Pedro Pinheiro,
é o responsável pelo Judo do Boavista. Dedicado a tempo inteiro à modalidade no
Clube, tem um projecto de engrandecimento do Judo axadrezado, que culmina com a
participação de atleta do Boavista Futebol Clube nas olimpíadas de 2020.
Conheça mais
pormenores nesta entrevista exclusiva.
Comecemos por
fazer uma apresentação pessoal, há quantos anos está ao serviço do Boavista?
Estou no
Boavista desde dois mil e doze, por isso, estamos a entrar no terceiro ano do
projecto.
Sendo um
homem do judo, vamos falar um pouco de Pedro Pinheiro.
Quando começou a
praticar a modalidade?
Comecei a
praticar judo em mil novecentos e oitenta e quatro e sou treinador, com diploma
do curso da federação desde mil novecentos e oitenta e seis. Sou treinador de
competição desde dois mil e um.
Como se
encontra o Judo do Boavista?
Está muito
bem, suplantado as espectativas que tínhamos inicialmente, está a crescer em número
de atletas mas essencialmente a nível de resultados que estão a ser muito bons.
Sabe dizer
quantos atletas temos neste momento?
Temos cerca
de sessenta atletas.
Sendo um número
muito satisfatório, podemos atingir que número de atletas?
Com as
instalações que temos ao nosso dispor, podemos ter cerca de cento e vinte.
Os atletas
dividem-se por classes?
Sim, dividimos
os atletas por quatro classes. Uma dos mais pequenos dos quatro aos seis anos,
outra dos sete aos nove e depois dos dez aos treze. Para além destas classes,
temos os atletas de competição. Nós, no Judo, temos divisões diferentes de
outras modalidades e assim, os atletas de competição, com idades a partir dos
catorze anos treinam todos em conjunto. Os atletas de mais-valia, acabam por
treinar mais, que os tempos normais, que são insuficientes, treinando todos os
cincos dias, com uma carga de treinos até cerca de dez horas.
Com essa
entrega, está exclusivamente ao serviço do Boavista?
É verdade. Somente
dou uma aula por semana fora do clube, nos resto, estou sempre no Boavista.
Que resultados
têm conquistado?
Este ano,
tivemos os melhores resultados de sempre – gostaria de repetir – de sempre! a
nível da zona norte do país, tirando o escalão de seniores, porque ainda não
temos atletas seniores para competir.
No campeonato
Nacional de juniores, conseguimos a melhor participação de sempre, ao obtermos
três medalhados, feito que nunca nenhum clube da zona norte tinha conseguido. No
escalão de juvenis, fomos os segundos classificados, ficando atrás as melhor
escola de Judo de Portugal, a escola Nuno Delgado, conseguindo dois medalhados,
sendo o Boavista o segundo Clube com mais medalhas.
A nível internacional,
tivemos o atleta Alexandre Silva, a participar nos campeonatos Europeu e
Mundial.
Segundo sei,
essa participação é um facto enorme. Quer especificar?
Há pelo
menos vinte e um anos, que nenhum atleta de um clube da zona norte (Coimbra
para cima) estava presente em tal competição a este nível. Considero o feito do
Alexandre Silva, enorme mesmo. Em nenhum escalão desde 1993 esteve presente
qualquer atleta do norte!
O protocolo
que existe entre o Boavista e a escola Fonte Pereira de Melo, é mais útil para
quem ou está em partes iguais?
Neste momento,
e porque é um protocolo recente, talvez seja mais favorável à Fontes, porque
estamos a falar essencialmente de Desporto escolar, no futuro o Boavista virá a
tirar os seus proveitos desse protocolo, que no entanto, não foi realizado para
beneficiar nenhuma das partes em especial, mas essencialmente o atleta e aluno.
Falamos do
desporto escolar. Muitos consideram-no “um bicho-de-sete-cabeças” e conheço até
dirigentes federativos que têm medo dele. Qual a sua opinião sobre este tema?
Antes da lhe
dará minha visão sobre o desporto escolar, deixe-me voltar atrás, para referir
que neste momento, temos uma atleta em comum com a Fontes. Trata-se do Mirco
Cabral que compete no desporto escolar pela Fontes e oficialmente pelo Boavista,
com enorme progressão e a quem auguro um grande futuro no judo nacional e não só.
Ganhou, este ano, medalhas em torneios, foi campeão da zona norte em seniores.
Voltemos ao
desporto escolar…
Sobre isso
tenho que lhe dizer; ninguém vai à procura do que desconhece! Se houvesse Judo
em todas as escolas, o Boavista em vez de ter sessenta atletas neste momento,
teria cento e vinte, ou cento e oitenta ou mesmo duzentos… mas ninguém procura
o que desconhece, todos procuram o que conhecem. O desporto escolar é fundamental
na divulgação das modalidades e captação de jovens para o desporto.
Mas muitos
acusam-nos de ser uma base de problemas…
Tem problemas?
Claro que tem. Mas são problemas do país. Não específicos do desporto escolar. Um
dos problemas, quanto a mim, é não termos ainda definido o queremos do desporto
em geral. Gastamos dinheiro no desporto escolar, gastamos no desporto federado
e ainda subsidiamos o desporto privado. Resumindo o estado gasta dinheiro em
três vertentes do desporto e nunca mais se define/decide por um programa
desportivo global.
Não haverá
um conflito de interesses entre escolas e clubes?
Eu vou referir-me
ao Judo, deixando as outras modalidade. Na minha opinião, o Judo até aos 14
anos deveria ser feito todo, no âmbito do desporto escolar. Só que neste caso,
os clubes teriam que ser ressarcidos quando os atletas passassem pra os clubes,
porque todo o financiamento actual dos clubes é feito pelas mensalidades que os
atletas de formação pagam. Todos sabemos que os atletas de competição dão prejuízo
aos clubes. Teríamos que conseguir os ajustamentos necessários, mas já viu qual
seria o crescimento do Judo se fosse trabalhado desde as escolas num sistema de
massificação? É preciso repensar todas as situações.
Acredita nesse
projecto para o futuro?
Eu acredito ser
esta a solução, que outros países aplicaram e resultou. A que assisto agora? Assisto
que as escolas – não a Fontes Pereira de Melo – desvaloriza o desporto quando
retira a obrigatoriedade das médias da educação física, no décimo primeiro ano.
Quando deixa de ser obrigatório a prática de educação física até ao nono ano, o
que para mim é uma anormalidade. O desporto escolar, é uma coisa que umas
escolas têm outras não. Enquanto estas coisas não se alterarem, vamos continuar
a obter resultados que passam mais por a vontade e carolice de dois ou três que
da decisão oficial do país.
O desporto é
importante para a formação de um cidadão?
Mais que
importante, o desporto sempre fez parte da formação de um bom cidadão.
Voltemos ao
Boavista. A nível de instalações, com considera estar o Boavista?
Está muito
bem! Temos uma sala das melhores que conheço a nível de clubes, a melhor de
zona norte. No momento, estamos a sentir a necessidade de termos uma sala de
musculação melhorada, porque cada vez aumenta mais o número de atletas de
competição que precisam de trabalhar mais fortemente a componente física. Actualmente
as instalações estão perfeitamente adequadas ao que realizamos. Talvez daqui a
quatro anos não estejam e eu não diga o mesmo, mas isso será bom sinal…
Falou no
início de um projecto. Qual é então o seu projecto para o Judo do Clube?
Desde que
cheguei e me apercebi das condições que me ofereceram, o meu projecto em que
aposto seriamente passa por levar atletas do Boavista aos jogos Olímpicos. Neste
momento, pode parecer ser um sonho, mas não é! Estamos a desenvolver um
trabalho direccionado nesse sentido, que nos leva a crer que teremos um atleta
do Boavista, nos Jogos Olímpicos de 2020. Sabemos que temos que trabalhar muito
para tornar esta ambição em realidade. Neste momento, não é um sonho. É uma
ambição, é uma meta!
Quando chegou
quantos atletas tinha?
Cerca de
quarenta e cinco.
Enão está em
progresso?
Claramente e
para não estagnar, trabalhamos muito, num trabalho difícil, mas alicerçado. Como
digo aos meus atletas, é difícil…mas eu gosto de coisas difíceis.
Como se
conseguem angariar novos atletas?
Acima de
tudo com o bom trabalho. As crianças que têm entrado, têm-no feito por
indicações dos pais das crianças que já cá andam. Há também outros atletas que
regressam com os pais de pois de um período de emigração, vinde de diversos
países em que o Judo é modalidade popular. Esses entram no clube, porque existe
no judo nortenho a referência de qualidade que é o Boavista.
Pode afirmar-se
que o Boavista é o melhor clube do Norte’
Sim, pode
afirmar isso. Temos um exemplo. Um atleta de nacionalidade francesa. com idade
de júnior, que participou no campeonato nacional de Judo Francês, que é muito difícil,
depois de chegar ao nosso país, procurou vários clubes e depois de muito ter
analisado veio para o Boavista, dizendo que é o clube com melhores condições
que encontrou.
Outra forma
de divulgação é a publicidade que vãos fazendo a nível de panfletos ou
informação na net.
Quando me
fala que os filhos dos emigrantes quando regressam procuram praticar a
modalidade, isso, por si, demonstra a forma como o Judo é praticado e
incentivado no estrangeiro?
Claramente e
é uma diferença brutal até a nível de preços que são norma pagar pela
aprendizagem. Por exemplo, em França paga-se muito menos que em Portugal,
porque aqui o clube tem que pagar tudo, e tem que ser através das mensalidades
dos alunos que se cobrem todas as despesas, enquanto nesses países, os clubes
são subsidiados.
A diferença
de políticas que já nos referimos?
Que resulta
neste pormenor… em França há seiscentos mil atelas a praticar Judo.
Homens como
o Pedro, nunca deixarão de apostar no progresso da modalidade?
Nunca! Pode
crer.
Entrevista de