FOMOS OS GRANDES
CAMPEÕES DA ABNEGAÇÃO, HUMILDADE. CAPACIDADE DE TRABALHO E AMOR AO CLUBE
Fernando Pereira,
é o director do Departamento de Voleibol. Numa entrevista de fundo, apresentou
a sua análise e previsão versando o passado, o presente e futuro da modalidade
e objectivos a atingir. A realidade do voleibol axadrezado e não só, nesta
grande entrevista.
A ÉPOCA TERMINOU
DE FORMA POSITIVA, NUMA CAMINHADA ALGO ACIDENTADA
Comecemos pela
época anterior. Qual a tua análise sobre a mesma?
Foi uma época que
projectamos dentro das nossas possibilidades, com as limitações que já fazem
parte da nossa realidade e com as quais ja nos habituamos a conviver, um bocado
á imagem daquilo que o clube vive de uma forma transversal, mas sempre com uma
enorme vontade de conseguir resultados que prestigiem o nosso emblema seja em
relação á nossa equipa sénior na primeira divisão nacional, assim como em relação a
todos os escalões de formação.
Essas
dificuldades, foram superiores ao esperado?
Acho que
precisamente as dificuldades com que convivemos, assim como o clube de uma
forma geral, deram nos em determinadas alturas da época a força, determinação,
abnegação e a humildade para que conseguíssemos em períodos mais conturbados ,
dar a volta por cima e conseguir os nossos objectivos. Por isso, é que acho que
de uma forma geral todos aqueles que colaboraram ou colaboram com o
departamento foram ou continuam a ser uns verdadeiros heróis.
Podes
pormenorizar?
Em relação á
equipa sénior começamos a pré época com 15 atletas , com um plantel algo
inexperiente e bastante jovem, fruto precisamente das limitações que existiam e
existem. Por motivos profissionais, pessoais, académicos, chegamos ao fim do
primeiro terço da época com 10 atletas no plantel . Tivemos de nos valer de duas
e três atletas da nossa formação, muito
jovens, embora com qualidade, sem experiência num contexto completamente
diferente.
Foi a forma que
nosso técnico na altura( Paulo Pardalejo) encontrou para equilibrar de alguma
forma a equipa e manter condições de treino equilibradas ao plantel. Aliás foi
enorme a capacidade do treinador conseguir manter o ritmo de trabalho e os níveis
anímicos em cima, numa altura em que os resultados também não estavam a ser os
melhores.
Já que falamos do
Paulo Pardalejo, foi esta situação a razão da sua saída?
Quero deixar uma
palavra de agradecimento, ao Paulo Pardalejo, por tudo que fez nesta sua
segunda passagem pelo clube. Independentemente de tudo, a sua forma de ser
fervorosa por vezes até irracionalmente apaixonada, de ver a modalidade lhe
trazer dissabores, não há dúvida que trabalhou diariamente de uma forma
abnegada em prol do grupo e do clube.
Continuando debruçados
na parte técnica, a aquisição da Felismina Pereira, provou ser uma aposta
certa?
Com a sua saída do
Paulo, em finais de Dezembro, encontramos na nossa actual técnica Felismina
Pereira ( Nocas) a alternativa que se veio a demonstrar a mais acertada e por
isso vai continuar connosco. Encontrou uma equipa algo apática, vinda de
resultados menos bons, desequilibrada em algumas posições e animicamente em
baixo com a alteração da equipa técnica.
Como muitas vezes
as mudanças são sinónimo de viragem, foi isso que aconteceu. Conseguiu pegar
numa equipa fragilizada, até pela posição que ocupávamos e a altura da época em
que estávamos, aumentando lhes os níveis anímicos, alguma alegria que estava
escondida voltou ao de cima e como em tudo na vida com muito trabalho e alegria
naquilo que fazemos os resultados começaram a aparecer de uma forma natural e
meritória.
Daí resultou
terminar o campeonato numa classificação que parecia impossível alcançar. Concordas
com a minha visão?
Acabamos por fugir
ao terceiro grupo de baixo que podia, se as coisas não corressem bem, definir a
nossa descida de divisão, alcançando o grupo do meio, estabilizando a equipa
emocionalmente e conseguindo uma classificação final digna e que ate podia ter
sido ligeiramente melhor.
É sempre uma luta
desigual, com clubes com muitas mais condições?
Se compararmos o nosso orçamento com o da
maioria das equipas com que competimos directamente, a capacidade financeira de
outros, oriunda de diversos apoios nomeadamente das autarquias que lhes
possibilita ter equipas muito mais competitivas em relação ao Boavista que
subsiste única e exclusivamente de meios próprios que são diminutos, arrisco-me
a dizer que fomos os grandes campeões da abnegação, humildade, capacidade de
trabalho e amor ao clube das nossas atletas.
Elas, sim, que
trabalhando ou estudando durante todo o dia conseguem chegar aos treinos e dar
tudo aquilo que têm e que não têm em prol do grupo. Posso dar o exemplo sem
desprimor para nenhuma delas da nossa capitã Rita Losada que tem já 20 anos de
Boavista a maior parte deles a jogar voleibol e a Catarina Soares que começa a
trabalhar as sete horas da manha e ainda arranja forças para treze/catorze horas
depois estar a treinar com afinco diariamente. Assim como todas as outras com
responsabilidades académicas etc… deram tudo de si em prol do grupo. Se isto não
é amor ao desporto, á modalidade, e sobretudo ao clube....
MANTER O CARISMA
DO BOAVISTA
Encerremos este
capítulo e passemos para a próxima época. O que tens a informar os adeptos?
Para esta época
que se avizinha queremos sobretudo manter o mesmo carisma, a mesma vontade e
sobretudo a mesma humildade. Só assim, conseguiremos os nossos objectivos.
Vamos ter uma equipa embora jovem, julgo que com maior capacidade e potencial.
Conseguimos aliar a experiência de algumas atletas que continuam no plantel,
com a experiência de outras que chegam e já com alguns anos de primeira divisão
, assim como com alguma juventude mas já com provas dadas e reconhecidas.
Dentro da nossa
realidade tentamos colmatar as lacunas nas posições que estávamos mais frágeis
e de alguma forma aprimorar outras em que passamos a contar com mais
alternativas, isto apesar de o plantel ainda não estar absolutamente fechado.
Falemos do
plantel. Como a analisas?
Acho que ainda
contaremos com mais uma ou duas atletas
que vêm emprestar mais qualidade e aumentar as possibilidades da treinadora.
Obviamente que temos os pés bem assentes e sabemos que vamos lutar contra
outras realidades , ainda para mais num campeonato que se adivinha muito mais
competitivo do que os dos últimos anos.
Quais os
objectivos desportivos?
Os nossos objectivos
passam à imagem do ano passado por ser mos o mais regulares possível , e com
isto não vivermos alguns sobressaltos que vivemos este ano. Acho que com a
equipa que construímos , com a capacidade da treinadora e da sua equipa técnica
de enorme valor estarão reunidas as condições para que tenhamos sucesso.
Sabemos que vamos
viver dificuldades, mas é precisamente para elas que o grupo irá ser preparado.
Este é o nosso desígnio porque somos o BOAVISTA, e o facto de envergar esta
camisola tem de ser motivo de orgulho para qualquer atleta , seja em que
modalidade for.
Sei que o Boavista
não conseguiu certas contratações porque surgiram adversários a oferecer
valores e condições que eram o triplo e mais que o Boavista podiam oferecer.
Confirmas esta questão?
É verdade que
existiram possibilidades que acabaram por não passar disso mesmo pois não
conseguimos, por força de realidades e contextos diferentes fazer face, mas
conseguimos atletas tão ou mais capacitadas para envergar a nossa camisola.
A REALIDADE
NACIONAL, QUE MUITOS DESCONHECEM
Entremos no
aspecto global da modalidade.No dito desporto amador em Portugal atravessa uma
fase tão invulgar que escapa a muitos adeptos. No mesmo campeonato jogam
equipas cem por cento amadoras com equipas a pagar milhares. Na condição de
dirigente de um clube totalmente amador, como antevê o futuro das modalidades
extra futebol?
O voleibol está a entrar nessa situação como se pode competir
com tamanha desigualdade de meios?
Para alguns a
curto/médio prazo será impossível. As desigualdades que se vivem em torno das
modalidades ditas amadoras e concretamente do voleibol têm sido mais acentuadas
nos últimos anos. Temos equipas no nosso campeonato a pagar valores mensais que
talvez paguem o plantel do Boavista na íntegra.
A grande
diferença, e é nisso que também queremos acreditar é que nem sempre os valores
propostos reflictam a qualidade desportiva. Embora tenhamos que reconhecer que
com orçamentos generosos se conseguem, a partida e teoricamente melhores
elementos, e são estes que estarão sempre mais próximo do sucesso.
A realidade do
Boavista é diferente. Os meios são menos generosos , mas tentamos colmatar essa
lacuna com atletas com enorme vontade de vencer independentemente daquilo que
lhes é oferecido, sendo certo que é muitas das vezes um factor desequilibrador.
Nesse aspecto, acho que contamos com as melhores atletas do mundo porque sendo
certo que o factor económico e muito importante, a vontade que demonstram em
vencer e vestir a nossa camisola, deixam me de certa forma tranquilo.
Voltemos ao clube.
Como está o projecto da formação?
Em relação aos escalões
de formação temos vindo a evoluir de uma forma visível, isto fruto de muito
trabalho quer de todos os técnicos com que contamos nos diversos escalões e também
da coordenação exemplar e organizada que a “Nocas” tem vindo a desenvolver nos
últimos dois anos.
É um trabalho para continuar, melhorar e
desenvolver. Ainda que com algumas nuances esta batuta estará entregue
novamente á “Nocas” , por força da sua posição na equipa sénior , mas
certamente com resultados superiores dos nossos treinadores que se mantêm assim
como aqueles que chegam agora ao clube já com imensa experiência. É para, nós também,
um factor primordial o desenvolvimento das nossas atletas quer a nível desportivo
mas sobretudo humano, visto que temos uma parte bastante grande de
responsabilidade nesse factor.
A Lúcia Pinto, sempre
foi uma peça importante nesse contexto, mas ao que sabemos, vai sair do
Boavista. Confirmas?
Confirmo e deixo
aqui uma palavra de agradecimento aqui á nossa treinadora Lúcia Pinto que irá
abraçar por vontade própria um novo projecto, mas que nunca deixará de fazer
parte dos nossos, quer pelo seu trabalho, mas sobretudo pela forma como abraçou
este projecto á cinco anos atrás dando tudo de si por vezes em prejuízo próprio
, em prol das atletas e sobretudo do clube. Por tudo isto, terá sempre a porta
aberta. Um obrigado.
No meio de todo o
amor e dedicação que os Boavisteiros dedicam ao clube, sentes que o voleibol é
apoiado?
Queria chamar a
atenção de todos os associados do clube assim como simpatizantes da modalidade
e do clube é que apareçam para apoiar o seu clube. Sendo esta grande
instituição, todas as modalidades merecem e precisam de apoio, não só o
voleibol. E é nestas alturas de maiores dificuldades que as atletas precisam
daquela força extra que por vezes é factor primordial e que vem do apoio da
bancada. E nisso os boavisteiros são apaixonados pelo seu club , não só em
relação ao futebol, e nunca nos deixam ficar mal. Fica o apelo para que
continuem se possível de forma ainda mais entusiasta as modalidades do clube.
Para concluir esta
entrevista, queres deixar alguma mensagem?
Não quero deixar
de agradecer a algumas pessoas que contribuíram ou continuam a contribuir para
o que o departamento de voleibol do Boavista Futebol Clube continue dentro da
sua realidade a realizar o melhor desempenho possível entre eles todos os seccionistas
( Antonio Teixeira, Fernando Ferreira, Samuel Pereira, Sandra Silva) a
coordenadora Felismina Pereira ( Nocas) e Alberto Pinto, Manuel Tavares, Carlos
Paiva , Eng. António Marques entre outros... Também uma palavra para o meu
amigo e anterior director do departamento Artur Nunes que há seis/sete anos me
desafiou para entrar nesta aventura. Por entre enormes dificuldades que vivemos
fomos levando o barco a bom Porto, e ao Eng. Antonio Marques vice presidente e
presidente adjunto , pelo desafio já há quase dois anos para tentar manter o
voleibol do Boavista no rumo que merece.
A tua dedicação ao
Voleibol do Clube tem sido recompensada e reconhecida?
Eu trabalho o
melhor que sei, para o MEU Clube de coração. Servir o Boavista é um privilégio
que ultrapassa a simples presença na bancada. Quando sair quero sentir que
deixei, com aajuda de todos, um trabalho positivo e uma coisa lhe garanto,
continuarei a apoiar e estar presente nos jogos e vida do Boavista Futebol
Clube. Porque já o faço desde que me conheço.
Sou Boavisteiro de
coração é uma honra estar a desempenhar este cargo em prol deste Clube.
Entrevista de
Manuel
Pina