Morais Gomes, é um Boavisteiro de longa data, que assumiu a liderança do Departamento de
Hóquei em Patins e tem para o futuro a curto prazo, a implementação de um
projecto para o hóquei no clube.
O CIDADÃO/DESPORTISTA
Primeiro, vamos
conhecer Morais Gomes?
Sou boavisteiro
desde que me conheço, joguei hóquei em patins no Boavista até ao escalão de
seniores. No ano que o Boavista encerrou a modalidade no clube, nós tínhamos uma
equipa constituída e com o fim do hóquei no clube, fomos todos jogar no
Mocidade de Massarelos, jogando no ringue Águias do Porto, essa equipa durou
ainda dois anos. Joguei em vários clubes, no Famalicense, Riba D´ave, Águias do
Porto, Invicta de Massarelos. Fui sempre um homem ligado ao hóquei. Como já
referi fiz parte da equipa quando o Boavista acabou com a modalidade, que penso
coincidiu com a passagem do Major para o futebol. Nesse ano fecharam várias
modalidades.
Terminada a
carreira de jogador, passou a ser treinador?
Sim, mas
antes estive alguns anos sem qualquer actividade e quando passei a residir em
Alfena e como é terra de hóquei aderi ao cargo de treinador. Depois de alguns
anos assumi o cargo de coordenador do hóquei do Alfena.
Na mesa como técnico axadrezado |
A PROJECTO DO BOAVISTA
Vamos começar
por colocar a pergunta que todos querem ver respondida. Como começou este
projecto de fazer regressar a modalidade ao Boavista?
Tenho que
dizer, para começar, que apanhei isto a meio. Tanto quanto sei, houve um adepto de
hóquei e associado do clube que propôs ao, na altura presidente, Álvaro Braga,
o regresso da modalidade ao clube. A resposta foi positiva com a condição de
isso, não trazer qualquer despesa para o Boavista. Apenas foi pedido ao clube o
fornecimento de equipamentos, camisola, calções e meias.
Como entra,
então o senhor Morais no projecto?
Eu sou um
homem da modalidade e sou o Coordenador das escolas de hóquei do Alfena, mas
Boavisteiro desde que me conheço. Vou muitas vezes ao Bessa. Numa dessas vezes,
tive conhecimento, que andavam a treinar no Bessa, hóquei em patins. Fiquei surpreendido
e sabendo que não havia condições para se treinar no estádio, mandei informar
as pessoas responsáveis, do meu telefone
e dizer-lhes que se estivessem interessados lhe conseguiria organizar uns
treinos em Alfena. Os responsáveis deslocaram-se a Alfena e como eu sou o responsável
pelas instalações, consegui-lhes espaço para realizarem os treinos que tinha prometido.
Com os contactos e conversas que obviamente acabaram por acontecer, soube da
situação da equipa. Soube que treinavam e jogavam no Infante mas só a partir
das vinte e três horas e só uma hora por semana. Estudamos várias soluções de
disponibilidade e pediram-me se poderiam treinar em Alfena, pagando o aluguer
do pavilhão e assim começou a minha aproximação ao grupo boavisteiro.
Quem era a
pessoa que representava o Boavista. Era o vice-presidente das Amadoras da
altura?
Não. A pessoa
responsável pelo Boavista com quem tratei todo o processo era o senhor Egídio,
que na altura era também jogador da equipa.
Conclusão?
Consegui junto
ao Centro Paroquial e Social de Alfena, que é a proprietária do pavilhão um
valor razoável para o Boavista, mudar a sua casa para lá. Devo dizer, que por
um valor simbólico… mas simbólico mesmo! (riu-se). Qual não é o meu espanto
quando ao fim de três ou quatro meses, tive conhecimento que não se tinha pagão
nem sequer um tostão! Neste caso nem era o Boavista que estava em causa, era
uma pessoa e era o meu nome que estava em causa… era comigo. Fiquei bastante
surpreendido, porque sei e continua a ser assim actualmente, os jogadores pagam
para jogar, uma mensalidade que nessa altura era de cinquenta euros, cada.
E então
viu-se obrigado a tomar uma posição?
Teve que ser,
fiquei eu com a questão! E resolvia com a ajuda da Associação de Amigos do
Boavista.
O hóquei tem
uma relação muito próxima com a associação de amigos. Confirma?
Passamos a
ter através de mim. Na Associação estão pessoas que eu já conhecia e outras que
passei a conhecer como o Senhor Carlos Pereira, que não conhecia.
Resolveu definitivamente
a questão?
Como ia
dizendo, com a ajuda da Associação resolveu-se a questão entre os dois clubes. Entretanto,
com tudo isto, acabei por conhecer os rapazes e – sem o desejar – fazer um
parte do grupo. Como consequência dessa aproximação, eles fizeram um repto ao
qual fui incapaz de recusar, por duas razões. A primeira porque é um grupo
fantástico, deixe-me acrescentar que sou amigo e tenho grande consideração pelo
António Marques, o actual Vice-presidente do Boavista, a quem tenho convidado
para ir ver uns jogos e conhecer todo o grupo do hóquei, para ele os conhecer,
são realmente fantásticos. A segunda razão que me levou a aceitar o convite é
que sou um homem do hóquei e tudo junto… aceitei.
E passa a
ser o Director do hóquei axadrezado. E impõe os seus conhecimentos. Foi isso?
Tudo passava
por uma base estruturada, tudo passava por eu me reunir com quem nos podia
ajudar e sei que o faria, dentro das suas possibilidades.
Quem?
A associação
de Amigos do Boavista!
Qual o
contracto que assinaram?
A Associação
adiantou um valor para obras no piso do nosso pavilhão de Alfena e o restante,
acordado está a ser pago, rigorosamente, todos os meses como acordado. Esse dinheiro
vai direitinho para o empreiteiro a quem, como garantia, a minha palavra que pagaríamos.
Juntando os valores em dívida para com o Alfena. Em troca eu reservei-lhes
espaço para treinos e jogos no pavilhão.
É quase,
pode dizer-se uma forma de pagar o aluguer?
Exactamente.
A Associação ajudou-nos a realizar as obras indispensáveis e nós pagamos a
nossa parte com cedência de espaços para treinos e jogos. Deixe-me acrescentar
que também a equipa do desporto adaptado treina em alfena. Foi um acordo útil
para as das partes e fácil de cumprir. Quando estamos com pessoas de bem tudo
acaba por ser fácil. Actualmente a direcção do Alfena trata o Boavista como
sendo o nosso clube. São os nossos seniores! É que a direcção do Alfena diz sobre
o Boavista. O Boavista tem no pavilhão os mesmo direitos que o Alfena.
Esclareça-nos
sobre um ponto. Nesta direcção já é reconhecido como Director do hóquei?
Sim. Com a
entrada do Eng. António Marques eu fui nomeado por ele, como Director do
Boavista, antes eu era um colaborador, quase imposto pela Associação, que via
em mim o elo de ligação entre os dois clubes e a pessoa em quem podia confiar.
O FUTURO
Qual o
futuro que espera conseguir para o hóquei do Boavista?
O hóquei já
não se compadece e sobrevive com carolices, como todo o desporto. Quando se
quer ganhar, temos que ter ovos para fazer as omeletas, nós temos um grupo
fantástico e nele, temos três ou quatro jogadores que são de eleição, até,
posso dizê lo. Mas para jogar a determinado nível, precisamos de mais, uma equipa
não se faz com quatro jogadores. Temos os outros rapazes que estão a ganhar
conhecimento e que no futuro serão fundamentais, mas precisamos de mais. Nos dois
últimos jogos, só não ganhamos porque tivemos um jogador importante, lesionado.
Mas isso tem sido quase sempre assim, porque nos têm faltado… sempre aquele bocadinho.
Eu acho que o Boavista é um clube ecléctico e de formação! A minha grande
aposta no futuro é fazer uma escola de hóquei no Boavista.
Considera viável,
nesta situação actual?
Tenho no
grupo gente capaz e que ajudará nisso e considero, não só viável, como
determinante para o futuro.
E o
pavilhão?
Não conheço
ao pormenor, mas dizem-me que dentro do estádio do Bessa há espaços para se
poder trabalhar numa escola de hóquei em patins. Vou tentar conhecer melhor o
estádio para avançar com a ideia. Eu estou a treinar miúdos com oito anos, no
Alfena e no Boavista, eu com meia dúzia de meses conseguia uma equipazinha a
rolar. Isso é que é o futuro. E mais… e paga a equipa de hóquei. É importante
ter seniores que são a montra do clube. Dou-lhe como exemplo, o Alfena não tem
equipa sénior e os miúdos dos juvenis já me disseram que o objectivo quando
atingirem a idade é passaram para os seniores do Boavista.
Vai apostar,
na escola?
É o meu
grande objectivo! Eu com um curto
espaço, posso formar uma escola de hóquei e formar jogadores para o futuro. O hóquei
é um desporto caro, mas não tão caro quanto isso! Eu verifico o que se paga para
praticar natação, ginástica etc… e chego à conclusão se paga lá, também se pode
pagar no hóquei e esses valores serão os mesmos. Conheço clubes, por exemplo,
os nossos vizinhos do Infante, em que as equipas seniores, são sustentados
pelas equipas de miúdos. O nome do Boavista vende-se, ninguém tenha a mínima dúvida
disso. Tenho recebido telefonemas de jogadores a pedirem-me para jogarem no
Boavista… a pedirem! Um jovem que não jogava há oito anos, que esteve a servir
a Polícia em Lisboa, ainda é jovem, voltou para a nossa zona e telefonou,
porque queria voltar a jogar oficialmente e queria fazê-lo no Boavista. Aceitamos
e posso dizer, foi uma das boas aquisições que fizemos para este ano.
Isso causa-lhe
problemas organizativos’
O grande
problema é outro. Um jogador que queria vir para o Boavista só tem duas
hipóteses, ou tem mais de trinta anos e não precisa de pagar a transferência,
ou termina nesse ano o escalão de júnior e vai fazer a primeira época de
sénior. Se não for este o caso, pagam por jogador quatrocentos e oitenta euros!
Assim, só posso aceitar jogadores livres e que venham eles. Este ano temos no
plantel, três novos jogadores, um era do Vigorosa de juniores… entrou. Outro era
do Vigorosa que acabou e por isso… entrou e o outro, era o tal que não jogava há oito anos e pode
entrar!
Vamos falar
da próxima época. Já me disse que o Boavista não deverá participar no campeonato
Nacional da terceira divisão. Qual a solução?
Nós vamos
competir oficialmente, isso é certo. Mas talvez não na terceira divisão e isso
porquê? O campeonato nacional da terceira divisão trás enormes despesas, com
inscrições, organização de jogos e policiamento, para uma prova que não tem
mais que seis equipas. Deveremos optar por este campeonato regional, que é uma
prova muito forte, com doze equipas que começou há um mês atrás e acaba em
Junho e muito competitivo.
Assim teriam
que alterar as datas das competições?
Ao fim, e ao
cabo, vamos fazer o que fizeram os clubes da grande Lisboa que não se
inscreveram no chamado nacional e optaram pelo campeonato regional. Cada jogo
do nacional, custa-nos trezentos e cinquenta euros, quando a maior parte dos
jogos temos cinquenta pessoas na bancada. No campeonato regional, pagamos
apenas a inscrição e quase se pode dizer é um campeonato de borla.
Esta será a solução,
até chegarem outros tempos?
É evidente! Quando
chegarem os tempos de subirmos, não será difícil formarmos uma equipa para
subir e não para ficarmos na terceira
divisão. Digo-lhe que as equipas da terceira são equivalentes às da segunda
divisão. Enquanto nós pagamos para jogar, existem equipas que pagam aos
jogadores. Por isso, essa será a realidade do futuro, mas para já vamos construir
a obra, com uma base segura.
É uma
realidade…
Pois, mas que
tende a acabar, eu costumo dizer aos jogadores, se vocês gostam de hóquei,
venham para aqui. Se deixarem o hóquei terão que ir para um ginásio e acabarão
por gastar esse valor. Então juntem o útil ao prazer e façam o que gostam. Aqui
no Boavista, baixamos o que se pagava de mensalidade do ano passado para este. No
ano passado pagávamos cinquenta euros e esta ano pagamos trinta euros. Isto só
é possível porque temos o tal protocolo com o Centro Paroquial e Social de
Alfena.
Vamos
trabalhar para o futuro?
Sim e para
começar terei que encontrar o espaço no Bessa para começarmos a escolinha de hóquei
do Boavista… isso é o futuro.
Entrevista
de
Manuel Pina