Continuação da entrevista com Rui Pereira
Se me
permite vestir o equipamento de treinador, eu analiso que o plantel do Boavista
é constituído por três escalões. Um de veteranos activos, comandado por um
enorme jogador de nome Ivan, depois por um grupo com alguma experiencia e
finalmente por jovens à procura do seu espaço. Com este misto, como se
constitui um plantel coeso?
Fez a imagem
correcta do plantel. Nós quando chegamos ao Boavista definimos que tínhamos três
grupos de jogadores - não vou utilizar nomes, mas podia, porque isto que vou
tornar público já lhes disse a eles – um conjunto muito veteranos, com muita
experiencia de primeira divisão, mas considerados (repito, considerados)
demasiados veteranos, comandados por um grande exemplo de longevidade (Ivan)
que há treze anos atrás fez parte da Selecção Portuguesa que conquistou o
terceiro lugar no campeonato mundial. Ivan é um exemplo que a análise que possa
ser feita às pessoas pelo seu bilhete de identidade pode ser completamente
errada. Este grupo de veteranos, normalmente já não compete a nível de primeira
divisão.
O segundo
grupo de jogadores em evolução.
Esse grupo é
composto por jogadores, que têm alguma experiencia de segunda divisão, onde
jogaram o ano passado. Muitos vieram das equipas de formação. E outros que com
alguma experiencia, que jogaram no Boavista na época de descida e atravessaram
a época passada no regresso ao primeiro escalão. Juntando a estes, um conjunto
de aquisições com experiencia na segunda e terceira, que nunca jogaram no
primeiro escalão.
De tudo se
fez uma boa equipa?
Conseguiu-se
um plantel agradável. O Boavista não tem feito uma utilização com cinco/seis
jogadores. Antes pelo contrário temos feito uma utilização bastante ampla, mais
que duas equipas completas a jogar.
Desculpe,
mas isso contraria de certo modo, a sua forma de utilização de um plantel, nos
tempos anteriores. A que se deve essa alteração de mentalidade competitiva, por
parte do Rui?
Antes de
mais, foi a minha forma de me adaptar, eu próprio à evolução da modalidade. Hoje
em dia o ritmo com que se joga na primeira divisão, é um ritmo completamente
diferente, com que se jogava no passado. A intensidade é muito mais forte e por
isso é mito difícil jogar toda uma época com base em cinco/seis jogadores. Para
além disso e da alteração que tive que impor aos meus métodos para me manter
actualizado e acompanhar a evolução da prova, que utilizei há duas épocas no
Modicus e agora no Boavista. Para além disto, dizia, tive que ter em conta as características
do plantel que tinha para trabalhar.
Como o
define?
É um plantel
bastante equilibrado, no qual tem havido poucas oscilações. Já tivemos diversos
jogadores jogar de início, diversos jogadores a jogar mais de vinte minutos e
não são sempre os mesmos. Quando um jogador vacila um pouco em termos de forma,
logo encontramos m para preencher essa lacuna temporária. Deixe-me dizer-lhe
que desde que cheguei ao Boavista, com grande alterações no plantel, o Boavista
fez apenas três contratações e uma delas ainda nem sequer foi utilizada. Utilizamos
muito do grupo que fez a ápoca anterior e pré-temporada com a equipa técnica anterior.
Então evoluíram
mentalmente muito! Porque no ano passado, mesmo comandando a classificação se
sentia, no grupo algum nervosos que eu próprio apelidei publicamente de
exagerado. Houve assim tal evolução?
No sei como
estavam anteriormente. O que lhe sei dizer é que têm estado ao nível das exigências.
Fizemos duas contratações, o Kukes eo Edivaldo e agora o Tiago Moreira, do
segundo escalão. É verdade que no meio do processo regressou ao grupo o Ricardo
Santos. Não houve, assim uma revolução muito grande e foi com base no grupo do
ano passado que se alicerçou o grupo de trabalho. Houve mais saídas que
entradas, mas estas foram muito direccionadas para os pontos considerados
importantes.
Rui, todos
os adeptos e atletas querem vencer (sempre) os jogos todos. A equipa técnica vai
apontar para jogos considerados vitais, ou encarar todos os jogos por igual?
A nossa
mentalidade, desde que aqui chegamos, foi definir com os atletas, que a nossa
classificação não iria ser decidida no jogo “x” ou “y”. Embora, sabendo que o
jogo com o Olivais, como o último jogo com o Belenenses, são jogos diferentes,
porque são adversários directos e os pontos que eles ganham entram na contagem
global que nos diz respeito. São jogos que quase valem seis pontos, pois são os
pontos que nós ganhamos e os pontos que eles não somam. Apesar dessa visão, nós
decidimos que não haveria jogos especiais, em todos os jogos podemos conquistar
pontos. Essa é a nossa postura na competição. O jogo do Braga é o melhor
exemplo disso. Se tivéssemos considerado que esse jogo não era do nosso campeonato,
pela excelente época do Braga, não conseguiríamos vencer e tão categoricamente
como o fizemos.
Mas falou no
jogo com o Olivais, porquê?
É um jogo
muito, muito importante. Se conseguirmos vencer lá, praticamente garantimos a
manutenção e podemos começar a pensar de outra forma para outros objectivos. No
caso de uma derrota nesse jogo, as coisas ficarão muito complicadas por mais
uns tempos.
Mas antes
disso há o jogo com o Benfica.
Sinceramente
gostava que os adeptos do Boavista fossem ver esse jogo, porque podem ter uma
agradável surpresa.
Concorda que
o campeonato está um bocado esquisito?
Normalmente,
uma equipa que estivesse no quinto lugar, como estamos, estaria tranquila. Teria
já o décimo primeiro e décimo segundo a uma distância pontual para já estar
tranquilo e preparar já, outro tipo de objectivos para a prova. O campeonato
não está assim. Há duas jornadas atrás, a diferença entre o sexto e o décimo
terceiro era de quatro pontos, portanto, com dois maus resultados seguidos e
tudo se poderia alterar profundamente. Agora esticou um pouco mais, a nossa distância
de quinto para a primeira equipa da posição de descida, é de oito pontos. Dois maus
resultados levam para a fase de manutenção, dois resultados positivos trazem a
equipa para o plau off.
Isso é uma
mensagem para os seus jogadores?
Exactamente,
exactamente! Para eles e para todos os interessados. Nada está ganho, estamos
muito bem, mas com nada garantido. Olhe o jogo com o Belenenses, dá para tirar
muitas ilações. O Boavista fez vinte e cinco minutos fantásticos, com toda a
agente a pensar numa goleada e o jogo estava para isso, mas com a reacção do
Belenenses o jogo terminou com um resultado banal.
O treinador
teve que trabalhar nos últimos dez minutos, para garantir a vitória num jogo em
que chegaram a ser muito superiores!
O treinador
teve que trabalhar e deve servir como um exemplo. Se nós virmos este jogo como
tem sido a nossa época. Se considerarmos que metade do campeonato e mais um
jogo, foram os vinte e cinco minutos do jogo com o Beleneneses e o que nos
falta são os últimos dez minutos desse mesmo jogo, só há uma certeza…
Que é…?
Descemos de
divisão! Vamos sofrer muito. O Boavista tem que manter os mesmos prossupostos
que nos trouxeram até aqui e com a mesma atitude, podemos fazer uma época
fantástica, se baixarmos, nem que seja um bocadinho, a guarda as coisas podem
complicar-se profundamente e para isso, que aqui estamos para evitar essa
situação.
Primeira volta
com dezassete pontos, se conseguirmos uma segunda volta igual.. dá…
Dá play off!
(interrompeu)
Mas com trinta
e quatro pontos, pode não jogar com nenhum dos primeiros dois… (Rui deu uma gargalhada e rematou a conversa)
Deixe-me,
terminar agradecendo o grande apoio dos adeptos do Boavista. Tem sido um apoio
fantástico e mais que lhes agradecer, quero dizer-lhes que são imprescindíveis
neste percurso e pedir-lhes para manter esse apoio em toda parte que nos falta.
Em nome de todo o grupo de trabalho lhes agradeço.
Entrevista de
Manuel Pina