quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

ENTREVISTA COM O NOVO JUDOCA, MIRCO CABRAL





No âmbito do protocolo de colaboração, em várias vertentes, entre o Boavista Futebol Clube – Actividades Amadoras – e a escola Fontes Pereira de Melo, Mirco Cabral, aluno desta Instituição de ensino, assinou contrato com o Boavista, na modalidade de Judo, continuando a representar a sua escola no desporto escolar e vestindo de xadrez no desporto de competição.

Fomos ao ginásio da Fontes,entrevistar Mirco, que também dá aulas de Judo - estagiando com os seus treinadores.
Foi durante uma aula de Judo, que entrevistamos este jovem Judoca.

Quem é Mirco Cabral?
Sou natural de Cabo Verde, tenho vinte anos e completo vinte e um no próximo mês de Abril. Vim para Portugal com quinze anos, decorria o ano de dois mil e nove.
Directamente para o Porto, ou para outra cidade?
Vim directamente para o Porto.
O ALUNO
Vamos falar um pouco do aluno. Frequentou outra escola em Portugal?
Não. Quando cheguei, decorria já o segundo período e por isso, não tinha escolas para entrar. Apresentei, aqui na Fontes, um pedido de acesso, que foi imediatamente aceite. A Directora da Escola, a Engenheira, Ana Alonso, no mesmo dia desse pedido, encaminhou para uma turma, na qual frequentei as aulas, embora não pudesse ser avaliado, por já ter passado a época de inscrições.
E manteve-se na turma, mesmo sabendo que não lhe valeria (oficialmente) de nada?
Sim, frequentei todo o ano como um aluno normal, ambientando-me e ganhando ritmo para o ano seguinte. Fiquei muito agradecido à Direcção por me terem dado essa oportunidade e reconheço que foi muito positivo.
Já terminou o curso, aqui no Fontes?
Sim, já terminei o curso, mas como desejo entrar para uma faculdade e em Setembro terei que realizar um exame nacional, que é obrigatório, continuo a frequentar as aulas, para conseguir melhores notas. Assim, continuo a ter aulas de português para melhorar os meus conhecimentos e continuo ligado ao desporto escolar, na escola.


Nesse capítulo, tenho conhecimento que já dá aulas de judo a alunos. Aluno e instrutor simultaneamente?
Estou a colaborar com os treinadores, que continua a ser os meus enquanto atleta. A minha colaboração serve de ajuda. Serve, também, para incentivar os meus colegas mais jovens que estão a começar a praticar o Judo.

Estando na Fontes há cinco anos, já se apercebeu que esta escola tem muitos alunos a praticar desporto federado. Esse facto, fica a dever-se ao espirito desportivo dos alunos ou existe um incentivo extra, por parte dos Vossos professores de Educação Física?
Vou falar da minha experiencia escolar no âmbito do Judo, no entanto, é perfeitamente visível o trabalho extraordinário de apoio do Dr. José Mário Cachada, que se empenha a cem por cento para o desporto escolar e não só com o Judo, mas em todas as modalidades. Conheço todos os professores de educação física e sei, que dão tudo para o desporto escolar. Levam-nos a todos os sítios e dão-nos todo o seu apoio, no Judo, no Futsal, no Atletismo.

Actualmente, os professores de educação física estão a impor a sua presença na sociedade. Anteriormente, não era assim. Você considera que um professor de educação física e um professor de corpo inteiro, como outro de qualquer disciplina?
Eu, até diria ao contrário. Hoje em dia, um professor de educação física tem um papel mais importante que qualquer professor. Hoje em dia, vemos os miúdos parados numa sala em frente ao computador, sem terem qualquer contacto com o desporto. Antigamente todos jogavam futebol, todos se movimentavam fisicamente, agora é só jogar play station. O professor de física, ligado a qualquer actividade lúdica/desportiva tem um papel fundamental no combate a um dos males dos jovens como sendo a obesidade infantil. Eu acho que se tem que dar o espaço merecido ao professor de física.

O JUDO
Vamos então falar um pouco de Judo. Como nasceu o gosto pela modalidade?
Tudo aconteceu no meu primeiro ano escolar, quando estava a fazer o décimo ano.
Então quando chegou a Portugal, não praticava judo?
Tudo começou aqui na Fontes. A professora, informou-nos que se tivéssemos actividade no desporto escolar teríamos benefício na disciplina de educação física. Eu estava a fazer o curso de desporto e soube, que a inscrição no desporto escolar, tinha o benefício de um valor na nota da disciplina. Eu até brinquei com a situação, perguntando se caso, eu tivesse vinte valores, com o ponto de benefício teria… vinte e um pontos (riu-se). Tinha um  colega praticava Judo, que me convidou para vir experimentar e assim fiz, gostei do que vi e estou aqui até hoje.

Do desporto escolar, para o desporto de competição. A partir daqui quais são os seus objectivos?
Estou focado neste ano, porque é o meu primeiro ano de sénior, vai ser um ano difícil para me adaptar ao ritmo de seniores, que têm pessoas com muito mais experiência que eu, alguns com mais anos de prática de Judo que eu tenho de vida e isso, no Judo, pesa muito. Mas resumindo, neste dois anos que se seguem quero marcar a minha presença no Judo sénior de Portugal.

O BOAVISTA
Você, acabou de assinar pelo Boavista como atleta federado no desporto de competição, dentro do espírito de colaboração que existe entre a Fontes e o Clube. O que tem a dizer sobre essa passagem para o Boavista?
Antes de responder, quero frisar que o Judo da Fontes no desporto escolar é também um clube. Quanto ao Boavista, para além do grande orgulho que esse facto representa para mim, devo dizer que durante o ano anterior eu já tinha o prazer de treinar no Bessa conjuntamente com atletas do Boavista, graças à amizade do meu mestre com o mestre Pedro Pinheiro do Boavista. O objectivo principal, era elevar o meu nível, treinando e convivendo com atletas de competição. Actualmente, graças ao protocolo que considero muito bom, ingressei de corpo inteiro no Boavista, repito, o que me dá imenso orgulho.

Os seus treinadores, José cachada e Pedro Seco, vêem um futuro muito promissor para si. Essa pressão que exerce não o incomoda?
O Judo já me ensinou muita coisa e entre essas ensinou a viver e lidar com a pressão. Em todos os combates que faço, sinto essa pressão, como a sinto na própria vida. O judo, não nos ensina só o combate desportivo, mas ensina, igualmente, a lidar com pressões da nossa vida.
Tudo que aprendemos no judo pode ser aplicado na nossa vida, por exemplo, eu sinto-me mais preparado e sei viver muito melhor, com a pressão que sinto, comparando com o que acontecia há anos atrás. A pressão que os treinadores exercem sobre mim, considero-a positiva, porque por vezes, ajuda-me a motivar-me mais que o que estou.

Não considera o Judo uma modalidade ingrata? Num combate se escorregar… tudo acaba sem hipótese de recuperação. Não acha isso, uma injustiça?
Não, sinceramente, não considero, porque num combate tanto eu como o meu adversário estamos em iguais circunstâncias e expostos às mesma condição, à mesma sorte, ao mesmo azar. Se eu posso escorregar, ele também pode escorregar…

Um pergunta de quem nada percebe de Judo. Como define a modalidade, o que é o Judo?
Eu diria que o Judo não é só um desporto, é acima de tudo, um estilo de vida. É fácil chegar aqui e praticar Judo, difícil é viver como um Judoca. Temos que tentar levar para o dia-a-dia o que aprendemos no tapete, ou seja, aprendemos a lidar com as situações que nos deparam dia-a-dia. Um aspecto, do qual gosto, é saber que aprendemos a cair. Vamos cair, mas sabemos que também aprendemos a levantarmo-nos. Vamos cair outra vez, vamo-nos levantar outra vez, isto é o ciclo da vida, é o ciclo do Judo, aprender sempre!

A nível de selecções ou a nível internacional já teve algum contacto?
Ainda não tive oportunidade de ser chamado a alguma selecção, mas através do apoio que a escola me deu tive a oportunidade de representar Portugal, duas vezes, na Taça da Europa. Estive presente em duas representações de Portugal no âmbito do desporto Escola, e confesso, que foram os momentos mais altos que tive e que me deram mais satisfação.

O que representa para si, estar aqui a ajudar os seus colegas conjuntamente com os seus treinadores?
Para mim é tudo! Eu no Judo o que mais gosto é de ensinar. Considero que se trabalhar muito irei ser um bom atleta, mas de certeza que no futuro serei muito melhor treinador que atleta eu gosto de ensinar.

Depois da receptividade que lhe proporcionaram na Fontes e mesmo sem conhecermos o que o futuro nos trará, o Mirco ficará sempre ligado à Fontes?

Sem dúvida. Sem saber o que vai acontecer, eu serei sempre um filho da Escola Fontes Pereira de Melo.




Entrevista de Manuel Pina Ferreira