sábado, 29 de julho de 2017

ENTREVISTA DE FUNDO, COM PAULO PARDALEJO, TÉCNICO PRINCIPAL DO VOLEIBOL



"Quando cheguei não era Boavisteiro, mas fiquei e sou Boavisteiro, agora tenho uma pantera tatuada numa perna!"

Paulo Pardalejo, regressou ao Boavista para comandar a equipa sénior de voleibol, após ter concluído o seu contrato com a equipa açoriana do Ribeirense.

Nesta entrevista de fundo, fomos ao "fundo" de muitas questões, todas respondidas, directamente e sem hesitações, bem à imagem do técnico Paulo Pardalejo.

A APRESENTAÇÃO

Não seria necessária qualquer apresentação, para o público do Voleibol, mas mesmo assim, iniciamos esta conversa, relembrando que esta é a segunda vez, que vais comandar o Boavista. Quando foi a primeira vez e em que condições?

A minha primeira passagem foi há cerca de cinco anos atrás, se não estou em erro, na época entre dois mil e dez e dois mil e doze. Nessa altura, o Boavista, estava na segunda divisão e apostado na subida ao primeiro escalão.

Épocas, vividas por ti, com muita paixão (fui testemunha) agora o Paulo está mais calmo?

Fiquei apaixonado por este clube e vivia intensamente, como espero viver agora. Quando cheguei ao Clube, não era Boavisteiro, mas fiquei Boavisteiro.  Quando saí, senti sempre uma necessidade de voltar.

O PERCURSO DEPOIS DO BOAVISTA

Por onde andaste, entre a saída e o regresso ao Bessa?

Fiz meia época no Leixões, na equipa feminina, onde as coisas não correram bem e depois, fiz uma época, na equipa Sénior masculina do Leixões, que correu muito bem. Depois fui para os Açores treinando o Ribeirense durante duas épocas, que foram muito boas em termos globais. Foi tudo muito bom.

Viver numa ilha (Pico) para um homem tão activo, é fácil ou nem por isso?

O primeiro ano, foi espectacular, o segundo já foi mais difícil, as saudades aumentam... Tive saudades da família e do sobrinho que está numa idade incrível. 
Depois é todo o tempo que uma pessoa gasta constantemente em viagens. É acabar os jogos e ir  a correr para o avião para regressar à ilha. Depois na ilha a nossa vida é treino, treino, treino e jogo e mais treinos, pouco há mais para fazer. Tudo isto, provoca um desgaste emocional muito grande.

O REGRESSO AO BOAVISTA.

Foi esse cansaço que te faz sair do Pico e o Boavista aproveitou, para uma contratação inesperada?

O que tem que acontecer…acontece. Há algum tempo que andávamos a conversar e acho que a vontade era mútua, pelo menos a minha era muita. Surgiu a oportunidade e foi um namoro concluído.

A realidade que vais deparar no Boavista – a nível de treinos – vai ser muito diferente do que tinhas nos Açores. Como vais coordenar essas diferenças, com maiores dificuldades logísticas?

É uma aspecto a ter em conta. Estamos a falar do Ribeirense que com o Clube "K", são equipas totalmente profissionais. No Pico, a nossa vida era treino e treino, com um volume muito grande de treinos bis-diários e só uma folga semanal. As atletas são profissionais e têm que o fazer. Uma vantagem que tínhamos era que após os treinos tínhamos muito tempo para descansar e assim recuperar os esforços.
Aqui, as condições são outras. Vamos tentar rentabilizar ao máximo o tempo de treinos que tivermos e a disponibilidade de todas atletas que não são profissionais. Umas trabalham e outras estudam e desde logo, a disponibilidade é outra. O tempo de repouso, que é muito importante, cá, não haverá tanta possibilidade para usufruirmos dele. 
São realidades diferentes, mas conhecidas por todos e que será nesta realidade que iremos trabalhar. Em vez de treinarmos seis horas por dia, vamos treinar três.

A NOVA ÉPOCA

Quando começam os trabalhos?

Vamos fazer a apresentação da equipa no dia dois de Setembro, no Auditório do estádio do Bessa. Faço um apelo a que todos os adeptos, toda a gente e os Panteras marquem presença. Começaremos no dia quatro de Setembro os trabalhos para a nova época.

O plantel está fechado, ou ainda há alguma vaga?

Houve um objectivo, totalmente cumprido, que impus desde que assinei o contrato, que foi estabelecer um compromisso com a direção para que o plantel ficasse fechado até dia quinze de Julho. Com um trabalho incrível da direção, conseguimos esse obejctivo, que penso, foi a primeira vez que se alcançou. 
Agora só se nos aparecesse uma Cubana, uma Russa ou uma Brasileira de tope mundial é que poderíamos abrir. Estou a brincar. Está fechado!


Que meta a atingir em termos de tabela classificativa? O segundo grupo?

Desde que eu saí, o Boavista conseguiu a desejada e merecida subida de divisão. Consolidou-se muito bem na primeira divisão, tendo no primeiro ano, feito uma excelente época. Este ano, as coisas não correram tão bem, podendo-se ter feito melhor, mas todos nós, podemos, sempre, fazer melhor.
O objectivo, que todos temos, para a época é o grupo do meio. Existem quatro equipas muito fortes para este ano, estamos a falar do Leixões, o AVC, o Porto Volei, o Clube “K” fortíssimo. Depois temos o Belenenses, o Ribeirense que não sabemos o que nos vai apresentar. Acho que vai ser um campeonato muito mais equilibrado, mas aposto no Boavista a terminar no grupo do meio da tabela.

A REALIDADE E VERDADE COMPETITIVA

As equipas Açorianas, sendo formadas pela maioria de jogadoras estrangeiras, acabaram por provocar uma maior competitividade global, no voleibol feminino?


Têm dado um maior competitividade e têm feito bem ao voleibol. Existe muito a ideia -  que até eu defendia - que nos Açores só se contratam jogadoras estrangeiras. 
Isso é uma mentira. 
Eu, no Ribeirense apostei em contratar uma equipa só de portuguesas e não consegui. 
A verdade é que as portuguesas, não têm vontade de ir para os Açores. Ou por causa das aulas, ou por causa dos namorados, no final as portuguesas, não querem jogar nos Açores e assim os clubes têm que recorrer ao mercado estrangeiro.



E o nível sobe?

O facto de serem estrangeiras não quer dizer que sejam melhores que as portuguesas, gasta-se é mais dinheiro, mas não é seguro que a qualidade seja melhor. Umas vezes é, outras não é. 
O nível de jogo sobe, porque há mais jogadoras e o nível de divulgação do nosso voleibol também sobe, porque nos países de onde elas vêm passam a acompanhar principalmente via net o nosso campeonato.

O APOIO DOS ADEPTOS.

Todos reconhecem que entre o Pardalejo e os “Panteras Negras” há uma química. Na tua primeira passagem pelo Boavista eles davam grande apoio ao voleibol. O que agora não acontece. Esse apoio, vai ser reivindicado? 

Eu sou Pantera e tenho a pantera tatuada na perna! Uma das razões que me fizeram regressar ao Boavista é a moldura humana e a “Panterada” que está constantemente envolvida na vida do clube. Quando assinei, coloquei logo a questão que iria apostar e conseguir voltar a trazer os Panteras para o pavilhão, para apoiar a equipa. Temos que nos envolver com o público temos que os chamar, porque é isso que nos faz crescer. São eles que nos levam a vencer jogos que eram apontados como jogos de derrota.

Dizem que o Irene Lisboa, ficou um pouco retirado. Querias outro pavilhão para jogar?

Essa questão, não se coloca. Eu vejo os Panteras, a ir a Lisboa, ao Algarve, à Madeira, aos Açores, em grande número ver o futebol. Eu sei que é futebol, mas nós somos Voleibol e o Irene é aqui. 
No futebol veem vinte e dois gajos feios, e no Voleibol veem pelo menos doze raparigas bonitas e airosas a jogar.

Contas com esse regresso?

Brincadeiras à parte. Considero que o apoio deles é muito importante e fundamental. Vamos conseguir que eles voltem a estar presentes. Mais que terem o pessoal na bancada, as jogadoras gostam de sentir o calor o carinho de se jogar num clube grande.
Para convencer algumas atletas a ingressarem no Boavista, mostrei os vídeos das fases da segunda divisão de pavilhões cheios e entusiasmantes. Sei que elas reagiram a isso, porque jogar com este ambiente, só se consegue num clube grande como o Boavista. Era assim na segunda divisão porque não há-de ser assim na primeira divisão?
Eu dizia-lhes e - ainda agora sinto-me arrepiado ao repetir – minhas amigas, vocês têm três grandes clubes no voleibol nacional. Um deles é o Boavista com um historial incrível. Mostrei-lhes a imagens de pavilhão com tarjas, bandeiras, mais de uma centena de Panteras, criando um espetáculo incrível. A final do campeonato nacional deste ano. Mostrou um pavilhão do Leixões completamente cheio de cor vermelha e branca. O meu grande sonhe é ver esse pavilhão completamente cheio de cores preta e vermelha.  Branco quer o Leixões  Boavista têm e junto o preto e o vermelho. Encher com essas cores um pavilhão só estes clubes conseguem. Vamos trabalhar para isso.

PESSOAL

Depois de tanta actividade, o Paulo Pardelejo treina boxe no Boavista. Porquê o Boxe?

Já na primeira passagem pelo Boavista me dediquei ao Boxe. Sempre gostei da Arte, mas o jeito não ajuda muito. Aqui no boxe do Boavista há um ambiente fantástico que depois de o conhecer, não consegui sair. 
Ao contrario que muita gente pensa isto é um ambiente muito saudável e muito, mas mesmo muito bom, com um grande homem a gerir um grande número de atletas de diversas personalidades, mas que o Grande Carlos Caldas consegue gerir.

Para continuar?

Claro que sim. Só quem está cá é que conhece a família que o Boavista tem no boxe, com amizades puras.

Para terminar, lembro-me que te ajudei muito a preparar a parte psicológica das jogadoras, antes dos jogos. O Paulo Pardelejo continua a apostar nesse aspecto?

Com a evolução de todo o desporto, o que distingue o sermos bons ou sermos muito bons ou excelentes? 
A táctica, a técnica e questão física todos a têm ao adquirem. 
O que fica? A questão psicológica! 
Com uma cabecinha tranquila, o corpo vai estar tranquilo e vai render muito mais.

José Maria Pedroto, teve esta frase “o desporto é um estado de espírito. Se tens um problema em casa, diz-me porque não vale a pela colocar-te a jogar, enquanto não o superares”. Como a comentas?

Concordo. O voleibol é um estado de espírito. Eu gosto de me envolver com as atletas nos casos pessoais, de forma a conhece-las ao mais pequeno detalhe, para intervir em várias situações que acontecem. 
Às vezes uma situação com o namorado, com o marido, pode condicionar a postura e desempenho da atleta. Se ela sentir que o treino não será uma sobrecarga psicológica, mas pelo contrário um alívio. Com a mente bem e em paz, tudo se torna mais fácil.

Pronto para este desafio?

Mais que pronto… desejoso!