sábado, 29 de junho de 2019

FERNANDO PEREIRA EM ENTREVISTA DE FUNDO. O PASSADO, PRESENTE, FUTURO E A REALIDADE DO VOLEIBOL AXADREZADO E NÃO SÓ


FOMOS OS GRANDES CAMPEÕES DA ABNEGAÇÃO, HUMILDADE. CAPACIDADE DE TRABALHO E AMOR AO CLUBE


Fernando Pereira, é o director do Departamento de Voleibol. Numa entrevista de fundo, apresentou a sua análise e previsão versando o passado, o presente e futuro da modalidade e objectivos a atingir. A realidade do voleibol axadrezado e não só, nesta grande entrevista.

A ÉPOCA TERMINOU DE FORMA POSITIVA, NUMA CAMINHADA ALGO ACIDENTADA

Comecemos pela época anterior. Qual a tua análise sobre a mesma?

Foi uma época que projectamos dentro das nossas possibilidades, com as limitações que já fazem parte da nossa realidade e com as quais ja nos habituamos a conviver, um bocado á imagem daquilo que o clube vive de uma forma transversal, mas sempre com uma enorme vontade de conseguir resultados que prestigiem o nosso emblema seja em relação á nossa equipa sénior na primeira  divisão nacional, assim como em relação a todos os escalões de formação.

Essas dificuldades, foram superiores ao esperado?

Acho que precisamente as dificuldades com que convivemos, assim como o clube de uma forma geral, deram nos em determinadas alturas da época a força, determinação, abnegação e a humildade para que conseguíssemos em períodos mais conturbados , dar a volta por cima e conseguir os nossos objectivos. Por isso, é que acho que de uma forma geral todos aqueles que colaboraram ou colaboram com o departamento foram ou continuam a ser uns verdadeiros heróis.

Podes pormenorizar?

Em relação á equipa sénior começamos a pré época com 15 atletas , com um plantel algo inexperiente e bastante jovem, fruto precisamente das limitações que existiam e existem. Por motivos profissionais, pessoais, académicos, chegamos ao fim do primeiro terço da época com 10 atletas no plantel . Tivemos de nos valer de duas e três  atletas da nossa formação, muito jovens, embora com qualidade, sem experiência num contexto completamente diferente.
Foi a forma que nosso técnico na altura( Paulo Pardalejo) encontrou para equilibrar de alguma forma a equipa e manter condições de treino equilibradas ao plantel. Aliás foi enorme a capacidade do treinador conseguir manter o ritmo de trabalho e os níveis anímicos em cima, numa altura em que os resultados também não estavam a ser os melhores.

Já que falamos do Paulo Pardalejo, foi esta situação a razão da sua saída?

Quero deixar uma palavra de agradecimento, ao Paulo Pardalejo, por tudo que fez nesta sua segunda passagem pelo clube. Independentemente de tudo, a sua forma de ser fervorosa por vezes até irracionalmente apaixonada, de ver a modalidade lhe trazer dissabores, não há dúvida que trabalhou diariamente de uma forma abnegada em prol do grupo e do clube.

Continuando debruçados na parte técnica, a aquisição da Felismina Pereira, provou ser uma aposta certa?

Com a sua saída do Paulo, em finais de Dezembro, encontramos na nossa actual técnica Felismina Pereira ( Nocas) a alternativa que se veio a demonstrar a mais acertada e por isso vai continuar connosco. Encontrou uma equipa algo apática, vinda de resultados menos bons, desequilibrada em algumas posições e animicamente em baixo com a alteração da equipa técnica.
Como muitas vezes as mudanças são sinónimo de viragem, foi isso que aconteceu. Conseguiu pegar numa equipa fragilizada, até pela posição que ocupávamos e a altura da época em que estávamos, aumentando lhes os níveis anímicos, alguma alegria que estava escondida voltou ao de cima e como em tudo na vida com muito trabalho e alegria naquilo que fazemos os resultados começaram a aparecer de uma forma natural e meritória.

Daí resultou terminar o campeonato numa classificação que parecia impossível alcançar. Concordas com a minha visão?

Acabamos por fugir ao terceiro grupo de baixo que podia, se as coisas não corressem bem, definir a nossa descida de divisão, alcançando o grupo do meio, estabilizando a equipa emocionalmente e conseguindo uma classificação final digna e que ate podia ter sido ligeiramente melhor.

É sempre uma luta desigual, com clubes com muitas mais condições?

Se compararmos o nosso orçamento com o da maioria das equipas com que competimos directamente, a capacidade financeira de outros, oriunda de diversos apoios nomeadamente das autarquias que lhes possibilita ter equipas muito mais competitivas em relação ao Boavista que subsiste única e exclusivamente de meios próprios que são diminutos, arrisco-me a dizer que fomos os grandes campeões da abnegação, humildade, capacidade de trabalho e amor ao clube das nossas atletas.
Elas, sim, que trabalhando ou estudando durante todo o dia conseguem chegar aos treinos e dar tudo aquilo que têm e que não têm em prol do grupo. Posso dar o exemplo sem desprimor para nenhuma delas da nossa capitã Rita Losada que tem já 20 anos de Boavista a maior parte deles a jogar voleibol e a Catarina Soares que começa a trabalhar as sete horas da manha e ainda arranja forças para treze/catorze horas depois estar a treinar com afinco diariamente. Assim como todas as outras com responsabilidades académicas etc… deram tudo de si em prol do grupo. Se isto não é amor ao desporto, á modalidade, e sobretudo ao clube....

MANTER O CARISMA DO BOAVISTA

Encerremos este capítulo e passemos para a próxima época. O que tens a informar os adeptos?

Para esta época que se avizinha queremos sobretudo manter o mesmo carisma, a mesma vontade e sobretudo a mesma humildade. Só assim, conseguiremos os nossos objectivos. Vamos ter uma equipa embora jovem, julgo que com maior capacidade e potencial. Conseguimos aliar a experiência de algumas atletas que continuam no plantel, com a experiência de outras que chegam e já com alguns anos de primeira divisão , assim como com alguma juventude mas já com provas dadas e reconhecidas.
Dentro da nossa realidade tentamos colmatar as lacunas nas posições que estávamos mais frágeis e de alguma forma aprimorar outras em que passamos a contar com mais alternativas, isto apesar de o plantel ainda não estar absolutamente fechado.

Falemos do plantel. Como a analisas?

Acho que ainda contaremos com mais uma ou duas  atletas que vêm emprestar mais qualidade e aumentar as possibilidades da treinadora. Obviamente que temos os pés bem assentes e sabemos que vamos lutar contra outras realidades , ainda para mais num campeonato que se adivinha muito mais competitivo do que os dos últimos anos.

Quais os objectivos desportivos?
Os nossos objectivos passam à imagem do ano passado por ser mos o mais regulares possível , e com isto não vivermos alguns sobressaltos que vivemos este ano. Acho que com a equipa que construímos , com a capacidade da treinadora e da sua equipa técnica de enorme valor estarão reunidas as condições para que tenhamos sucesso.
Sabemos que vamos viver dificuldades, mas é precisamente para elas que o grupo irá ser preparado. Este é o nosso desígnio porque somos o BOAVISTA, e o facto de envergar esta camisola tem de ser motivo de orgulho para qualquer atleta , seja em que modalidade for.

Sei que o Boavista não conseguiu certas contratações porque surgiram adversários a oferecer valores e condições que eram o triplo e mais que o Boavista podiam oferecer. Confirmas esta questão?

É verdade que existiram possibilidades que acabaram por não passar disso mesmo pois não conseguimos, por força de realidades e contextos diferentes fazer face, mas conseguimos atletas tão ou mais capacitadas para envergar a nossa camisola.

A REALIDADE NACIONAL, QUE MUITOS DESCONHECEM

Entremos no aspecto global da modalidade.No dito desporto amador em Portugal atravessa uma fase tão invulgar que escapa a muitos adeptos. No mesmo campeonato jogam equipas cem por cento amadoras com equipas a pagar milhares. Na condição de dirigente de um clube totalmente amador, como antevê o futuro das modalidades extra futebol? 

O voleibol está a entrar nessa situação como se pode competir com tamanha desigualdade de meios?
Para alguns a curto/médio prazo será impossível. As desigualdades que se vivem em torno das modalidades ditas amadoras e concretamente do voleibol têm sido mais acentuadas nos últimos anos. Temos equipas no nosso campeonato a pagar valores mensais que talvez paguem o plantel do Boavista na íntegra.
A grande diferença, e é nisso que também queremos acreditar é que nem sempre os valores propostos reflictam a qualidade desportiva. Embora tenhamos que reconhecer que com orçamentos generosos se conseguem, a partida e teoricamente melhores elementos, e são estes que estarão sempre mais próximo do sucesso.
A realidade do Boavista é diferente. Os meios são menos generosos , mas tentamos colmatar essa lacuna com atletas com enorme vontade de vencer independentemente daquilo que lhes é oferecido, sendo certo que é muitas das vezes um factor desequilibrador. Nesse aspecto, acho que contamos com as melhores atletas do mundo porque sendo certo que o factor económico e muito importante, a vontade que demonstram em vencer e vestir a nossa camisola, deixam me de certa forma tranquilo.

Voltemos ao clube. Como está o projecto da formação?

Em relação aos escalões de formação temos vindo a evoluir de uma forma visível, isto fruto de muito trabalho quer de todos os técnicos com que contamos nos diversos escalões e também da coordenação exemplar e organizada que a “Nocas” tem vindo a desenvolver nos últimos dois anos.
 É um trabalho para continuar, melhorar e desenvolver. Ainda que com algumas nuances esta batuta estará entregue novamente á “Nocas” , por força da sua posição na equipa sénior , mas certamente com resultados superiores dos nossos treinadores que se mantêm assim como aqueles que chegam agora ao clube já com imensa experiência. É para, nós também, um factor primordial o desenvolvimento das nossas atletas quer a nível desportivo mas sobretudo humano, visto que temos uma parte bastante grande de responsabilidade nesse factor.

A Lúcia Pinto, sempre foi uma peça importante nesse contexto, mas ao que sabemos, vai sair do Boavista. Confirmas?

Confirmo e deixo aqui uma palavra de agradecimento aqui á nossa treinadora Lúcia Pinto que irá abraçar por vontade própria um novo projecto, mas que nunca deixará de fazer parte dos nossos, quer pelo seu trabalho, mas sobretudo pela forma como abraçou este projecto á cinco anos atrás dando tudo de si por vezes em prejuízo próprio , em prol das atletas e sobretudo do clube. Por tudo isto, terá sempre a porta aberta. Um obrigado.

No meio de todo o amor e dedicação que os Boavisteiros dedicam ao clube, sentes que o voleibol é apoiado?

Queria chamar a atenção de todos os associados do clube assim como simpatizantes da modalidade e do clube é que apareçam para apoiar o seu clube. Sendo esta grande instituição, todas as modalidades merecem e precisam de apoio, não só o voleibol. E é nestas alturas de maiores dificuldades que as atletas precisam daquela força extra que por vezes é factor primordial e que vem do apoio da bancada. E nisso os boavisteiros são apaixonados pelo seu club , não só em relação ao futebol, e nunca nos deixam ficar mal. Fica o apelo para que continuem se possível de forma ainda mais entusiasta as modalidades do clube.

Para concluir esta entrevista, queres deixar alguma mensagem?

Não quero deixar de agradecer a algumas pessoas que contribuíram ou continuam a contribuir para o que o departamento de voleibol do Boavista Futebol Clube continue dentro da sua realidade a realizar o melhor desempenho possível entre eles todos os seccionistas ( Antonio Teixeira, Fernando Ferreira, Samuel Pereira, Sandra Silva) a coordenadora Felismina Pereira ( Nocas) e Alberto Pinto, Manuel Tavares, Carlos Paiva , Eng. António Marques entre outros... Também uma palavra para o meu amigo e anterior director do departamento Artur Nunes que há seis/sete anos me desafiou para entrar nesta aventura. Por entre enormes dificuldades que vivemos fomos levando o barco a bom Porto, e ao Eng. Antonio Marques vice presidente e presidente adjunto , pelo desafio já há quase dois anos para tentar manter o voleibol do Boavista no rumo que merece.

A tua dedicação ao Voleibol do Clube tem sido recompensada e reconhecida?

Eu trabalho o melhor que sei, para o MEU Clube de coração. Servir o Boavista é um privilégio que ultrapassa a simples presença na bancada. Quando sair quero sentir que deixei, com aajuda de todos, um trabalho positivo e uma coisa lhe garanto, continuarei a apoiar e estar presente nos jogos e vida do Boavista Futebol Clube. Porque já o faço desde que me conheço.
Sou Boavisteiro de coração é uma honra estar a desempenhar este cargo em prol deste Clube.

Entrevista de
 Manuel Pina