Fabiana
Silva, será a atleta mais experiente da equipa sénior de Voleibol. A atleta, que
representava o Belenenses, é natural da Madeira, tem o Porto no seu coração e o
espirito da pantera na sua personalidade. Esperançada numa grande época mas
consciente da dificuldades que o futuro da prova vai trazer.
Vamos
começar por fazer uma apresentação aos adeptos. Quem é a Fabiana Silva?
Sou Madeirense,
nascida na cidade do Funchal e tenho vinte e nove anos. Vim para o continente
há dez anos, tendo vivido oito desses anos, na cidade do Porto da qual gosto muito e
por isso, foi com imenso prazer que voltei ao Porto.
Desportivamente?
Vim do
Belenenses, para regressar ao meu primeiro clube do Continente, o Boavista. Joguei cá, no Ala
de Gondomar e no Castêlo da Maia.
Como acontece
este regresso ao Boavista?
Principalmente
por razões profissionais, decidi voltar à terra que, eu gosto, e ao Boavista,
clube com que identifico, para dar continuidade à minha carreira no Voleibol e
partilhar os meus conhecimentos com as minhas colegas.
Onde iniciaste
a tua vida no Voleibol?
No Sport
Madeira, que foi o meu primeiro clube. E que por sinal, foi um clube que fez
muita frente ao Boavista, durante largos anos.
Sei que és
uma líder dentro do campo, mas que muitas vezes substituis essa simpatia e dás um
berro dentro do campo. Confirmas ?
Primeiro eu
gosto de berrar… depois, o povo Madeirense, é um povo que se caracteriza pela
sua raça, que se identifica um bocado com os Boavisteiros. Guerreiros, que
lutam pelos seus ideais e a quem ninguém vence.
Para além de
atleta da equipa sénior, vais trabalhar nos escalões de formação. Em que
condições e com que equipas?
Vou trabalhar
com o minivoleibol, numa situação em que me tenho dedicado há alguns anos. Comecei,
no Castêlo da Maia, com o minivoleibol “B” masculino e fui mudando até chegar
às camadas mais altas.
Em Lisboa, no Belenenses, mantive esse trabalho, que
quero continuar no Boavista. É neste meio, que me sinto bem e, quem sabe, um dia
subir até lá acima.
Como nasceu
este amor pelo Voleibol?
Eu sempre
fui uma atleta de muitos desportos. E quando digo muitos, digo mesmo muitos. Colectivos,
individuais, com raquete, sem raquete, com bola, sem bola… houve uma altura, em
que jogava futebol, que o meu pai me obrigou a decidir.
Por opinião de amigas e influência do Desporto Escolar, acabei por optar pelo Voleibol, até hoje.
O que
esperas, para a próxima da equipa do Boavista?
Não vai ser
facilitada de todo. Nós vamos ter algumas dificuldades, dizendo melhor, muitas
dificuldades até, porque somos, uma equipa muito jovem.
Felizmente, ou
infelizmente, eu sou, até ao momento, a jogadora mais velha e só tenho vinte e
nove anos! Temos algumas limitações técnicas, que estão e terão que ser
melhoradas…
Desculpa interromper,
mas parece que estou a ouvir o professor José Machado…
Mas isto é a
verdade e tudo é muito fácil de explicar.
Explica então.
O que falta
em Portugal é haver poucos treinadores de base, que possam dar às atletas todos os
conhecimentos, ou parte dos conhecimentos, que elas necessitam para utilizar depois nas
seniores.
O que acontece, é que o trabalho está a ser realizado de forma muito
rápida, ou então não da melhor forma. Isso, faz com que elas cheguem ao escalão
sénior com muitas falhas técnicas, tácticas e até mesmo, de personalidade. Sinceramente,
neste momento, é o que considero que mais falta no Voleibol.
Deixa-me
colocar uma pergunta pessoal. O que eu verifico na formação do Voleibol, é que
as jovens, salvo poucas excpeções, levam a fase de formação, quase como uma
brincadeira do fim das aulas diárias, e assim, muito poucas se preparam para jogar
Voleibol “a sério”. Sentes isso?
Concordo, na
base. Mas isto advém muito, da nossa sociedade e da caracterização da sociedade
de hoje em dia.
A sociedade, hoje em dia, quer que todos os jovens sejam os
melhores alunos, exigindo que quase todos eles, tenham que ter “cinco ou vinte”.
Se têm que ter “cinco ou vinte”, não têm tempo para praticar as suas
actividades e serem melhores atletas.
O problema, é que a maior parte dos pais e
encarregados de educação, não entendem, e existem estudos que provam o que eu
vou defender, que se os jovens forem bons atletas e souberem qual é a diferença
entre jogar, ganhar, perder, sorrir, chorar, ser campeão, ou simplesmente estar
dentro do campo só por estar. Não percebem, que isso, se irá refletir depois na
sociedade de futuro.
O que acontece, hoje em dia, é que as crianças vêm para cá
brincar, porque simplesmente… têm direito a tudo! Há uma facilidade incrível de
hoje em dia, as crianças receberem tudo o que querem e por isso, não têm que
lutar muito!
Tudo isto, acaba por se refletir no Voleibol e em todas as outras
modalidades.
Vais, com a
ajuda da tua equipa técnica, impor essas alterações de comportamento?
Existe, um
ditado que diz; “de pequenino se torce o pepino”. Eu gosto do espirito
Boavisteiro e gosto que as pessoas tragam para aqui as suas filhotas, porque
têm um amor especial ao clube e não só porque as crianças têm que fazer alguma actividade
física. Isso, em si, já traz alguma garra.
Agora só temos que incutir algumas
coisinhas para que as miúdas percebam que o "amigo está do outro lado, mas
se pode, jogar contra ele".
Ter prazer, mas ser irreverente.
Entrevista de
Manuel Pina