Em vésperas de partida para a final four que vai atribuir o título
nacional, entre as quatro equipas que ascenderam ao primeiro escalão nacional
conversamos com o técnico axadrezado, Henrique Santos.
Nota: por motivos de saúde só hoje nos foi possível a sua publicação,
pelo qual facto, apresentamos as nossas desculpas.
Vamos começar, mesmo pelo início. Boavista FC campeão distrital só com
vitória e fico com a impressão que esse facto passou ao lado de muita – mas
mesmo muita gente. O que lhe apraz dizer sobre isso?
O treinador não pode estar mais contente, com uma equipa que ganha que
joga com alegria, que trabalha comigo junto há quatro anos e que é muito
solidária. Não temos um plantel formado só por sete/oito jogadores, sabemos que se um não joga aqui, joga ali, conhecemos as artimanhas uns dos outros e sabemos
quando algum está a encolher-se e a precisar de um abanão. Isso permitiu-nos
fazer dois grupos de sete, mais sete e uma equipa muitos forte.
Posteriormente, conseguem o apuramento para a final four dos campeões
só (de novo) com vitórias, o que representa que subiram de divisão e uma vez
mais… ninguém “reparou”…
Toda a agente pensa que isto foi muito fácil, mas não foi! Trinta
jogos, trinta vitórias, mas isso representa também muito trabalho, tivemos jogos
muito dificílimos, jogos a ganhar por um
golo, quase a empatar etc… e para vencer tivemos que lutar e trabalhar muito,
que realmente passou ao lado de muitas pessoas. Tivemos momentos maus, que
demos a volta pela união e carisma que conseguimos entre todos.
Mas era ideia generalizada que o Boavista era claramente superior a os
adversários, Concorda?
O nosso plantel era muito equilibrado que nos permitiu impor um ritmo
de jogo constante, fazer mudanças durante o jogo, que nos permitiu manter um
nível que digo sem modéstias, nos tornou a melhor equipa. Os resultados
acabaram por provar isso.. esse houvesse outras equipas que o fizessem o jogo
viriam por abaixo.
Reconhece a sua superioridade?
A minha não, mas na aposta que
todos elementos do Departamento fizemos. Podíamos ter lutado pela subia o ano
anterior, mas preferimos apostar tudo nesta época com uma equipa muito mais
madura e competitiva, com muitos mais hipóteses de lutar pela permanência na
manutenção no primeiro escalão da próxima época.
Há uma relação muito especial consigo e os seus treinadores. Umas vezes
até os vejo discordar de si e sempre tratarem o Henrique por Henrique, nunca
por mister nem senhor. Essa á uma das bases do sucesso e como se consegue gerir
um grupo com tal intimidade?
Isso são coisas que se conseguem com o trabalho e tempo. Eles sabem as
linhas limites do relacionamento das duas partes. Trabalhámos juntos há quatro
anos, e eu sempre lhe disse, vamos trabalhar na base do respeito, eu não quero
ser tratado nem por mister nem por professor , mas todos vamos reconhecer onde
começam e terminam os nossos limites e responsabilidades.
Mas muitas vezes eles falam mais que o treinador….
(rui-se) em muitos time-outs que eu
peço, são realmente que mais falam. Eles sentem o jogo lá dentro e eu
sempre lhes pedi, não me falem nas costas, se acharem que estou a errar digam-me
para todos juntos analisarmos e tentarmos vencer o jogo, que é o mais
importante de tudo. Mas atenção, atenção
só me podem dizer no balneário porque o grupo ali está fechado e todos sabem
até onde podem ir, porque no final eu sou sempre o treinador. Mas todos sabem
quem pisar os riscos está fora… mas está mesmo fora. Todos eles sabem. Estas são
as nossas regras. Quanto aos time-outs eu oiço-os porque eles percebem de andebol,
eles jogam andebol e muitas vezes eu também aprendo com eles em pormenores que
não me estava a aperceber no momento.
Como sabe conheço estes jovens de anos atrás, eu e você brincávamos
dizendo que havia alguns a quem a sombra vencia numa corrida. Outro caso. Este dia
um deles veio interrogar-me seria verdade o que eu tinha escrito, que ele era
campeão distrital do Porto. Como é isso possível acontecer?
Essa do título distrital, sou-lhe sincero, passou-nos um pouco ao
lado. Até a mim próprio foi um jogador que me alertou, porque foi um jogador
que me alertou, porque o objectivo principal era conseguir o título nacional e subirmos
de divisão….se conseguirmos vencer a fase final? Melhor! E estávamos não
apostados nisso, que só considerávamos que conseguíssemos vencer algo se conseguíssemos
ser campeões nacionais…
Eu tive contacto com outras equipas e em todas ouvi considerar que o
caso do Boavista era um caso à parte no campeonato. assume essa diferença?
Vamos por partes, nós sabíamos que tínhamos uma equipa com ambições e
valores para a primeira divisão, isto
foi um projecto e aposta traçada por mim, falei com toda estrutura do andebol e
o ano passado até poderíamos ter subido, mas iríamos fazer uma primeira divisão
com jogadores de segundo ano em fase de aprendizagem, enquanto se a aposta
fosse neste ano, com este excelente conjunto de jogadores nós chegaremos na próxima época com hipóteses de lutar pelos
lugares de meio da tabela. Eu se não tivesse dispensado três/quatro jogadores
para os juniores o ano passado teria subido de escalão, mas depois andaríamos
na luta pela manutenção, enquanto este ano eu sinceramente penso que tem suma
equipa para jogar de igual para igual com a maior parte de adversários que
vamos defrontar.
Mas isso defende o que eu tenho dito, aquilo a que chamo o
conta-ciclo. Os juniores sobem com uma equipa forte e depois têm uma equipa
demasiado jovem nesse escalão.
Eu penso igual. Se os juvenis têm três anos de jogo, então o que
terceiro que é o mais forte seja disputado na primeira divisão, esta foi a
minha aposta. Abdiquei de este ano lado ano lá estar, que mesmo abdicando de
jogadores estive na corda da banda para subir… para esta época chegarmos lá
fortes. E mais, com a agravante que o ano passado subiram sete ou oito e era
fácil subir, e preferimos apostar neste ano, sabendo que era mais problemático.
Vamos perder o João Tomás mas eu disse aos meus jogadores nós vamos para a primeira
divisão e vamos andar nivelados por cima nesse escalão.
Paremos com o passado e vamos falar od futuro próximo. Vai passar um
fim de semana entre equipa felizes – todas subiram de divisão – mas no domingo
só uma se rirá. Custa-lhe jogar foraesta fase?
Olhe desportivamente não custa. E porquê?
Porque o Boavista não tem pavilhão e joguei todos os jogos fora, ou no mínimo
em campo neutro. Mesmo quando jogava em casa jogava em campo neutro, eu nunca
treinei no Fontes, onde jogava… Por essa razão serão mais três. Por outro lado, sinto uma grande amargura por não ver a Associação do Porto a Câmara Municipal que nos poderia ter conseguido pelo menos o transporte e para eles
era tão fácil e para nós tão difícil… nenhuma dar apoio ao Boavista.
A
Associação viu os títulos de formação fugirem para Lisboa e mesmo assim a
Associação de Lisboa, a Câmara de Mafra a Junta etc… apoiam esta fase dando
mais hipóteses as clubes da zona. No Porto quanto mais não fosse teríamos o palácio
de Cristal nem que fosse para es equipas dormir. Assim o Boavista gasta
milhares de euros para lutar sozinho por uma luta que deveria ser nossa…da cidade
da Associação.
Muita amargura nas suas palavras…
Muita, mesmo… há coisas difíceis de entender
Mas a formação axadrezada afirma-se?
Completamente, temos uma estrutura deformação fantástica em todos os
escalões, toda a gente quer jogadores do Boavista, temos uma procura dos nossos
atletas que chego a considerar estúpida todos os querem…
Qual o adversário que mais teme para a luta pelo título?
Confesso que não conheço nenhum mas o primeiro jogo será muito
importante. o objectivo é ganhar isso está fora de questão mas não conheço nenhuma
das equipas. Vou dizer aos meus jogadores , meus amigos vocês já são os
campeões, o que vier a seguir virá de bom grado, não há obrigações de ganhar
isso já foi realizado.
O calendário…
O primeiro jogo como Sporting da Horta equipa forte que ganharam o
direito por melhor segundo classificado, mas penso que será no jogo de domingo
no último como Liz que tudo se irá decidir.
Se o Boavista for campeão nacional os únicos com direito a lugar na
foto serão treinadores e jogadores?
Eu se for a primeira coisa que farei se for campeão é
pegar no troféu e entregar ao meu atleta Tomás Alves, que me desculpem os
outros.
Que me desculpem os boavisteiros, a minha família. Tenho que dar a uma
pessoa que trabalhou o ano inteiro que se empregou e que de repente tem uma ruptura
em três lados, Interno, externo e cruzado.
Encontrei-o a chorar no balneário e
não pode ir a esta festa. O troféu será para ele o resto não interessa… podem
vir todos ou não vir ninguém.
entrevista de
Manuel Pina