segunda-feira, 1 de abril de 2013

ENTREVISTA COM MORAIS GOMES, DIRECTOR DO HÓQUEI EM PATINS



Morais Gomes, é um Boavisteiro de longa data, que assumiu a liderança do Departamento de Hóquei em Patins e tem para o futuro a curto prazo, a implementação de um projecto para o hóquei no clube.

O CIDADÃO/DESPORTISTA
Primeiro, vamos conhecer Morais Gomes?
Sou boavisteiro desde que me conheço, joguei hóquei em patins no Boavista até ao escalão de seniores. No ano que o Boavista encerrou a modalidade no clube, nós tínhamos uma equipa constituída e com o fim do hóquei no clube, fomos todos jogar no Mocidade de Massarelos, jogando no ringue Águias do Porto, essa equipa durou ainda dois anos. Joguei em vários clubes, no Famalicense, Riba D´ave, Águias do Porto, Invicta de Massarelos. Fui sempre um homem ligado ao hóquei. Como já referi fiz parte da equipa quando o Boavista acabou com a modalidade, que penso coincidiu com a passagem do Major para o futebol. Nesse ano fecharam várias modalidades.

Terminada a carreira de jogador, passou a ser treinador?
Sim, mas antes estive alguns anos sem qualquer actividade e quando passei a residir em Alfena e como é terra de hóquei aderi ao cargo de treinador. Depois de alguns anos assumi o cargo de coordenador do hóquei do Alfena.

Na mesa como técnico axadrezado

A PROJECTO DO BOAVISTA
Vamos começar por colocar a pergunta que todos querem ver respondida. Como começou este projecto de fazer regressar a modalidade ao Boavista?
Tenho que dizer, para começar, que apanhei isto a meio. Tanto quanto sei, houve um adepto de hóquei e associado do clube que propôs ao, na altura presidente, Álvaro Braga, o regresso da modalidade ao clube. A resposta foi positiva com a condição de isso, não trazer qualquer despesa para o Boavista. Apenas foi pedido ao clube o fornecimento de equipamentos, camisola, calções e meias.

Como entra, então o senhor Morais no projecto?
Eu sou um homem da modalidade e sou o Coordenador das escolas de hóquei do Alfena, mas Boavisteiro desde que me conheço. Vou muitas vezes ao Bessa. Numa dessas vezes, tive conhecimento, que andavam a treinar no Bessa, hóquei em patins. Fiquei surpreendido e sabendo que não havia condições para se treinar no estádio, mandei informar as  pessoas responsáveis, do meu telefone e dizer-lhes que se estivessem interessados lhe conseguiria organizar uns treinos em Alfena. Os responsáveis deslocaram-se a Alfena e como eu sou o responsável pelas instalações, consegui-lhes espaço para realizarem os treinos que tinha prometido. Com os contactos e conversas que obviamente acabaram por acontecer, soube da situação da equipa. Soube que treinavam e jogavam no Infante mas só a partir das vinte e três horas e só uma hora por semana. Estudamos várias soluções de disponibilidade e pediram-me se poderiam treinar em Alfena, pagando o aluguer do pavilhão e assim começou a minha aproximação ao grupo boavisteiro.

Quem era a pessoa que representava o Boavista. Era o vice-presidente das Amadoras da altura?
Não. A pessoa responsável pelo Boavista com quem tratei todo o processo era o senhor Egídio, que na altura era também jogador da equipa.
Conclusão?
Consegui junto ao Centro Paroquial e Social de Alfena, que é a proprietária do pavilhão um valor razoável para o Boavista, mudar a sua casa para lá. Devo dizer, que por um valor simbólico… mas simbólico mesmo! (riu-se). Qual não é o meu espanto quando ao fim de três ou quatro meses, tive conhecimento que não se tinha pagão nem sequer um tostão! Neste caso nem era o Boavista que estava em causa, era uma pessoa e era o meu nome que estava em causa… era comigo. Fiquei bastante surpreendido, porque sei e continua a ser assim actualmente, os jogadores pagam para jogar, uma mensalidade que nessa altura era de cinquenta euros, cada.
E então viu-se obrigado a tomar uma posição?
Teve que ser, fiquei eu com a questão! E resolvia com a ajuda da Associação de Amigos do Boavista.

O hóquei tem uma relação muito próxima com a associação de amigos. Confirma?
Passamos a ter através de mim. Na Associação estão pessoas que eu já conhecia e outras que passei a conhecer como o Senhor Carlos Pereira, que não conhecia.
Resolveu definitivamente a questão?
Como ia dizendo, com a ajuda da Associação resolveu-se a questão entre os dois clubes. Entretanto, com tudo isto, acabei por conhecer os rapazes e – sem o desejar – fazer um parte do grupo. Como consequência dessa aproximação, eles fizeram um repto ao qual fui incapaz de recusar, por duas razões. A primeira porque é um grupo fantástico, deixe-me acrescentar que sou amigo e tenho grande consideração pelo António Marques, o actual Vice-presidente do Boavista, a quem tenho convidado para ir ver uns jogos e conhecer todo o grupo do hóquei, para ele os conhecer, são realmente fantásticos. A segunda razão que me levou a aceitar o convite é que sou um homem do hóquei e tudo junto… aceitei.

E passa a ser o Director do hóquei axadrezado. E impõe os seus conhecimentos. Foi isso?
Tudo passava por uma base estruturada, tudo passava por eu me reunir com quem nos podia ajudar e sei que o faria, dentro das suas possibilidades.
Quem?
A associação de Amigos do Boavista!
Qual o contracto que assinaram?
A Associação adiantou um valor para obras no piso do nosso pavilhão de Alfena e o restante, acordado está a ser pago, rigorosamente, todos os meses como acordado. Esse dinheiro vai direitinho para o empreiteiro a quem, como garantia, a minha palavra que pagaríamos. Juntando os valores em dívida para com o Alfena. Em troca eu reservei-lhes espaço para treinos e jogos no pavilhão.
É quase, pode dizer-se uma forma de pagar o aluguer?
Exactamente. A Associação ajudou-nos a realizar as obras indispensáveis e nós pagamos a nossa parte com cedência de espaços para treinos e jogos. Deixe-me acrescentar que também a equipa do desporto adaptado treina em alfena. Foi um acordo útil para as das partes e fácil de cumprir. Quando estamos com pessoas de bem tudo acaba por ser fácil. Actualmente a direcção do Alfena trata o Boavista como sendo o nosso clube. São os nossos seniores! É que a direcção do Alfena diz sobre o Boavista. O Boavista tem no pavilhão os mesmo direitos que o Alfena.

Esclareça-nos sobre um ponto. Nesta direcção já é reconhecido como Director do hóquei?
Sim. Com a entrada do Eng. António Marques eu fui nomeado por ele, como Director do Boavista, antes eu era um colaborador, quase imposto pela Associação, que via em mim o elo de ligação entre os dois clubes e a pessoa em quem podia confiar.

O FUTURO
Qual o futuro que espera conseguir para o hóquei do Boavista?
O hóquei já não se compadece e sobrevive com carolices, como todo o desporto. Quando se quer ganhar, temos que ter ovos para fazer as omeletas, nós temos um grupo fantástico e nele, temos três ou quatro jogadores que são de eleição, até, posso dizê lo. Mas para jogar a determinado nível, precisamos de mais, uma equipa não se faz com quatro jogadores. Temos os outros rapazes que estão a ganhar conhecimento e que no futuro serão fundamentais, mas precisamos de mais. Nos dois últimos jogos, só não ganhamos porque tivemos um jogador importante, lesionado. Mas isso tem sido quase sempre assim, porque nos têm faltado… sempre aquele bocadinho. Eu acho que o Boavista é um clube ecléctico e de formação! A minha grande aposta no futuro é fazer uma escola de hóquei no Boavista.
Considera viável, nesta situação actual?
Tenho no grupo gente capaz e que ajudará nisso e considero, não só viável, como determinante para o futuro.
E o pavilhão?
Não conheço ao pormenor, mas dizem-me que dentro do estádio do Bessa há espaços para se poder trabalhar numa escola de hóquei em patins. Vou tentar conhecer melhor o estádio para avançar com a ideia. Eu estou a treinar miúdos com oito anos, no Alfena e no Boavista, eu com meia dúzia de meses conseguia uma equipazinha a rolar. Isso é que é o futuro. E mais… e paga a equipa de hóquei. É importante ter seniores que são a montra do clube. Dou-lhe como exemplo, o Alfena não tem equipa sénior e os miúdos dos juvenis já me disseram que o objectivo quando atingirem a idade é passaram para os seniores do Boavista.

Vai apostar, na escola?
É o meu grande objectivo! Eu  com um curto espaço, posso formar uma escola de hóquei e formar jogadores para o futuro. O hóquei é um desporto caro, mas não tão caro quanto isso! Eu verifico o que se paga para praticar natação, ginástica etc… e chego à conclusão se paga lá, também se pode pagar no hóquei e esses valores serão os mesmos. Conheço clubes, por exemplo, os nossos vizinhos do Infante, em que as equipas seniores, são sustentados pelas equipas de miúdos. O nome do Boavista vende-se, ninguém tenha a mínima dúvida disso. Tenho recebido telefonemas de jogadores a pedirem-me para jogarem no Boavista… a pedirem! Um jovem que não jogava há oito anos, que esteve a servir a Polícia em Lisboa, ainda é jovem, voltou para a nossa zona e telefonou, porque queria voltar a jogar oficialmente e queria fazê-lo no Boavista. Aceitamos e posso dizer, foi uma das boas aquisições que fizemos para este ano.

Isso causa-lhe problemas organizativos’
O grande problema é outro. Um jogador que queria vir para o Boavista só tem duas hipóteses, ou tem mais de trinta anos e não precisa de pagar a transferência, ou termina nesse ano o escalão de júnior e vai fazer a primeira época de sénior. Se não for este o caso, pagam por jogador quatrocentos e oitenta euros! Assim, só posso aceitar jogadores livres e que venham eles. Este ano temos no plantel, três novos jogadores, um era do Vigorosa de juniores… entrou. Outro era do Vigorosa que acabou e por isso… entrou e o outro, era  o tal que não jogava há oito anos e pode entrar!

Vamos falar da próxima época. Já me disse que o Boavista não deverá participar no campeonato Nacional da terceira divisão. Qual a solução?
Nós vamos competir oficialmente, isso é certo. Mas talvez não na terceira divisão e isso porquê? O campeonato nacional da terceira divisão trás enormes despesas, com inscrições, organização de jogos e policiamento, para uma prova que não tem mais que seis equipas. Deveremos optar por este campeonato regional, que é uma prova muito forte, com doze equipas que começou há um mês atrás e acaba em Junho e muito competitivo.

Assim teriam que alterar as datas das competições?
Ao fim, e ao cabo, vamos fazer o que fizeram os clubes da grande Lisboa que não se inscreveram no chamado nacional e optaram pelo campeonato regional. Cada jogo do nacional, custa-nos trezentos e cinquenta euros, quando a maior parte dos jogos temos cinquenta pessoas na bancada. No campeonato regional, pagamos apenas a inscrição e quase se pode dizer é um campeonato de borla.

Esta será a solução, até chegarem outros tempos?
É evidente! Quando chegarem os tempos de subirmos, não será difícil formarmos uma equipa para subir e não para ficarmos  na terceira divisão. Digo-lhe que as equipas da terceira são equivalentes às da segunda divisão. Enquanto nós pagamos para jogar, existem equipas que pagam aos jogadores. Por isso, essa será a realidade do futuro, mas para já vamos construir a obra, com uma base segura.
É uma realidade…
Pois, mas que tende a acabar, eu costumo dizer aos jogadores, se vocês gostam de hóquei, venham para aqui. Se deixarem o hóquei terão que ir para um ginásio e acabarão por gastar esse valor. Então juntem o útil ao prazer e façam o que gostam. Aqui no Boavista, baixamos o que se pagava de mensalidade do ano passado para este. No ano passado pagávamos cinquenta euros e esta ano pagamos trinta euros. Isto só é possível porque temos o tal protocolo com o Centro Paroquial e Social de Alfena.

Vamos trabalhar para o futuro?
Sim e para começar terei que encontrar o espaço no Bessa para começarmos a escolinha de hóquei do Boavista… isso é o futuro.

Entrevista de

Manuel Pina