Vítor Nascimento, é um dos técnicos
de andebol do Boavista, que se dedica aos jovens, ensinando-lhe os primeiros
pormenores da modalidade, nos quadros axadrezados há vários anos.
É actualmente responsável pela
equipa de Infantis. Sente-se bem a trabalhar com esses jovens?
Para mim nada é mais gratificante do que trabalhar com formação e
quando esta é na sua etapa de iniciação, mais valor dá a esse sentimento.
Sempre considerei um treinador de formação, pelo que posso dizer que
me sinto uma pessoa felizarda e realizada por poder treinar o escalão em que me
encontro
Quantos jovens compõem esse
escalão?
Neste momento o escalão de Infantis Masculinos é composto por 31
atletas, tendo iniciado a época com 22 atletas, tendo entrado mais 9 atletas
novos no seu decorrer, o que é um número muito grande para um escalão.
É habitual acompanhar os seus
atletas quando sobem de escalão. Será assim desta vez?
Muitas das vezes esse acompanhamento é feito pelo gosto e vontade do
treinador em prosseguir o seu trabalho de base, ou por necessidades de
organização técnica do Departamento. Para mim o importante é estar onde sou
mais necessário, excluindo os escalões de competição, pois considero-me Treinador
de Andebol do Boavista FC, pelo que onde o Clube precisar de mim é onde eu
estarei, mas neste momento e porque o meu fim de carreira está próximo, cada
vez mais gosto de estar na base da formação, pelo que se no próximo ano for para continuar, preferencialmente gostaria de ficar no mesmo escalão, primeiro, porque
tenho muitos atletas do 1º ano para dar continuidade à evolução deste ano, segundo porque o João Carmo está a fazer um excelente trabalho no escalão de Iniciados
e merece potenciar e consolidar todo a sua dedicação.
Em caso de os acompanhar, até
que escalão o fará?
Como respondi na questão anterior, gostaria de me manter no mesmo
escalão. Adoro o Andebol, mas não me vejo a treinar por muito mais tempo, por
isso tenho de ser uma pessoa realista e conscienciosa e como tal, pensar no que
é melhor para o Clube e não para mim, até porque também não sei se é do
interesse do Boavista FC a minha continuidade, pelo que nunca poderei ser eu a
impor condições, mas sim analisar o que me propoêm.
Muitos adeptos, consideram que
o Vítor Nascimento, é um homem da formação. É correcto pensar assim, ou um dia
poderá treinar uma equipa sénior?
Sou Treinador há já 25 anos, na verdade já treinei equipas seniores,
não que me tenha saído mal, mas só o fiz porque era um Clube especial e porque
precisavam do meu auxílio porque estava em perigo a continuidade do Clube, pelo
que foi uma situação excepcional.
Devo salientar que sou um treinador de formação por opção e não por
falta de ambição.
Infelizmente os Treinadores de Formação só vêm o seu trabalho
reconhecido nos princípios das acções de formações técnicas e na teoria, pois é
consensual que sem uma boa formação não poderão haver atletas de alta
competição.
No entanto os treinadores de formação na maior parte das vezes não são
reconhecidos, quer pelo trabalho que fazem nem em termos monetários, pois para
onde todos olham é para os resultados e competições das equipas que dão
visibilidade aos Clubes, que normalmente são os seniores.
Assim e na realidade do Boavista, apesar de não o ser, acabo por ter
um pouco de treinador sénior, pois grande parte dos atletas da sua equipa
iniciaram comigo a sua etapa de formação.
Quais as principais
dificuldades que encontra no contexto actual, para desenvolver o seu trabalho?
As maiores dificuldades que encontro são a falta de espaços e tempos
de treino, bem como o factor financeiro que não nos permite criar duas equipas do
mesmo escalão.
Treinamos três vezes por semana, em meio campo, no período de uma hora.
Imagine o que é fazer um treino para 32 miúdos em meio pavilhão!!!!!!
Ofereci-me para criar uma segunda equipa de infantis, para todos poderem
competir regularmente, temos 32 atletas, para cada jogo só posso levar 14,
ficam sempre parados 18 em cada fim-de-semana… Mesmo assegurando os treinos e
jogos de todos, esta pretensão foi-me recusada, porque actualmente para o
Boavista é impossível suportar os custos com os jogos (aluguer do pavilhão) e
arbitragens para uma segunda equipa.
Naturalmente que estas dificuldades me trazem trabalhos redobrados,
pois se por um lado quero formar os atletas convenientemente, por outro sinto
que devido ao número exagerado de atletas, não consigo ter as preocupações
técnico/tácticas individuais que desejava.
Felizmente até ao momento tenho conseguido gerir todas estas dificuldades,
bem como tenho conseguido manter motivação e vontade de continuar em todos os
atletas, sem que nenhum até ao momento tenha desistido. Mas tudo isto exige
muito de mim…
Nos escalões mais baixos (minis
e infantis) considera importante a obtenção de resultados desportivos, ou não
os considera fundamentais?
Esse é um daqueles temas que criam muita celeuma, se bem que para mim
tenho as minhas ideias bem definidas.
O Andebol como desporto, naturalmente vive de resultados pelo que
obrigatoriamente tem de haver competição.
Da mesma forma cada atleta (individuo) é competitivo logo espera obter
resultados.
Assim, na minha forma de estar e linha orientadora, assume claramente
que os resultados desportivos no escalão de Minis e Infantis, tirando os
efeitos motivacionais são o que menos me importa.
Formação, tal como a palavra diz, forma atletas, ou seja, fornecemos
informação e bagagem técnico/táctica individual nas suas etapas próprias para
que findo o seu processo de formação e entrada na competição o atleta esteja
bem dotado e capaz de sobressair na modalidade.
Para mim a formação é isso mesmo ensinar, potenciar os atletas para
que no final do seu processo evolutivo possam consolidar tudo o que
apreenderam.
A maior parte das pessoas pensam como eu, mas infelizmente, na prática
nem sempre o aplicam, pois acabam por preferir vencer, mesmo que isso implique
colocar a jogar sempre os mesmos 7 ou 8 jogadores, do que trabalhar
pacientemente todos os atletas, dando oportunidades a todos para que possam ter
a possibilidade de mostrar os seus dotes e vivenciar o factor jogo para além do
treino.
Como costumo dizer, TODOS queremos ganhar, mas no fundo acabam por
ganhar aqueles que têm melhores armas…
Para além de treinar estes
jovens desenvolve mais alguma actividade no Andebol do Boavista?
Já estou no Boavista à quase 16 anos, já passei por quase todas as
funções no Departamento de Andebol, mas neste momento dedico-me exclusivamente
ao treino, mas sem nunca me alhear da realidade do Departamento nem deixar de
dar o meu auxilio para o que for necessário
O que é para si o andebol e
como vê a modalidade em Portugal?
O Andebol para mim é como uma família.
Infelizmente o Andebol a nível geral acaba também por ser um pouco o
reflexo do país, ou seja está em crise, endividado e sem investimento.
Há um ou dois Clubes que têm dinheiro e discutem entre eles os prémios
existentes e há todos os outros que entre eles disputam o pouco ou nada que
sobra.
No entanto, como considero o Andebol como família, devo salientar que
no escalão de Infantis, para além do Técnico que sou, sou também o Pai e
Encarregado de Educação que transmite valores, regras, orientação e respeito e
o saber estar em toda a sua plenitude, exigindo sempre mais isso, do que
propriamente resultados desportivos.
Para mim, mais grave que a crise material é a crise de valores…
Entrevista de Manuel Pina Ferreira