Para encerramento
da época e lançamento da próxima, realizamos uma entrevista de fundo com o
técnico axadrezado da equipa de futsal, do escalão de Sub-20, João Marques.
Na minha
opinião, o Boavista, realizou uma excelente época neste escalão, mas como seu responsável
técnico, como a analisas na sua globalidade?
Primeiro,
devemos referir, que foi uma época diferente de todas as outras, que tive como
treinador aqui no Boavista. Foi uma grande oportunidade que conseguimos por
mérito próprio, ao disputar um campeonato tão competitivo, como foi este
campeonato, que em valor competitivo, se aproxima muito da Liga Sport Zone, com equipas de mais valias, muito equilibradas. Por todas essas razões
considero que foi uma época bastante positiva.
No início da
época, apontavas para esta classificação?
Se eu
apontasse como obejctivo, no princípio da época, as meias-finais do campeonato,
não faltaria quem me chamasse maluco.
Foi uma
época conseguida ao atingir essa meta, mas fica sempre aquele “amargozinho”,
por termos ficado nas meias-finais, porque, quanto mais temos e conseguimos…
mais queremos. Obviamente, que saímos satisfeitos com o que fizemos ao longo da
época, mas queríamos ter feito um pouco mais.
Quando se
perde, fica sempre uma certa frustração, mesmo depois de terem vencido a fase
zonal e terem atingido esta fase. No entanto, não será um exagero, ter visto os
teus jogadores saírem de campo, demasiado tristes, como se a época tivesse sido
um falhanço? Saíram como derrotados, quando a época foi extraordinariamente
positiva. Como comentas?
Quando
começamos a planear a época, o principal objectivo era estabilizar o clube
neste campeonato, para se preparar o futuro. Não era nossa aposta, ao começar a
nossa primeira época neste escalão com objectivos muito altos, até porque, não conhecíamos
a realidade competitiva que nos ia deparar.
O objectivo principal,
foi completamente conseguido e a fasquia para o futuro, ficou mais elevada para
o futuro.
Como está o planeamento
da próxima época? Saíram muitos elementos?
A época que
agora terminou foi uma novidade para toda a gente do clube, pelas suas exigências
materiais e humanas, para a própria estrutura do departamento, etc…
Para a próxima
época, a nível de plantel, vamos apostar na continuidade da maior parte dos
atletas que temos e que continuem no escalão de juniores. Obviamente, que vamos
perder alguns jogadores, que transitam para o escalão de seniores, mas estamos
a trabalhar nos reforços e penso que vamos ter uma equipa, que com muito
trabalho pode conseguir coisas bonitas, na próxima época.
Vamos analisar
mais ao pormenor a equipa e o seu comportamento. A equipa marcou muitos golos,
mas sofreu muitos. A que se deve tal realidade?
Até nesse
ponto, acho que houve uma grande evolução. Basta ver que começamos o campeonato
a sofrer dez golos com o Caxinas, mas marcando, também, oito.
Fomos uma
equipa que nunca virou a cara a nenhum jogo, fosse qual fosse o adversário e
nunca mudamos nada, para defrontar qualquer adversário, fomos sempre, iguais e
fieis à nossa identidade. Reconheço, que tivemos algumas lacunas no aspecto
defensivo, que fomos corrigindo aos poucos no decorrer da prova. Mas como já
disse, nesta fase da carreira destes jogadores, que ainda são uns atletas em
formação, é muito difícil trabalhar o aspecto táctico e emocional. Num campeonato
tão competitivo, o lado emocional tem muita importância e houve alguns pontos
em que falhamos.
A diferença
de idades entre ti, que és o responsável técnico e os teus jogadores, é pequena. Esse facto, não constituiu um
problema, para lhe conseguires impor um rigor táctico que a irreverencia deles,
não aceita?
Trouxe dificuldades,
mas confesso que esta época foi a época que mais aprendi, que mais errei e que
vai ser uma base para mudar para o futuro…
Desculpa, mas
essa afirmação, significa que te consideras em formação como treinador, mas
também significa que estás a evoluir…
Tal como o
Senhor Pina, referiu, eles são atletas com idades de dezassete a dezanove anos
e eu tenho vinte e cinco. Eu nem (quase) “irmão mais velho” deles, sou.
Obviamente, que
sei que todos eles, por causa da irreverencia
da sua idade, consideram que deveriam estar em campo, por se considerarem
melhor que os que lá estão. Mas até nisso, considero, que conseguimos melhorar
e alterar algumas mentalidades e mudar certos comportamentos.
Utilizaste no
campeonato, muitas vezes a táctica de substituir quatro por quatro. És adepto
desse sistema?
Depende das
situações que surgem, porque por base, não sou muito adepto desse sistema. Depende
do próprio jogo. Se tiver uma equipa a jogar bem, não retiro quatro para meter
outros tantos só para ser fiel ao sistema. Faço, neste caso, as substituições
que achar mais indicado. No entanto, há jogos que o aplico para manter a
pressão, o ritmo e a própria qualidade do jogo, alterando os quartetos com características
diferentes e mantendo o domínio. Mas não sou estritamente apologista desse
sistema e não considero que o mesmo resulte sempre.
Os juniores
são o último escalão de formação, onde a competição aparece verdadeiramente. O Boavista,
há alguns anos que não vence a nível distrital, mas a nível nacional consegue o
título o ano passado e este ano, chega às meias-finais. Isso é uma evolução
natural de uma aposta para esse fim?
Quando assumi
os juniores há três anos, estudamos o que poderíamos conseguir a médio prazo. Nesse
ano, fizemos um plantel praticamente novo e partimos do princípio que seria o
ano zero de um projecto.
Esse plantel
evoluiu de uma forma estrondosa. Nesse ano, não conseguimos ser apurados para a
Taça Nacional, mas vencemos a Taça da AF Porto sem conhecermos a derrota, com
resultados dilatados.
No ano seguinte, vencemos a Taça
Nacional, depois de termos reforçado o plantel com jogadores de fora. Temos,
para além disso, lançado directamente no plantel, atletas de primeiro ano, pelo
que considero que foi um projecto positivo.
O Boavista
(em juniores de futsal) deixou de ser um clube da AF Porto?
Temos a consciência
disso mesmo. Conseguimos conquistar a nossa posição nas provas nacionais. Sabemos
que temos os olhares postos em nós e sabemos, que temos que trabalhar e evoluir
para mantermos essa posição. Acho que o Boavista, neste escalão é mais
considerado que era há três anos.
Está assegurada
a continuidade desse projecto, ou temos algum recuo?
O que lhe
posso assegurar é que o Boavista vai estar para o ano, como esteve esta época. A
lutar pela vitória em todos os jogos…todos! Seja contra o primeiro seja com o
último classificado.
Os reforços
que vais receber garantem isso?
Quando começamos,
há três anos, sabíamos que o projecto não poderia terminar três anos depois
quando os atletas subissem para seniores, senão estávamos a hipotecar o futuro
do escalão e o do próprio clube.
Tivemos a
sorte que os atletas que têm subido dos escalões de formações mais jovens, têm
apresentado grande valia técnica, o que nos permitiu manter o equilíbrio do
plantel e estou certo, que assim será este ano.
O plantel
desta época tinha jogadores de terceiro ano, com muita qualidade, mas também tinha,
atletas de primeiro ano com igual qualidade. Estou confiante, que vamos ter um
excelente plantel.
Na formação
é sempre um ciclo de alterações, de trabalho, de mudanças e de recomeço, mas a
nossa formação trabalha muito bem, em todos os escalões.
Então, está
garantida a continuidade?
Todos os
anos tentamos no mínino, igualar o já feito, mas a nossa ambição é melhorarmos
sempre, nem que seja só um pouco.
Despedindo a
camisola de treinador do Boavista, como “viste” este campeonato de sub-20?
Não tenho
dúvidas em afirmar que foi um grande passo no futsal de Portugal. Tenho que dar
os parabéns a quem o idealizou na Federação, o Pedro Dias, o selecionador
Nacional, Jorge Brás, o Pedro Palas, o José Luís. Este campeonato foi
claramente, uma aposta ganha.
Penso que
mesmo não sendo num futuro muito próximo, que vamos ver e beneficiar dos frutos
que esta mudança competitiva provocou, iremos, certamente, a breve prazo ver esses
jovens, a alimentar planteis seniores,
com possibilidades para os fazerem mais fortes e competitivos.
Termina a
debandada de muitos jovens, que nos planteis seniores faziam uma “atravessia do
deserto” em termos de utilização?
Não há
dúvida nenhuma que os atletas estão a sair muito melhor preparados, que saíam
há três anos atrás. O facto, de ser um campeonato em que estão as melhores equipas
é um ponto a favor, a intensidade competitiva, leva estes jogadores, para um
nível muito superior que anteriormente. O facto, de ser um campeonato com todos
os jogos cronometrados, leva os jogadores para a realidade da primeira divisão.
E na visão
dos treinadores?
Todo este
conjunto, obriga-nos a nós, treinadores, que tenhamos que ser cada vez melhores
para contrariar todas as situações que nos aparecem. É uma evolução constante
de todos, que vai tornar este campeonato cada vez mais competitivo e evoluído.
A Federação,
vai arrancar com este modelo, no escalão de Juvenis. Concordas?
Concordo com
a Federação, nesse projecto, mas sei que não vai ser fácil para os clubes, por
causa de investimentos grandes que este conjunto exige. Estamos a falar de um
campeonato que envolve muitos custos e uma logística muito grande.
Na prespectiva
de dirigente, deve ser muito complicado ter duas equipas, juvenis e juniores em
provas com essa envergadura. Como treinador, claro que apoio, mas reconheço que
será um problema para os dirigentes e logo, para os clubes.
Inequivocamente,
que neste panorama, com os juvenis a saírem mais fortes para os juniores isso
vai dar mais qualidade aos planteis juniores e consequentemente refortalecer os
seniores. Será um dinheiro de investimento, com retornos positivos.
Para a
Federação, o projecto ficaria perfeito se todos os clubes tivessem uma equipa “B”
nos campeonatos distritais, com a equipa principal no nacional. Como vês este
desejo?
É preciso
ver que este campeonato, se denomina como Sub-20, mas cada vez mais tem menos
sub-20 a jogar. Este ano. podíamos ter cinco atletas sub-20,inscritos no jogo.
Para o ano só podemos inscrever no jogo, quatro e, dentro de dois anos só
poderemos inscrever três atletas nestas condições por jogo.
Claro que a
equipa “B” poderia ser utilizada para rodar atletas juvenis a ganharem traquejo
num campeonato júnior, mesmo que distrital. Acho que seria uma vantagem, mas
uma vez mais, estou a falar como treinador. A realidade dos clubes pode não
permitir essa aposta.
Vamos terminar
a entrevista e encerrar a época. Qual a mensagem que o treinador quer enviar a
todos os adeptos e colaboradores?
Quero agradecer
muito a várias pessoas. Primeiro à minha equipa técnica. Ao Nuno Guimarães, ao
João Magalhães, ao João Cardoso e ao Fernando. Quero agradecer aos meus
directores pela paciência que muitas vezes tiveram que ter comigo e
especialmente ao Rui Costa por todo o trabalho que teve e por toda a envolvência
durante toda a época. Quero agradecer à Direcção do Boavista pelo tudo que nos
deu para que nada nos faltasse.
Por último,
quero agradecer a todos os adeptos que até nos momentos bons, marcaram presença
nos nossos jogos e aos pais dos atletas que muito nos ajudaram em várias
situações.
Como está o
João Marques para a próxima época?
Motivado. Quando
acaba a época estamos saturados e queremos férias, mas após duas semanas de
paragem e já estamos desejosos pelo recomeço.
Estamos motivados
e conscientes que vamos trabalhar muito para, no mínimo, igualar esta prestação
e vencer a aposta de atingir a fasquia num ponto mis alto que apostamos coloca-la.
Entrevista de
Manuel Pina