Como (já) é
do conhecimento dos adeptos axadrezados, a equipa sénior do andebol sofreu uma
alteração a nível de orientação técnica. Reunimos os dois treinadores, Evaristo
Ribeiro e José Martingo, que formam a nova equipa técnica e realizamos uma
entrevista conjunta.
Começamos pelo
técnico principal, Evaristo Ribeiro. Como se processou o vosso ingresso no
comando do Boavista?
Evaristo - Um
dia de manhã fui contactado pelo meu amigo, José Martingo, que me perguntou o
que pensava sobre assumir o comando do Boavista. A nossa relação de amizade e
de trabalho já vem de uns anos a esta parte e se nos últimos seis anos, o José
esteve sempre comigo e nunca me abandonou, quase senti a obrigação de lhe dizer
que sim, dado que facilmente percebi que ele queria aceitar tão honroso
convite.
Pelo que
verifico, vocês para além de amigos formam uma equipa. Vamos começar por
identificar primeiro o Evaristo. Quem é o Evaristo Ribeiro no andebol?
Evaristo - Para quem
não me conhece devo dizer que ingressei no Andebol com dez anos de idade. Neste
momento, tenho cinquenta o que equivale em dizer que tenho quarenta anos
interruptos de andebol. A minha formação foi toda feita no FC Porto, depois saí
uma época para a Sanjoanense. Estive, no ABC de Braga, com o técnico António Cunha,
durante cinco épocas e regresso ao FC Porto.
Jogador de elite
do nosso andebol?
De elite
não. Era um atleta sempre disponível para trabalhar e bom colega de balneário,
que ocupava um lugar de certo modo ingrato no campo.
Qual era a
sua posição?
Era guarda-redes,
numa altura em que apareceram vários jogadores internacionais com valor para
esse lugar, eu fiquei um pouco na sombra, mas sempre a fazer o melhor que sabia
em prol da equipa. Depois a partir dos meus vinte e três anos foi me dada a
oportunidade para começar a treinar e daí até aqui, nunca mais parei.
Na condição
de treinador, quais os clubes onde passou?
Passei por
vários clubes, como por exemplo, Académico do Porto, Nuno Alvares, Leça, Gaia e
Cal.
Sempre continuamente?
Sempre seguido, no momento, era minha
intenção fazer um pequeno interregno,
porque pensei dar um novo rumo à minha
vida, mas o José e o Boavista “obrigaram-me” a mudar de ideias e vou continuar.
Vamos
agora conhecer o José Martingo. Fale -nos do seu passado. Quem foi no mundo do
andebol, o José Martingo?
Martingo - No passado e
no presente! Porque ainda continuo por cá. Comecei cedo, com nove anos. Comecei
e completei todas as etapas de formação até sénior no Salgueiros. Neste clube, fiquei até terem extinto a secção de andebol, entrei para o Académico, passei
pelo S. Mamede, Santana e Sª da Hora onde encontrei o meu amigo Evaristo, que
era o treinador e me convidou para ingressar no clube. A partir daí a nossa
carreira é conjunta.
Já como
treinador?
Não. Eu
prolonguei muito a minha carreira de jogador. No Senhora da Hora, ainda estive
quatro anos e depois acompanhei-o para o CAL, eu ainda como jogador e ele
treinador. Terminei aí a carreira de jogador e passei para treinador com o
Evaristo.
Falemos do
Boavista. Neste projecto actual o clube aposta na permanência constante nos
primeiros escalões. A equipa caiu um pouco a nível de resultados. Pergunto, chegaram
a tempo de evitar sobressaltos ao deveriam chegar mais cedo? A manutenção será
fácil ou difícil?
Martingo - Vamos por
partes. Só passam os quatros primeiros para a luta pelo título e penso que
deste modo, será muito difícil intrometermo-nos nessa hipótese, até admito que
já não hipóteses.
Então falemos
da manutenção neste escalão. Fácil?
Um clube com
tal historial e nome como o Boavista, não pode ficar em modalidade alguma a
jogar pela simples manutenção, tem sempre que jogar para lugares mais altos. Assim.
Considero que devemos primeiro consolidar a posição na segunda divisão e depois
apostar em voos mais altos como é ambição num clube de tal emblema.
Mas este ano
é manter a equipa neste escalão. Pergunto ao Vilarinho, concorda comigo?
Vilarinho –
O que nos foi pedido quando tomamos
conta da equipa, foi manter a equipa neste escalão, não vai ser fácil mas acho
isso possível.
Não vai ser
fácil?
Não, repito. Mas acredito ao ver que o grupo de trabalho tem qualidade e está unido nesse
projecto. Estão a trabalhar muito bem. Eles querem ajuda para o seu trabalho e
nós estamos aqui para dar essa ajuda e todos juntos iremos conseguir, com
algumas dificuldades iremos conseguir atingir os nossos objectivos. O Boavista
é um clube de massas de adeptos e garantido a continuidade do clube neste
escalão, poderemos no futuro ambicionar mais que a permanência.
Acreditam que
é possível colocar na próxima época o Boavista a lutar pelos primeiros lugares?
Vilarinho - Se mantivermos
a grande maioria destes jogadores e colocarmos aqui mais três elementos do
nível dos que já temos, mantendo igualmente as condições de trabalho, como
temos feito, considero que o Boavista tem condições para lutar – repito – a lutar
pelo apuramento para uma fase final.
Isso é
importante?
Uma das
coisas que eu desconhecia era que o Boavista tem muita formação, mesmo muita. Ora
se tem uma equipa de Juniores a lutar pela subida ao escalão principal, com
praticamente garantida a passagem à fase final. Temos todo interesse em termos
a equipa júnior na primeira divisão nacional. Quando se forma com tanta
qualidade, tem que forçosamente se apontar para que os escalões mais altos ao mais alto nível.
Mas será possível
imaginar o Boavista na primeira divisão a lutar contra colossos com grandes
orçamentos?
Martingo – Acho
perfeitamente possível esse facto, senão vejamos. Os orçamentos actuais não têm
nada a ver com os orçamentos de há uns anos atrás. Tirando os habituais
candidatos ao título os orçamentos dos outros clubes, são muito reduzidos. Há muitos
jogadores a jogar na primeira divisão sem receber qualquer valor. Numa filosofia
parecida com essa o Boavista tem todas condições para jogar na primeira
divisão. Terá que haver um novo investimento mas não muito diferente do actual
para atingir este patamar.
Estão prontos
a conseguir esse objectivo?
Martingo - Obviamente
se estudarmos bem o projecto, podemos perfeitamente conseguir
Vilarinho –
Sim desde que se trabalhe em profundidade, nós estamos consciente que é
possível.
Vocês vêem
substituir um amigo, numa situação sempre desagradável. Desejam enviar uma
mensagem ao Eduardo Ferreira?
Evaristo – Eu fui apanhado de surpresa e penso que o José também. Em muitos anos de
andebol é sempre possível que esta situação aconteca com qualquer treinador. Mais
importante que as pessoas é o clube e as pessoas que o dirigem já tinham tomada
a decisão e deixado em aberto o cargo. Eles é que dirigem o clube e acharam que
era o momento para a mudança. Mas eu realço, que mais importante, que o treinador
são os jogadores que têm que se manter unidos e a dar continuidade ao trabalho.
Não sei o que correu mal e por mim, estou á vontade, porque lhe confesso, nunca
tinha visto o Boavista a jogar, nem conhecia a sua vida interna.
Martingo – Nós
fomos convidados pelo director da equipa, Fernando Oliveira, que tinha assumido
interinamente a equipa. Quando fomos convidados havia um vazio no comando da equipa,
não viemos substituir ninguém, porque nessa altura o nosso amigo Eduardo já não
estava vá.
Quantos jogos
faltam e qual a meta final?
Martingo –
Nós temos uma meta pessoal que não divulgamos a ninguém, mas faltando nove
jogos, sempre lhe digo que queremos conseguir a manutenção acima do meio da
tabela.
Evaristo – Se analisarmos a tabela vemos que alguns clubes têm uma diferença significativa
sobre nós, mas acho que é possível atingir a meta que idealizamos.
Vão lutar
pela permanência e simultaneamente preparar a equipa para o ano, ou pensar apenas
nesta época?
Martingo - Não sei se
vai ser comigo, com o José ou com os dois ou ainda com outras pessoas, que se
vai jogar para o ano. Mas vamos tentar mudar algumas coisas e que acho ser razoável
conseguir mudar.
Muitas pessoas
acusavam a equipa de jogar demasiado pelo pivot e centro. Essa estratégia vai
ser alterada?
Evaristo - Essa
é a filosofia do Eduardo, que não se pode questionar, mas nós pretendemos dar
mais largura ao jogo e liberdade ao jogador para utilizar os flancos.
Martingo –
Eu nunca vi o Boavista jogar, por isso não comento isso, mas sempre lhe posso
dizer que neste momento, os golos que obtemos estão mais divididos por todos
jogadores o que demonstra a nossa filosofia de jogo.
Entrevista de
Manuel Pina