SALVA PELO ATLETISMO
Carla Faria, uma das melhores atletas do Boavista Futebol Clube na
modalidade de atletismo. Atravessou uma fase difícil que lhe poderia vir a ter
consequências para toda a sua vida.
Mais que conhecermos as razões, esta entrevista pode servir para um “grito
de alerta” para as “facilidades”, como por vezes, encaramos alguns factos a nível de saúde
e prova, que muitas das vezes a prática do desporto, nos revela situações, que
sem essa prática poderiam passar ao lado.
Carla Faria, no seu jeito simples de ser e com a coragem de saber estar,
entrou em pormenores (sem medo) da sua vida intima, para nos explicar este caso,
intrigante, que lhe poderia ter destruído o seu futuro (vítima de um fármaco que
em França provocou a morte a dezenas de jovens mulheres).
Mais que explicar a travessia de um deserto de resultados, Carla,
atravessou um temporal com consequências nefastas para o seu futuro.
Salva pelo atletismo, que lhe ajudou a fechar a “Caixa de pandora”.
Vamos a factos!
Carla, tenho conhecimento que esta época te está a correr ao lado. Quais
as razões deste afastamento de resultados?
Eu, comecei a época mesmo mal, chegando a pontos de quase não conseguir
correr, com um cansaço enorme e constante.
Desculpa interromper. Mas qual a razão? Abrandamento nos treinos?
Não. Eu continuei a treinar como sempre o fiz, mas sentindo muitas dificuldades,
daí começar a pensar que as razões eram de cariz de saúde. Mais tarde, confirmei este
palpite, após ter feito as provas de pista coberta, tendo terminado com tempos
miseráveis, os meus tempos foram simplesmente miseráveis.
Assim, decidi ir ao médico, que me mandou fazer várias análises e descobrimos
o que realmente me causava todos os estes problemas.
Qual era a razão?
Ter iniciado um tratamento para o acne, passando por um medicamento anticonceptivo, que alterou todo o meu ciclo hormonal e vascular.
Não vamos entrar, na tua vida privada, por isso, vamos “dar um salto”
sobre o assunto…
Não, (interrompeu-nos) senhor Pina, podemos continuar no tema que acho
até importante para esclarecer em futuros casos. Esteja à vontade.
Vamos então saber quais os resultados que as análises apresentaram?
A hemoglobina estava baixa. O colostral estava muito alto e tive que
parar com a pílula, que se provou ser a base de todos os desarranjos hormonais
e agora sinto-me a voltar ao meu normal.
Em termos de resultados, eles foram assim tão diferentes?
Absolutamente. Em tempos de pista eram horríveis, aliás não podiam ser
de outra maneira, pois eu em três meses engordei… oito quilos!
Mas mesmo continuado os treinos?
Sempre treinei, mas o peso aumentava constantemente e mais que o peso
eu sentia-me a ficar inchada e a ver o meu corpo a mudar…para pior, mesmo no
aspecto de aparência física. Foram tempos horríveis.
Já que insistes, vamos, então, invadir um pouco a tua privacidade. Como
se processou tudo isso?
Tudo começou, ao aparecer-me na face direita, várias “borbulhas” que
quase pareciam feridas. Eram horríveis e eu resolvi tratá-las, juntando a isso,
o facto de ter um nível de ciclo menstrual, demasiado irregular, o que transtornava a
vida desportiva, e durante o mesmo, ter dores horríveis.
Tudo junto, me levou a
consultar o médico, que me aconselhou a iniciar o uso da pílula para “organizar”
a minha vida hormonal. As feridas na cara passaram, mas o resto surgiu...
Foi o abrir da Caixa de Pandora”?
Acho que sim. Foi um tempo terrível que passei. Engordei não conseguia
correr, inchava e naturalmente a minha moral, como atleta e pessoa. Foi caindo.
Quando paraste com esse tratamento?
Em Janeiro. Depois de ter feito exames clínicos. recuperei e já fiz os
nacionais de corta-mato, com os tempos a melhorar, que me fez começar a sentir
bem.
Vamos fechar, mas não esquecer, esta fase. A última pergunta (para
servir de alerta as jovens interessadas) qual o nome do fármaco que te “envenenou”?
Mas, se vamos encerrar este assunto, quero enaltecer
toda a ajuda que o Baltasar Sousa me deu. Como meu treinador, acompanhou todo o
processo, entreviu, aconselhou e quando viu aqueles resultados…ajudou a
procurar a solução. Não esquecerei.
NR – Para evitar problemas, com marcas, decidimos, não publicar o nome do fármaco, embora a Carla nos tenha identificado o nome. Pesquisamos na Net e descobrimos, que o fármaco em questão, teve as suas vendas proibidas em França (2013), depois de ter sido provado,
que foi o responsável pela a morte (no mínimo) de 27 jovens mulheres, entre os
18 e os 24 anos.
Que resultados obtiveste no regresso?
Nos nacionais oficiais fui décima segunda e nos universitários
juniores, fui sexta.
Nessa fase, como te falavam as pessoas?
Todas as pessoas achavam que isto se deveria estar relacionado, com a
minha mudança de estilo de vida. A mudança de casa de meus pais para o Porto, a
entrada na Faculdade e consequente mudança de hábitos. Os meus amigos, diziam
até, que eu tinha entrado na “má vida” de estudante e logo sofria de um stress
que me tinha alterado consideravelmente a vida. Nada disso era verdade, mas
cheguei a equacionar estar a ser vítima do tal stress.
Vamos entrar na parte desportiva. Como foi o teu regresso?
Como disse foi nos Nacionais de corta-mato, onde corri pelo Boavista e
no desporto Universitário. Foi um dia cheio de emoções e dificuldades. Tinha chovido
torrencialmente durante a noite e a chuva continuou na manhã da prova.
A pista
estava cheia de “piscinas”, com água a atingir os joelhos, o vento era muito
forte e muito frio. Eu equipada com o top, sofri bastante, mas era eu contra o
tempo e contra mim.
Vi muita gente a desistir e confesso, que cheguei a pensar o
mesmo, mas a luta era contra mim e continuei até final, conseguindo um décimo
segundo lugar, na geral.
Quando pensas estar na tua forma?
Estou a sentir-me melhor, a recuperar a minha forma e penso lá para
Junho ter tudo resolvido. Tenho que deitar fora estes quatro quilos a mais.
Como corres pelo Universitário?
Eles Jã me conheciam e convidaram-me para representar o Instituto Politécnico
do Porto.
Que objectivos para esta época?
Primeiro recuperar totalmente, depois atingir um dos seis primeiros
lugares nos campeonatos de pista.
Tu corres em pista com atletas que pertencem a clubes que têm pistas e
podem especializar-se nesse sector. Não te sentes um pouco marginalizada, se tivesses as mesmas condições,
comparada com elas?
Por um lado, penso que podia conseguir melhores resultados, por outro
lado, isso não me incomoda, porque confio totalmente no Baltasar que me
acompanha e treina.
Quem vai ficar para trás, no futuro, a Engenheira ou a atleta?
Eu estudo para ser engenheira, mas treino todos os dias para ser
campeã de atletismo. Nenhuma irá ficar para trás.
Qual a próxima prova?
A nove de Abril, participarei nos Nacionais Universitários.
Foi uma travessia no deserto?
Sim. Não fiz os nacionais nem os regionais de pista coberta…não valia a
pena, com tempos miseráveis.
Temos a Carla Faria de regresso?
Estou a regressar…
Depois de ter passado pelo inferno…dizemos nós!
Entrevista de
Manuel Pina