sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

BRUNO VALENTIM E A EVOLUÇÃO NA NOVA MODALIDADE

Para acompanharmos a evolução e integração de Bruno Valentim na nova modalidade, mais uma vez procuramos o grande Campeão, para sentirmos o seu "pulsar", Confesso que acabo sempre "incomodado" com a sinceridade e humildade deste campeão:

Bruno, como se está a processar a evolução nesta nova modalidade?
Muito melhor do que imaginava. Tinham-me dito que ia ter de esperar cerca de dois anos até conseguir os resultados que já atingi em cinco meses e meio de treino. Só que treinei intensamente e queimei algumas etapas.

Quantos atletas portugueses já aderiram ao tiro?
Tanto quanto sei nenhum. Aqui há uns quatro ou cinco anos alguém andou a “dar uns tiros”, mas deixaram de aparecer referências a esse facto. Porém, a Federação Portuguesa de Tiro está interessada em desenvolver a modalidade e já aderiu ao Comité Paralímpico de Portugal.

O que leva um Campeão de Boccia a deixar a “tranquilidade” de um mundo que conhece bem, pela aventura de escolher nova modalidade?
Antes de mais tudo tem um princípio e um fim. Se é certo que no Boccia ainda estava numa fase muito boa, até porque já tinha muita experiência, não aceitei que me impusessem quem muito bem queriam e nem sequer aceito que se tratem as pessoas deficientes como “paus-mandados”, portanto saí e não me arrependi nada. Depois, fazer coisas novas também é bom.
Sabemos que competiu num torneio no qual conseguiu um grande resultado. Quer falar um pouco sobre esse torneio?
Finalmente correu-me bem. Já fiz bastantes treinos com pontuações acima do mínimo paralímpico e até tenho um recorde de 597 em 600. Porém, a inexperiência paga-se caro e as condições nas competições são muito diferentes em muitos aspectos. Assim, para trás estão três competições com resultados menos bons (mas de certo modo excelentes para o tempo que levo de treino), mas foram fundamentais para fazer erros e asneiras, que tinham de acontecer mais tarde ou mais cedo, e que espero não aconteçam nas competições realmente importantes. Portanto, na última competição já fiz 591 pontos e fiquei a três do mínimo paralímpico.

Anteriormente a esta mudança já tinha praticado tiro?
Não, mas minha história desportiva vem muito detrás.
Quando era miúdo, e não tinha nenhum problema, pratiquei muitos desportos e adorava o desporto em geral, com a perda de força tive de abandonar essa paixão, mas ficou sempre algo cá dentro. Com o tempo vim a descobrir que afinal era possível continuar a praticar actividades desportivas, mesmo tendo uma doença neuromuscular.
Assim, entre mergulho desportivo, boccia, vela e tiro fui com o tempo escolhendo, e praticando, o que mais me convinha.

Sabendo das dificuldades monetárias pelas novas despesas, que ia enfrentar, como ganhou “coragem” para as enfrentar sozinho? Já conseguiu algum patrocínio exclusivo?
Antes de mais, o maior problema era adquirir informação para começar a adquirir material. Se estivesse à espera que a iniciativa partisse de clubes de tiro ia ter de esperar muito tempo, se é que alguma vez iam desenvolver o tiro paralímpico.
Decidi, então, que ia aplicar o dinheiro dos prémios do boccia, mas sozinho as despesas depressam atingiram valores que já vão em 8000 €.
Entretanto, as coisas mudaram, depois de acreditar que era possível, tive três apoios excelentes, na altura o Engº Marques e o Engº Américo, respectivamente Vice-Director das Actividades Amadoras e Director do Departamento do Desporto Adaptado do Boavista FC, garantiram-me no BFC uma sala de treino para o tiro.
Finalmente, nesta fase recebi do Dr. Eduardo Matos, a título pessoal, e da Associação dos amigos do Boavista apoio integral à minha participação na Taça do Mundo na Polónia. Neste momento não pode ser melhor.
Entretanto, a Drª Cristina Almeida (ex-Coordenadora das Amadoras do Boavista FC) não deixou de me ajudar a desenvolver este projecto, pelo que de certo modo, com tantos amigos do Boavista FC, nunca me senti nem estive sozinho.
Quanto a ter um patrocinador exclusivo é difícil de conseguir, mas é possível, vamos lá a ver se aparece algum que ache que não é só o Mourinho que faz as coisas com paixão.

Ainda não tem treinador oficialmente, porque razão?
Primeiro porque há muito poucos treinadores de tiro e segundo porque não há nenhum de tiro adaptado. É possível que venha a pagar as etapas que queimei na aprendizagem do tiro, pois não chega ler e treinar muito, mas considerando os meus objectivos e a experiência que já tive no boccia mais vale esperar que surja a pessoa certa. Depois, o meu auxiliar, o Marco Alves, é aluno da FADE e espero que venha a progredir para que seja ele o meu treinador. Enfim, cada coisa a seu tempo.

Qual a próxima competição em que vai participar?
Como já referi vou à Polónia (22-26 de Março) a uma Taça do Mundo, mas logo a seguir segue-se a Turquia (24-29 de Abril) e a Espanha (2-9 de Maio). Ou seja, tenho três competições para conseguir dois mínimos paralímpicos. Se falhar agora, o que espero não aconteça, as próximas serão nos EUA e na Austrália em Outubro e Novembro.
Seja lá como for, obrigado Dr. Eduardo Matos, Drª Cristina, Engºs Marques e Américo, e todos o amigos do Boavista FC.