quarta-feira, 26 de novembro de 2014

JUDO - PEDRO PINHEIRO, NA ENTREVISTA DA SEMANA

Pedro Pinheiro, é o responsável pelo Judo do Boavista. Dedicado a tempo inteiro à modalidade no Clube, tem um projecto de engrandecimento do Judo axadrezado, que culmina com a participação de atleta do Boavista Futebol Clube nas olimpíadas de 2020.

Conheça mais pormenores nesta entrevista exclusiva.
Comecemos por fazer uma apresentação pessoal, há quantos anos está ao serviço do Boavista?
Estou no Boavista desde dois mil e doze, por isso, estamos a entrar no terceiro ano do projecto.
Sendo um homem do judo, vamos falar um pouco de Pedro Pinheiro. 
Quando começou a praticar a modalidade?
Comecei a praticar judo em mil novecentos e oitenta e quatro e sou treinador, com diploma do curso da federação desde mil novecentos e oitenta e seis. Sou treinador de competição desde dois mil e um.

Como se encontra o Judo do Boavista?
Está muito bem, suplantado as espectativas que tínhamos inicialmente, está a crescer em número de atletas mas essencialmente a nível de resultados que estão a ser muito bons.
Sabe dizer quantos atletas temos neste momento?
Temos cerca de sessenta atletas.
Sendo um número muito satisfatório, podemos atingir que número de atletas?
Com as instalações que temos ao nosso dispor, podemos ter cerca de cento e vinte.
Os atletas dividem-se por classes?
Sim, dividimos os atletas por quatro classes. Uma dos mais pequenos dos quatro aos seis anos, outra dos sete aos nove e depois dos dez aos treze. Para além destas classes, temos os atletas de competição. Nós, no Judo, temos divisões diferentes de outras modalidades e assim, os atletas de competição, com idades a partir dos catorze anos treinam todos em conjunto. Os atletas de mais-valia, acabam por treinar mais, que os tempos normais, que são insuficientes, treinando todos os cincos dias, com uma carga de treinos até cerca de dez horas.

Com essa entrega, está exclusivamente ao serviço do Boavista?
É verdade. Somente dou uma aula por semana fora do clube, nos resto, estou sempre no Boavista.
Que resultados têm conquistado?
Este ano, tivemos os melhores resultados de sempre – gostaria de repetir – de sempre! a nível da zona norte do país, tirando o escalão de seniores, porque ainda não temos atletas seniores para competir.
No campeonato Nacional de juniores, conseguimos a melhor participação de sempre, ao obtermos três medalhados, feito que nunca nenhum clube da zona norte tinha conseguido. No escalão de juvenis, fomos os segundos classificados, ficando atrás as melhor escola de Judo de Portugal, a escola Nuno Delgado, conseguindo dois medalhados, sendo o Boavista o segundo Clube com mais medalhas.
A nível internacional, tivemos o atleta Alexandre Silva, a participar nos campeonatos Europeu e Mundial.

Segundo sei, essa participação é um facto enorme. Quer especificar?
Há pelo menos vinte e um anos, que nenhum atleta de um clube da zona norte (Coimbra para cima) estava presente em tal competição a este nível. Considero o feito do Alexandre Silva, enorme mesmo. Em nenhum escalão desde 1993 esteve presente qualquer atleta do norte!
O protocolo que existe entre o Boavista e a escola Fonte Pereira de Melo, é mais útil para quem ou está em partes iguais?
Neste momento, e porque é um protocolo recente, talvez seja mais favorável à Fontes, porque estamos a falar essencialmente de Desporto escolar, no futuro o Boavista virá a tirar os seus proveitos desse protocolo, que no entanto, não foi realizado para beneficiar nenhuma das partes em especial, mas essencialmente o atleta e aluno.
Falamos do desporto escolar. Muitos consideram-no “um bicho-de-sete-cabeças” e conheço até dirigentes federativos que têm medo dele. Qual a sua opinião sobre este tema?
Antes da lhe dará minha visão sobre o desporto escolar, deixe-me voltar atrás, para referir que neste momento, temos uma atleta em comum com a Fontes. Trata-se do Mirco Cabral que compete no desporto escolar pela Fontes e oficialmente pelo Boavista, com enorme progressão e a quem auguro um grande futuro no judo nacional e não só. Ganhou, este ano, medalhas em torneios, foi campeão da zona norte em seniores.

Voltemos ao desporto escolar…
Sobre isso tenho que lhe dizer; ninguém vai à procura do que desconhece! Se houvesse Judo em todas as escolas, o Boavista em vez de ter sessenta atletas neste momento, teria cento e vinte, ou cento e oitenta ou mesmo duzentos… mas ninguém procura o que desconhece, todos procuram o que conhecem. O desporto escolar é fundamental na divulgação das modalidades e captação de jovens para o desporto.
Mas muitos acusam-nos de ser uma base de problemas…
Tem problemas? Claro que tem. Mas são problemas do país. Não específicos do desporto escolar. Um dos problemas, quanto a mim, é não termos ainda definido o queremos do desporto em geral. Gastamos dinheiro no desporto escolar, gastamos no desporto federado e ainda subsidiamos o desporto privado. Resumindo o estado gasta dinheiro em três vertentes do desporto e nunca mais se define/decide por um programa desportivo global.

Não haverá um conflito de interesses entre escolas e clubes?
Eu vou referir-me ao Judo, deixando as outras modalidade. Na minha opinião, o Judo até aos 14 anos deveria ser feito todo, no âmbito do desporto escolar. Só que neste caso, os clubes teriam que ser ressarcidos quando os atletas passassem pra os clubes, porque todo o financiamento actual dos clubes é feito pelas mensalidades que os atletas de formação pagam. Todos sabemos que os atletas de competição dão prejuízo aos clubes. Teríamos que conseguir os ajustamentos necessários, mas já viu qual seria o crescimento do Judo se fosse trabalhado desde as escolas num sistema de massificação? É preciso repensar todas as situações.
Acredita nesse projecto para o futuro?
Eu acredito ser esta a solução, que outros países aplicaram e resultou. A que assisto agora? Assisto que as escolas – não a Fontes Pereira de Melo – desvaloriza o desporto quando retira a obrigatoriedade das médias da educação física, no décimo primeiro ano. Quando deixa de ser obrigatório a prática de educação física até ao nono ano, o que para mim é uma anormalidade. O desporto escolar, é uma coisa que umas escolas têm outras não. Enquanto estas coisas não se alterarem, vamos continuar a obter resultados que passam mais por a vontade e carolice de dois ou três que da decisão oficial do país.

O desporto é importante para a formação de um cidadão?
Mais que importante, o desporto sempre fez parte da formação de um bom cidadão.
Voltemos ao Boavista. A nível de instalações, com considera estar o Boavista?
Está muito bem! Temos uma sala das melhores que conheço a nível de clubes, a melhor de zona norte. No momento, estamos a sentir a necessidade de termos uma sala de musculação melhorada, porque cada vez aumenta mais o número de atletas de competição que precisam de trabalhar mais fortemente a componente física. Actualmente as instalações estão perfeitamente adequadas ao que realizamos. Talvez daqui a quatro anos não estejam e eu não diga o mesmo, mas isso será bom sinal…
Falou no início de um projecto. Qual é então o seu projecto para o Judo do Clube?
Desde que cheguei e me apercebi das condições que me ofereceram, o meu projecto em que aposto seriamente passa por levar atletas do Boavista aos jogos Olímpicos. Neste momento, pode parecer ser um sonho, mas não é! Estamos a desenvolver um trabalho direccionado nesse sentido, que nos leva a crer que teremos um atleta do Boavista, nos Jogos Olímpicos de 2020. Sabemos que temos que trabalhar muito para tornar esta ambição em realidade. Neste momento, não é um sonho. É uma ambição, é uma meta!
Quando chegou quantos atletas tinha?
Cerca de quarenta e cinco.
Enão está em progresso?
Claramente e para não estagnar, trabalhamos muito, num trabalho difícil, mas alicerçado. Como digo aos meus atletas, é difícil…mas eu gosto de coisas difíceis.

Como se conseguem angariar novos atletas?
Acima de tudo com o bom trabalho. As crianças que têm entrado, têm-no feito por indicações dos pais das crianças que já cá andam. Há também outros atletas que regressam com os pais de pois de um período de emigração, vinde de diversos países em que o Judo é modalidade popular. Esses entram no clube, porque existe no judo nortenho a referência de qualidade que é o Boavista.
Pode afirmar-se que o Boavista é o melhor clube do Norte’
Sim, pode afirmar isso. Temos um exemplo. Um atleta de nacionalidade francesa. com idade de júnior, que participou no campeonato nacional de Judo Francês, que é muito difícil, depois de chegar ao nosso país, procurou vários clubes e depois de muito ter analisado veio para o Boavista, dizendo que é o clube com melhores condições que encontrou.
Outra forma de divulgação é a publicidade que vãos fazendo a nível de panfletos ou informação na net.
Quando me fala que os filhos dos emigrantes quando regressam procuram praticar a modalidade, isso, por si, demonstra a forma como o Judo é praticado e incentivado no estrangeiro?
Claramente e é uma diferença brutal até a nível de preços que são norma pagar pela aprendizagem. Por exemplo, em França paga-se muito menos que em Portugal, porque aqui o clube tem que pagar tudo, e tem que ser através das mensalidades dos alunos que se cobrem todas as despesas, enquanto nesses países, os clubes são subsidiados.
A diferença de políticas que já nos referimos?
Que resulta neste pormenor… em França há seiscentos mil atelas a praticar Judo.
Homens como o Pedro, nunca deixarão de apostar no progresso da modalidade?

Nunca! Pode crer.

Entrevista de

Manuel Pina