma que ainda venha a acontecer. Essa é a nossa grande interrogação, embora ainda seja
cedo, é o primeiro problema a resolver.
Uma situação
muito diferente do passado, tem a noção disso?
Absolutamente.
Eu no passado tinha todo o conhecimento, porque a equipa do Boavista apareceu
de uma forma sustentada, da formação da escola Carolina Michaeles e depois foi
só desenvolve-la. Portanto, não tendo, neste momento essa base sustentada,
temos que a criar e iremos cria-la aos poucos.
Não é
trabalho para um ano…
Não. Isto é
um trabalho para implementar durante um período superior e construir um
conjunto de regras que nos possa. Ao fim de alguns anos, voltar a sonhar com os
primeiros lugares.
Mas a
realidade actual… (interrompeu-nos)
São completamente
adversas e diferentes, eu sei disso!
Quais os
objectivos desportivos?
Primeiro organizar
uma equipa, torna-la competitiva, torna-la solidária e depois, os nossos
objectivos serão jogo a jogo. Se pudermos ir tão longe, que nos permita sonhar
nós vamos. Se não der para sonhar, há que criar os alicerces para no futuro o conseguirmos,
juntando gente jovem ao grupo e acreditando que se não neste ano há-de ser no
outro e acabar lá em cima.
O clube irá
regressar no futebol ao escalão máximo. Pode ser em 2015 quase o regresso do
grande Boavista isso pode coincidir com o renascimento (permita-me o termo) do
voleibol.
Espero que
sim, para alegria de todos.
Quantos treinos
quer realizar por semana?
Eu precisava
de treinar todos os dias, mas sei que é utópico, vamos ver se com três ou quatro
sessões semanais conseguimos cumprir os nossos objectivos.
Trocando ideias com o Vice |
Se puder
escolher qual o pavilhão em que prefere jogar?
O Fontes
pereira de Melo, é o pavilhão dos Boavisteiros! Depois que deixamos de ter
pavilhão este é o nosso pavilhão, portanto, quero jogar nele, queremos estar
junto aos adeptos e junto ao coração do Clube. Em termos de espaço para jogo é claramente
superior ao Pêro. Nesse aspecto, conto com o trabalho do director Artur Nunes e
com o engenheiro Marques.
Já conhece o
novo director?
Sim, falamos
regularmente os dois e estamos a trabalhar em sintonia.
O Voleibol
Como vê o
voleibol feminino nacional?
Sou um pouco
suspeito para falar disso, eu continuo a pensar, que ou se trabalha mal a
formação ou a formação é muito mal aproveitada. Quando vejo na primeira divisão
feminina jogadoras com quarenta e seis e quarenta e sete anos a jogar… alguma
coisa não vai bem. Sinto que a formação no nosso país não tem sido
rentabilizada, eu deixei o voleibol de primeiro nível à cerca de oito anos, continuo a ver quase as
mesmas jogadoras nas selecções nacionais, algumas delas que ajudei a formar
como atletas e sinto que, a nível de atletas de valor, não aparecem com a
quantidade que seria de desejar. Nesse aspecto, o nosso voleibol não tem
evoluído. Os campeonatos nacionais estão mais pobres, menos competitivos,
limitam-se a uma duas equipas, ainda há cinco seis anos era uma campeonato com
quatro equipas a lutar com objectivos agora limita-se a duas equipas.
Soluções?
Fazer alguma
coisa para inverter este estado de coisas, e para isso, é apostar na formação.
Não passa
muito pela coragem dos treinadores para lançar essas jovens?
Obviamente,
temos que apostar na formação e lançar jovens, mas para isso, temos que formar
bem.
Os quadros
competitivos, esta época serão alterados?
Não. A segunda
divisão será disputada da mesma forma da época passada. Em três fases.
Não considera
que seria mais competitivo se as houvesse apenas uma serie a norte e outra a
sul, em vez de duas em cada zona que obriga a uma repetição de jogos?
O ideal seria
criar uma zona norte com oito equipas e outra igual a sul, mas talvez se
prejudicasse tudo pela falta de competitividade no decorrer do campeonato. Desta
forma, a prova tem três fases e acaba mais equilibrada, mas o ideal seria uma
série.
Que treinador
vão descobrir as jogadoras do Boavista que eu conheço pela solidariedade e
garra que poem no jogo. O Pardalejo era extrovertido, exigente e amigo. E o José Machado?
Também sou
extrovertido, também sou ambicioso, também sou impulsivo e amigo, portanto, não
vai mudar muito do que elas tinham e estavam habituadas. No entanto, eu como
conheço mal a realidade, tenho que primeiro entrar nela para depois puder opinar.
Mas espero que a gente tenha guerreiras e solidárias. O voleibol é uma
modalidade que exige muito do grupo, as individualidades só por si, não resolve
nada. Espero que estejam dispostas a trabalhar, para atingirmos o que desejamos
que é o primeiro lugar.