domingo, 26 de julho de 2015

ENTREVISTA "FORA DE JOGO" MAS DENTRO DO HUMANISMO. COM MORAIS GOMES

Excecionalmente, vamos introduzir neste blogue, um artigo que ultrapassa o foro desportivo, dando continuidade a entrevista feita com o Director do Hóquei em Patins, Morais Gomes, agora, numa vertente humanista. 
Morais Gomes
Pela sua actualidade e pela demonstração que o “mundo” não termina no desporto, apostamos na publicação desta entrevista, que consideramos de muita importância…


Senhor Morais, vamos falar um pouco desta “Obra Social” que o senhor preside. Quer fazer o favor de a apresentar?
Esta Instituição é uma força viva da freguesia de Massarelos e agora de Lordelo também.
O seu nome completo?

Obra Social Nossa senhora da Boa Viagem. Eu costumo dizer, que na sua essência esta IPSS é um lar de idosos mas não é só, um lar de idosos...
Temos um Centro comunitário e sou obrugado a afirmar… isto é uma coisa diferente! 
Esta Obra social é para ricos e pobres, sem qualquer diferença ou favoritismo… aqui, os pobres entram!

Vamos recuar no tempo, como foi fundada esta IPSS?

Foi fundada por três pessoas, um dos quais, como sócio número um, era o meu pai. Estas três pessoas tinham um princípio…”os pobres também têm direitos”.

Afirmação, que neste omento é difícil de seguir?

Por nós não! Continuamos a seguir rigorosamente estes princípios. É muito fácil, no presente, ouvirmos “este pobre não entra ali, porque não tem valores…” aqui, entra o pobre e o rico. 
Tomáramos nós termos aqui muitos ricos, que nos ajudariam a viver melhor. Infelizmente, não temos, mas continuamos com mais ou menos dificuldades a cumprir o nosso serviço à populações da nossa freguesia.

Com base na vossa sobrevivência. Pergunto. São vocês que vivem para servir ou os outros, cobrando “fortunas” vivem para se servir?

Nós temos soluções, desde que não se queira ganhar muito. Isto é uma IPSS, que felizmente vive bem, que nunca falhou com um cêntimo aos seus funcionários e que tem cinquenta e quatro funcionários… paga religiosamente aos funcionários e acima das tabelas instituídas. 
Deixe-me referir que temos funcionários fabulosos! E para além disso estamos, como pode ver, a fazer obras.

Voluntariamente?

Estamos a fazer obras, para cumprir a Legislação. Nós cumprimos religiosamente tudo que a Legislação impõe. Estamos a colocar portas corta-fogo. Eu pergunto quantas Instituições estão a cumprir a Legislação? 
Estamos a fazer quartos de banho, geriátricos do melhor que há. A casa funciona e temos dinheiro!

Têm alguns subsídios?

Não temos subsídios, temos um acordo de protocolo com o Estado através da Segurança Social.
A Segurança Social cumpre rigorosamente, pagando-nos um valor por cada individuo que temos internado e é com isso que nós vivemos!

Então o valor é bom?

Pagam-nos o que pagam aos outros!

Então, Portugal podia ser um país mais solidário?

Obviamente! Mas estas casas de acolhimento de idosos, visam essencialmente os lucros.
Morais e Casimiro Gomes, os responsáveis pela vida da Obra Social
É uma afirmação polémica. Tem a consciência disso?

Tenho… tenho! Nós temos aqui internados pessoas que recebem a pensão mínima. A nossa captação é feita com base na reforma. Nenhum, deixa de entrar, pelo valor que recebe de reforma. 
Está na lista para a entrada… existe uma vaga?… entra o primeiro da lista, tenha grande reforma ou pequena reforma. 
Infelizmente temos poucos cá, usufruindo de grandes reformas, que seria bom para todos. Mas temos a consciência que aqui não existem favoritos, aqui há uma listagem de candidaturas que se cumpre rigorosamente. Entra quem está a seguir. Se quem está a seguir tem uma reforma boa… melhor para todos, se não tem… pior para nós.

Projectos, para o futuro existem? Ou para o futuro o projecto é manter a casa?
O projecto a curto prazo,  é um projecto de alargamento para criar um lar para deficientes. Deficientes de qualquer idade. Há deficientes motores, deficientes mentais, etc… para nós, isso não existe! 
Há deficientes. 
E será para eles qualquer que seja a deficiência e idade. E para que vamos realizar estas obras? Porque nós temo-los entre nós no momento e queremos dar-lhes mais condições de vida. 
Gastaremos dinheiro? Claro que sinto! Mas esta Obra existe para servir, não para ter lucros enormes! 
Nós temos aqui famílias de pessoas deficientes, que tratamos e quando faleceram nos deixaram os seus filhos. Herdamos esses familiares. Temos um caso de uma família que nos deixou três.

Maquetes para alargamento de instalações
Quem são os candidatos a entrar no Obra Social?

É condição de primazia dar entrada aos idosos da freguesia Massarelos/Lordelo. Esta é a única condição dos Estatutos, não precisa ser sócio sequer.

Mais de meio século de existência, terá fases mais positivas e outras mais negativas. A questão é: a Junta de Freguesia colabora com a Obra, ou podia colaborar mais?

Eu coloco a questão de outra forma. A Junta colabora connosco e não colaboramos com a Junta, tudo num processo pacífico. 
Quer um exemplo? 
Quando comemorávamos um dos nossos aniversário a Junta pediu para organizarmos as Marchas de S. João e nós organizamos a rusga de Massarelos, sem qualquer problema. Todos juntos pela freguesia, nunca seremos demais.

Humanismo acima de qualquer cor politica?

Sim. tenho muita boas relações com esta Direcção da Junta como tive com as anteriores. Não sei se a Junta tem poder material para nos ajudar, não sei, nem me interessa. A nossa colaboração é Institucional e não precisamos de ajudas monetárias da Junta de Freguesia.

Monetariamente qde quem dependem?

Dependemos, do protocolo com a Segurança Social, que cumpre religiosamente, e nós também cumprimos. 
Por exemplo, esse protocolo, obriga-nos a ter três vagas para a Segurança Social e cumprimos essa obrigação. A nossa fonte de receita, é só essa e a capitação de receitas das pensões dos nossos utentes. E nós sabemos que neste país, as reformas são muito fraquinhas.

Podíamos ser um país mais social e solidário… porque não os somos?


Porque queremos ter grandes lucros e transformamos “obras de solidariedade" em fontes de receitas, para se obter lucros, só isso!

Entrevista de
 
Manuel Pina